IEDI na Imprensa - Retração em investimentos e indústria dificulta recuperação
O Globo
Analistas apontam ociosidade elevada e crédito restrito como entrave
Lucianne Carneiro, Daiane Costa e Daniel Gullino*
Depois de ensaiar uma melhora no segundo trimestre, indústria e investimentos decepcionaram e, de julho a setembro, voltaram a recuar, anulando os ganhos. A indústria subiu 1,2% no segundo trimestre do ano, em relação ao anterior, e agora caiu 1,3%. Os investimentos saíram de uma alta de 0,5% para um recuo de 3,1%, na mesma comparação — e, em três anos, acumulam queda de 27,7%, segundo cálculo do banco de investimentos Goldman Sachs. Com isso, está no mesmo nível registrado no segundo trimestre de 2009.
Na avaliação de Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman para a América Latina, esse movimento afeta o crescimento da produtividade, reduz o potencial de crescimento da economia brasileira e dificulta a recuperação.
— Precisaríamos de um impulso mais significativo para compensar essa piora acentuada dos últimos três anos. Os investimentos vão voltar a crescer na margem em 2017, mas não de forma vigorosa em termos de PIB potencial — analisa Rodolfo Margato, economista do Santander.
Já o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, não vê qualquer sinal de que a queda dos investimentos vá parar:
— A ociosidade segue elevada, as condições de crédito continuam apertadas e a agenda de concessões está atrasada. Na prática, o investimento em infraestrutura pouco andou.
‘SUSPIRO’ NO 2º TRIMESTRE
Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC, diz que a ajuda dos investimentos para o PIB vai demorar mais. Por isso, segundo ele, “está todo mundo revendo para baixo as projeções para 2017.”
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rafael Cagnin, a alta do investimento no segundo trimestre foi apenas marginal e não se espera uma reação mais forte até que haja uma combinação entre melhora das expectativas e uma trajetória efetiva dos indicadores:
— Depois de cair tanto, tivemos algum aumento marginal de investimento, mas agora a gente volta ao que é normalidade. Nosso receio sempre foi que o segundo trimestre houvesse sido um suspiro. Não há fundamentos econômicos para ter retomada dos investimentos. Faltam indícios de uma melhora efetiva dos indicadores.
Sem capital. Camila Biazini, diretora da rede de pizzarias Dídio, reclama da falta de crédito: “Não consigo investir” - Edilson Dantas / Agência O Globo
A escassez de crédito foi o maior impeditivo para a empresária Camila Biazini, diretora da Dídio, expandir sua rede de pizzarias, com 26 lojas no estado de São Paulo. Segundo ela, que transformou o negócio em uma rede de franquias, o número de lojas não cresceu por causa das “dificuldades que os bancos têm imposto, como garantias maiores, às pessoas jurídicas”.
— Não consigo investir. Como 2015 não nos gerou caixa, não temos capital de giro e dependemos da disponibilidade de crédito dos bancos para crescer — diz Camila.
O setor industrial é outro que mantém os investimentos na gaveta. Fornecedora de fresas para corte de plástico para a indústria automotiva, a J.C. Ferramentas de Corte e Usinagem deixou de investir em maquinário em 2013 — quando a venda de veículos começou a declinar — e não tem previsão de retomada dos planos até o ano que vem.
— Enquanto não houver retomada da economia, não tem sentido investir. As vendas e, consequentemente, o faturamento caíram 80%. Os funcionários, que eram 18, agora são três — conta Lucas Menezes dos Santos, executivo e porta-voz da empresa, que existe há 15 anos.
EXTRATIVA MINERAL AVANÇA
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, observa que os dados ruins da indústria em outubro, em razão de paradas de produção no setor automotivo, foram determinantes para a queda de 0,8% no PIB frente ao trimestre anterior. De todos os subsetores da indústria, o único a registrar expansão foi a extrativa mineral, de 3,8%, graças à produção de petróleo, depois de um segundo trimestre marcado por paradas técnicas.
Para 2017, Margato ressalta que segmentos atrelados ao agronegócio, que deve ir bem, como produção de alimentos, de celulose, de produtos de madeira, de couro, e de biocombustíveis, têm chances maiores de voltar a crescer.
*Estagiário sob supervisão de Lucianne Carneiro e Daiane Costa