IEDI na Imprensa - Importações Têm Menor Queda Desde 2014
Publicado em: 02/09/2016
Importações Têm Menor Queda Desde 2014
Valor Econômico – 02/09/2016
Lucas Marchesini, Cristiane Bonfanti e Marta Watanabe
Uma leve recuperação das importações em agosto pode indicar que a economia está começando a se reerguer. Na comparação entre agosto deste ano e o mesmo mês de 2015 houve uma redução de 8,3%. Apesar de continuar caindo, essa é a menor retração na comparação anual desde novembro de 2014. No acumulado do ano a queda das importações é de 25,5%, sempre no critério da média diária.
"Já pode ser sinal que estamos consumindo um pouco mais de bens importados", avaliou o diretor do Departamento de Estatística e Apoio à Exportação do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Herlon Brandão.
Analistas concordam que a desaceleração na queda das importações pode indicar o início da recuperação da economia, mas também creditam parte dela à apreciação do real frente ao dólar. "A movimentação do câmbio tem efeito muito mais imediato nas importações", afirma Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Essa reação de agosto, diz Barral, já mostra o efeito que a recuperação da economia esperada para 2017 pode ter nas importações. "O que é preocupante é que o aumento de demanda poderá ser preenchido pela importação e não pela indústria doméstica, que está com muita ociosidade."
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (IEDI), diz que o cenário acende um "sinal amarelo". A partir de agora, avalia, o saldo comercial positivo, até agora promovido em grande parte pela queda intensa das importações, irá depender muito das exportações.
"À medida que a economia se estabilize, é natural que as importações deixem de cair em ritmo acelerado, fazendo da evolução das exportações a variável fundamental para a continuidade do ajuste externo." Nos últimos meses, ressalta Cagnin, parte da sustentação dos embarques se deu pelos manufaturados, diz ele, mas é incerta a evolução dessa exportação com a recente apreciação do real frente ao dólar.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o efeito mais imediato se dará no superávit comercial deste ano. "A menos que aconteça algo muito surpreendente, há pouca possibilidade de se superar o recorde de saldo de US$ 46,46 bilhões obtido em 2006. Ele conta que as projeções da AEB, que antes indicavam saldo em torno de US$ 47 bilhões, já mostram tendência mais próxima de superávit de US$ 40 bilhões para este ano.
Para 2017, afirma Castro, a busca do superávit será um desafio ainda maior. Ele avalia que as exportações no ano que vem devem manter-se praticamente estáveis, enquanto as importações deverão subir 10%.
Ao indicar a recuperação, Brandão, do Mdic, destacou que o comportamento da importação de bens intermediários importados, que em agosto deste ano atingiu quase o mesmo valor no quesito da média diária de 2015. A retração nesse caso foi de 0,5%. Ele também ressaltou que esse é o terceiro mês seguido no qual a média mensal das importações é maior do que a média anual.
O mesmo, entretanto, não pode ser dito dos bens de capital, cujos desembarques caíram 31% na comparação entre agosto deste ano e igual período e 2015. "Na recuperação econômica os empresários vão procurar usar a capacidade instalada. É difícil que ocorram grandes novos investimentos. Por enquanto, não há efeito de aumento de investimento", disse Brandão.
A balança comercial teve saldo positivo de US$ 4,140 bilhões em agosto, o melhor resultado para o mês desde 2006, quando o superávit atingiu US$ 4,554 bilhões. Ao longo do mês passado foram exportados US$ 16,989 bilhões em bens ao exterior. As importações atingiram US$ 12,849 bilhões. No acumulado, a balança já soma US$ 32,370 bilhões, melhor resultado para o período de janeiro a agosto desde o início da série histórica, em 1989.
A expectativa do ministério é que a balança termine 2016 com m saldo positivo de até US$ 50 bilhões, o que se tornaria o melhor resultado da história da balança comercial. Apesar de manter a expectativa para o saldo comercial, Brandão reconheceu que devem ser revistas as projeções de exportações e importações. Isso porque as vendas para o exterior registram queda de 4,9% na comparação entre os oito primeiros meses de 2016 e igual período de 2015.
A previsão é de estabilidade ou alta nos embarques internacionais. Brandão não afirmou que a projeção será revisada para baixo. "Ainda não foi revista a questão da exportação. Temos oito meses, o cenário está bem delimitado", disse.
A queda na comparação do acumulado do ano não reflete o que aconteceu em agosto, já que as vendas internacionais cresceram 0,2% contra igual mês de 2015. Essa leve alta é o resultado de três movimentos distintos: queda nas exportações de produtos básicos (-9,8%) e aumento nas vendas de semimanufaturados (13,6%) e manufaturados (7,6%).