IEDI na Imprensa - Queda na indústria reforça que retomada da economia pode tardar
Folha de São Paulo - 02/11/2016
Lucas Vetorazzo
O mau desempenho da produção industrial no terceiro trimestre deste ano mostrou que a recuperação da economia ainda deve tardar a acontecer, afirmam economistas ouvidos pela Folha.
Segundo divulgou nesta terça (1º) o IBGE, a produção industrial recuou 5,5% no terceiro trimestre deste ano ante igual período de 2015.
O resultado é reflexo de quedas na produção nos meses de julho (-0,1%) e agosto (-3,5%) e de ligeira alta em setembro, de 0,5%.
A alta de setembro não significa início do processo de retomada do setor, afirmou o economista chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Rafael Cagnin.
A indústria chegou a ter, entre março (1,4%) e junho (1,6%), resultados positivos na comparação mensal.
"Essa melhora foi principalmente impulsionada pelo câmbio desvalorizado, que ajudava nas exportações e tornava nossos produtos mais competitivos em relação a importados. Com a volta do câmbio a um patamar de R$ 3,25, a vantagem competitiva perde força", diz Cagnin.
Para o gerente-executivo de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, o dado de setembro não recuperou perdas e não "se caracteriza por situação consistente de retomada da atividade, frustrando um pouco as expectativa de que teríamos uma retomada neste fim de ano".
A produção setembro teve queda de 4,8% ante igual período do ano passado.
No acumulado de 2016, o recuo é de 7,8%. Em 12 meses, a queda é de 8,8%.
Analistas afirmam que o desempenho da indústria deve ter impacto no PIB do terceiro trimestre.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, previa recuo do PIB de 0,1% no terceiro trimestre ante o trimestre anterior.
A projeção foi reajustada para queda de 0,9%. No ano, o recuo, que era de 3,1%, passou a 3,5%.
"O terceiro trimestre fecha com a indústria sendo o carro-chefe do resultado negativo de PIB que será visto na próxima divulgação", disse.
O Bradesco não chegou a mudar suas projeções para o terceiro trimestre, mas registrou em relatório que preocupa a queda de 5,1% na produção de bens de capital —máquinas e equipamentos.
O indicador é um termômetro do investimento na produção e deve afetar a chamada formação bruta de capital fixo, que é a parte do PIB que registra os investimento.
"A despeito do que vinha sendo apontado pela confiança do empresariado industrial, os contínuos resultados negativos da produção de bens de capital e de insumos típicos da construção civil deve levar a uma nova retração da formação bruta de capital fixo no terceiro trimestre."
Com base no resultado ruim, o professor de economia do Insper Otto Nogami reviu a projeção do PIB para o ano que vem, de alta 1,1% no ano para crescimento zero.
O mesmo avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.
O não crescimento econômico em 2017 tem impacto direto, disse ele, nos indicadores de confiança, que apresentaram melhora assim que houve a mudança do governo.
Ele afirma, no entanto, que o estado de espírito das pessoas era mais baseado no desejo de melhora do que uma percepção real de melhora na situação.
Gonçalves afirma que o setor privado aguarda as reformas do governo —a aprovação do teto dos gastos e a reforma da Previdência—, além do programa de concessões e incentivo ao investimento do governo federal.
A despeito das aprovações recentes da PEC, ele prevê ainda muito desgaste e debate político em torno do tema, o que atrasaria ainda mais a retomada.
"Vamos entrar agora em um período em que as expectativas, na melhor das hipóteses, vão se estabilizar, mas acho que vão piorar. Enquanto isso, o empresariado ainda tenderá a retomar os investimentos", afirma.
Segundo Castelo Branco, da CNI, um outro fator também impede investimento mais imediato do setor produtivo no país: a ociosidade ainda é grande na indústria. Antes de investir, as indústrias irão recompor parte da sua produção que estava parada.
Para Nogami, do Insper, a queda de 0,25 ponto percentual da taxa de juros foi apenas um sinal político do governo de que está empenhando em reativar a economia, sem, contudo, impacto direto na economia real.