IEDI na Imprensa - Produção Industrial Sobe Pelo 5º Mês
Publicado em: 03/09/2016
Produção Industrial Sobe Pelo 5º Mês
O Estado de São Paulo - 03/09/2016
Setor registrou leve aumento de 0,1% em julho em relação a junho, segundo o IBGE; retomada, porém, ainda é considerada tímida
Nathália Larghi, Álvaro Campos e Gustavo Porto
A produção industrial brasileira registrou a quinta alta mensal consecutiva, ao avançar 0,1% entre junho e julho, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2012 o setor não registrava cinco altas seguidas. Mas, o movimento ainda é tímido, longe de conseguir recuperar as perdas registradas ao longo do ano passado.
Em relação a julho de 2015, a produção caiu 6,6%, a 28.ª queda consecutiva. No ano, mesmo com a sequência positiva dos últimos cinco meses, a produção encolheu 8,7%.
Outro sinal de retomada fraca foi o fato de que 13 dos 24 ramos da indústria apresentarem queda em julho. “Agora, o que chama atenção é a frequência maior de taxas negativas entre as atividades”, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Segundo Macedo, o crescimento da produção é explicado por melhoras pontuais em segmentos específicos. É o caso dos bens intermediários, que registraram 1,6% de alta na comparação mensal, puxada pelo crescimento de 2% dos produtos alimentícios, após dois meses de queda.
Outra categoria que registrou alta em julho em relação a junho foi a de bens de consumo duráveis: 3,3%, com forte influência do aumento na produção dos eletrodomésticos de linha marrom, nos automóveis e nas motocicletas – embora a queda nos caminhões tenha diminuído a produção de veículos automotores de uma maneira geral.
Estoques. Outra explicação para o crescimento pouco expressivo está no ajuste dos estoques. Segundo Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), alguns dos setores que registraram queda podem ter adaptado o nível de produção frente a um acúmulo de estoque. “Quando você tem um crescimento forte em um mês, é normal que posteriormente tenha uma queda. Podemos perceber isso na produção de calçados, que cresceu em junho e agora caiu”, diz.
O setor automotivo também é um exemplo de como os estoques podem influenciar na produção industrial. Julio Hegedus Netto, economista-chefe da consultoria Lopes Filho & Associados, lembra que, após receber incentivo nos anos anteriores e mostrar crescimento em maio e junho, o setor voltou a se retrair, o que pode ser um sinal de adaptação à demanda menor. “Agora eles estão se ajustando, estão tirando o artificialismo”, disse.
Sinal. Assim como o gerente do IBGE, Netto não vê a alta de 0,1% da indústria como um sinal de recuperação, já que a produção de bens de capital mostrou redução de 2,7% na comparação mensal. “Não temos uma verdadeira retomada na indústria porque, por enquanto, está se usando a capacidade instalada já existente”, afirmou Netto.
Para Rafael Cagnin, do IEDI, a queda nos bens de capital não preocupa, já que também pode ser explicada por um “ajustamento de produção”. Mas, assim como os demais, Cagnin não vê um cenário de retomada.
“Estamos em um momento de estabilização da crise. É delicado, não há garantia de que vamos engrenar uma recuperação”, diz. Para que a retomada fosse possível, seria essencial agregar outros elementos: “Avançar em projetos de construção, reduzir o gargalo de infraestrutura e diminuir a taxa de juros o mais rápido possível”, disse Cagnin.