IEDI na Imprensa - Com valorização do câmbio, indústria perde 15,3% de rentabilidade em agosto
Valor Econômico
Marta Watanabe
Com valorização do câmbio, indústria perde 15,3% de rentabilidade em agosto
A valorização do real frente ao dólar fez despencar a margem de exportação da indústria de transformação. Com a apreciação cambial nominal de 8,7% em agosto, a rentabilidade da indústria caiu 15,3% em relação a igual mês de 2015, recuo considerável na comparação com a queda de 4,2% no acumulado até agosto.
O efeito do câmbio sobre a margem de ganho do exportador de manufaturados também fica claro num dos componentes da rentabilidade. Quando o câmbio está mais desvalorizado, o exportador reduz o preço da exportação em dólar na tentativa de ficar mais competitivo e também por pressão do comprador externo.
A apreciação do real nos últimos meses, porém, tirou do exportador a capacidade de baixar preços para ganhar mercado. Em agosto, a redução de preços médios foi de apenas 1,2% contra 10,6% no acumulado do ano. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A rentabilidade e os preços são altamente sensíveis à cotação do dólar, principalmente para bens industrializados de alto valor agregado, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O câmbio é no curto prazo o principal elemento dinamizador dos embarques de manufaturados e deve deixar de jogar tanto a favor do exportador como foi no primeiro semestre,, diz Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Os dados da Funcex levantados pelo economista André Mitidieri mostram claramente esse efeito. Calculado na média móvel semestral, o índice de rentabilidade mostra tendência de queda para as exportações da indústria de transformação. Nesse critério, o índice cai de forma consecutiva desde fevereiro. Na média dos seis meses encerrados em agosto, a margem caiu 2,5% contra os seis meses terminados em julho.
No mesmo critério, o câmbio mostra tendência de valorização desde março. No semestre encerrado em agosto a apreciação cambial foi de 3,3% em relação ao mês anterior. Mitidieri lembra que no acumulado até agosto, período que carrega a forte depreciação do real dos primeiros meses, o câmbio ainda apresenta desvalorização de 17,1% contra igual período do ano passado. Mesmo assim os exportadores de manufaturados perderam 4,2% na margem de lucro. O que tirou a rentabilidade no período, diz o economista, foi a queda de preços médios possibilitada exatamente em razão da depreciação da moeda nacional.
Nos manufaturados, o exportador brasileiro pode reduzir preços para ganhar maior participação de mercado. Isso pressiona para baixo a rentabilidade, mas possibilita aumento no volume de exportação. O movimento é particularmente importante, diz Castro, num momento em que a demanda interna desaquecida dificulta à indústria busca manter um nível mínimo de produção e os estoques ajustados.
Por isso, o receio dos analistas é que uma cotação do dólar mais baixa, próxima a R$ 3,30, resulte em queda de quantum embarcado. A perda de fôlego no volume exportado já acontece. Cagnin ressalta que o volume embarcado de manufaturados cresceu 12,3% de janeiro a março. No segundo trimestre, porém, a alta caiu para 9,2%. No último trimestre de 2015 a alta foi de 13,7%, compara o economista do Iedi, sempre contra igual trimestre do ano anterior.
Castro, da AEB, acredita que a desaceleração deve se manter até o fim do ano. Com base nos dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, calcula ele, até setembro o quantum da exportação de manufaturados cresce 6,3%, amparado no campo positivo por produtos como etanol, óxido de alumínio, açúcar refinado, polímeros, suco de laranja, fio-máquina e madeira compensada. De forma negativa, explica, contribuíram principalmente os óleos combustíveis.
"A maioria desses itens, embora classificados como manufaturados, são commodities ou com pequeno beneficiamento. Em quase todos estes produtos não há influência cambial, mas de mercado", afirma Castro O impacto (agora negativo) do câmbio ocorre nos produtos manufaturados com maior valor agregado.
Castro estima que o ano terminará com variação positiva no quantum de exportação de manufaturados, de forma consolidada. "Mesmo se computados apenas manufaturados com maior valor agregado, também terá crescimento de quantidade em 2016, porque os preços foram reduzidos e as quantidades aumentadas."
O aumento, porém, tende a ser menor no segundo semestre em relação ao primeiro. E a incerteza fica para 2017 quando, "na melhor das hipóteses o volume de exportação empatará com o deste ano."
A expectativa, diz Castro, é que o câmbio permaneça perto de R$ 3,30 ou até mais valorizado. Mesmo com a iminência da alta de juros americana, o programa de repatriação de recursos e o retorno da confiança a partir da aprovação de medidas fiscais como a PEC 241,, devem contribuir para manter o real em nível mais valorizado.
O que poderia aliviar o efeito do câmbio seria, diz Castro, a elevação do Reintegra, benefício que dá ao exportador um crédito tributário calculado sobre a receita de embarques. Este ano, o crédito é de 0,1%. A partir de 2017, a alíquota deve subir para 2%. O pleito dos exportadores é de 5%.
O presidente da AEB reconhece que a situação fiscal dificulta ao governo federal atender ao pedido. De qualquer forma, ele calcula que um Reintegra de 5% equivaleria a uma valorização de R$ 0,15 por dólar, o que poderia dar novas condições aos exportadores para reduzir preço.
Castro admite, porém, que o benefício ainda é olhado com desconfiança. Em relação aos 2% de créditos previstos para o ano que vem, por exemplo, o receio fica por conta da demora em liberar o crédito pela Receita Federal, algo que já aconteceu quando o Reintegra tinha uma alíquota de 3%.