IEDI na Imprensa - Veremos recuperação gradual mais adiante, diz presidente do BC
Valor Econômico - 09/12/2016
Eduardo Campos
A queda na atividade econômica no curto prazo não significa que não haverá retomada, opinou o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn. “Veremos recuperação gradual mais adiante.” Ele tornou a admitir, porém, que as evidências disponíveis apontam que a retomada da atividade econômica pode ser mais demorada e gradual do que a antecipada previamente e defendeu a agenda de reformas como "imprescindíveis" para reativar a economia.
Em discurso preparado para almoço no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Ilan lembrou que os gastos públicos cresceram, em média, quase 6% acima da inflação entre 1997 e 2015 e disse que despesas crescentes precisam ser financiadas pelo aumento da carga tributária ou da dívida pública - como foi o caso até hoje -, ou, em última instância, via aumento da inflação. “É preciso interromper essa dinâmica o quanto antes.”
Para o presidente, o aumento da inflação, da carga tributária ou da dívida pública para financiar gastos públicos crescentes não são mais opções viáveis, pois prejudicam a recuperação da economia.
Assim, disse Ilan, o teto para o crescimento dos gastos públicos é um primeiro passo nesse sentido, pois o país voltará a fazer escolhas ao invés de elas serem impostas pelas circunstâncias.
Exageros do passado
Para Ilan, exageros do passado e políticas equivocadas levaram o Brasil à crise atual. Ele voltou a apontar que no período dos preços altos das commodities excessos foram cometidos, com gastos públicos e privados crescendo acima do sustentável, levando a um endividamento crescente. No momento posterior, quando houve o choque do fim desse "período de ouro", o país respondeu com uma reação equivocada. "As políticas anticíclicas adotadas revelaram-se demasiadamente intervencionistas, e geraram sérios desequilíbrios na economia brasileira”, afirmou. Tais políticas "produziram distorções de preços e exauriram o espaço fiscal" de que o Brasil dispunha. A soma desses fatores com "eventos não econômicos" deixou como resultado o aumento de incertezas e a queda na confiança.
De acordo com Ilan, os “exageros do passado” estão levando mais tempo para se dissiparem, mas a agenda econômica atual busca, justamente, fortalecer os fundamentos que possam reverter esse quadro.
Para além das medidas fiscais, o presidente do BC apontou que também são necessárias reformas que aumentem a produtividade e melhorem o ambiente de negócios e que o resultado final dessa ação será o aumento do potencial de crescimento no longo prazo. “Outras vertentes importantes na busca pelo aumento da produtividade serão os esforços para privatização, concessões, reformas tributária, e trabalhista”, afirmou.
“Todos nós, governo e empresários, somos parte da solução para o crescimento, incluindo o Banco Central. Quanto mais enveredarmos nesse caminho dos ajustes e reformas mais rápida será a retomada do crescimento sustentável. Com crescimento sustentável, o país será capaz de aumentar o emprego e a renda dos brasileiros."
Juros e bancos
O presidente do BC reafirmou que a política de juros tem sido efetiva e que, ao combater a inflação, a autoridade monetária cumpre seu papel na recuperação da atividade econômica. Reiterou que a queda da inflação permite a redução sustentável dos juros, preserva o poder de compra, viabiliza o planejamento e diminui incertezas. “Assim, indivíduos e firmas voltam a assumir riscos, aumentam consumo e investimento e, com isso, colaboram para a retomada do crescimento”, disse, lembrando que o IPCA fechou 2015 em 10,7% e que deve terminar 2016 em torno de 6,6%.
Ele aposta também que o sistema financeiro nacional estará pronto e disposto a financiar a recuperação. Segundo ele, as instituições financeiras estão capitalizadas e dispõem de liquidez, e o papel do BC é mantê-las assim. Por outro lado, disse o presidente, é claro que as instituições não ficaram imunes diante da severidade da retração econômica. Ilan apontou que houve queda da lucratividade e mais provisionamento de recursos para fazer frente a riscos de crédito, mas afirmou que o sistema tem se mantido sólido, a despeito dos impactos indesejáveis da situação econômica atual.
A íntegra do discurso foi publicada no site do BC.