IEDI na Imprensa - O FMI e otimismo cauteloso com a economia
Publicado em: 04/10/2016
O Globo - 04/10/2016
Thais Herédia
As pesquisas que captam as previsões dos analistas sobre o PIB têm estado relativamente otimistas. Com alguma parcimônia as expectativas vêm melhorando de alguns meses para cá, principalmente para 2017. A média da estimativa para o PIB do ano que vem está em 1,3%, segundo a pesquisa Focus com 100 instituições financeiras do país feita pelo Banco Central.
No relatório Panorama Econômico Mundial divulgado nesta terça-feira (04), o Fundo Monetário Internacional não está tão positivo assim. Nos capítulos sobre o Brasil o FMI manteve previsão de crescimento de apenas 0,5% em 2017. Apesar do excesso de cautela, comparado com os brasileiros, os analistas do Fundo foram simpáticos.
"Na América Latina, a economia do Brasil permanece em recessão, mas a atividade parece estar perto 'da virada', à medida que os efeitos dos choques do passado - o declínio nos preços das commodities, os ajustes dos preços administrados de 2015 e a incerteza política- se dissipam gradualmente”, diz o relatório do FMI.
A “virada” vista pelo Fundo também está no horizonte dos brasileiros. Pelo menos estava até o resultado da produção industrial de agosto, também divulgada nesta terça-feira (04) pelo IBGE – queda de 3,8%. O resultado veio bem pior do que o esperado e acendeu um alerta “laranja” sobre a percepção de que o setor já teria saído do fundo do poço e estava, vagarosamente, caminhando para a recuperação.
“Este tombo tira um pouco da esperança de que a sucessão de resultados positivos que tivemos nos últimos cinco meses viesse a corroborar a virada da indústria. Este processo é muito delicado e se vamos ter uma sucessão de dados negativos a partir de agora ou esta queda foi um ajuste pontual ou de estoque, não sabemos. Mas o resultado de agosto acende uma luz amarela – mais do que amarela, uma luz laranja, bem perto da vermelha”, disse ao Blog o economista Rafael Cagnin do IEDI, o Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial.
Numa visão menos preocupada com o futuro, os economistas da consultoria internacional Capital Economics apontam um evento específico que teria jogado a produção industrial brasileira, que foi a paralisação da fábrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo. Em sua análise sobre o desempenho do setor em agosto, a consultoria afirmou que: "Para resumir, esse é um buraco na estrada, não o fim da estrada para a recuperação da indústria brasileira".
Talvez nós estejamos entre o alerta e o alívio, mas de qualquer forma, o que aconteceu com a indústria brasileira em agosto serve também para lembrar que a crise econômica é profunda e vai ainda impor muito sacrifício ao país. A expectativa de queda de 3,3% do PIB revelada pelo relatório do FMI não é por acaso, muito menos a relutância deles em subiu um pouquinho mais a previsão para 2017.
O que eles têm em comum com os analistas brasileiros é a noção de que, sem os ajustes nas contas públicas, a redução dos juros e a queda consistente da inflação, vai ficar difícil e será mais demorado engatar de vez na “virada. E a grande diferença entre o que alimenta o FMI e o que estimula os analistas brasileiros se chama “política”. Para quem vê de fora ainda há muita neblina e dúvidas sobre a força que terá Michel Temer para aprovar as medidas de ajuste fiscal. Estará mentindo o analista brasileiro que disser que tem segurança na votação e aprovação, em tempo útil, das propostas mais importantes – como a PEC dos Gastos que está no centro do debate de agora. Talvez daqui de perto, vendo o empenho do governo em alinhar os políticos com as virtudes das mudanças necessárias, assistindo ao que sai dos intermináveis encontros com líderes para amarrar os votos, e mesmo ouvindo a gritaria da oposição, dá para ter alguma esperança.
Com as mudanças que foram apresentadas à PEC dos Gastos até agora – principalmente a que libera os gastos com saúde e educação dos limites da lei – muitos economistas estão refazendo as contas para entender os efeitos que os recuos do governo terão sobre os cofres públicos. Por enquanto, uma das consequências possíveis é um adiamento da redução do endividamento público, que só começa a acontecer quando o setor público recuperar a capacidade de gerar superávits primários para o pagamento dos juros da dívida soberana. É por essa e outras que o FMI prefere seguir ressabiado mais um tempo antes de se juntar ao otimismo cauteloso dos brasileiros.