IEDI na Imprensa - Retomada do crescimento da economia começará pelo campo
O Globo
Agronegócio deve ser responsável por até 70% do PIB de 0,7% previsto para este ano
João Sorima Neto
Por trás dos números ruins do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados na última quarta-feira, alguns setores já começam a esboçar sinais positivos e devem sair à frente na retomada da atividade econômica no país. Há consenso entre os economistas de que essa retomada do PIB começará pelo campo em 2017.
Estimativas no mercado apontam que o agronegócio deve ser responsável por até 70% do crescimento de 0,7% previsto para este ano. Mas indicadores positivos começam também a surgir em setores da indústria, como calçados e têxteis — que, juntos, abriram mais de 14,5 mil vagas em janeiro — e eletreletrônicos.
O economista Rodolfo Margato, do banco Santander, projeta crescimento de 0,7% para a economia este ano, depois do tombo de 3,6% em 2016. Segundo Margato, o agronegócio será responsável por 70% desse crescimento:
— Estimamos que o PIB do agronegócio vai crescer 2,4% em 2017. Além da agropecuária, esse segmento movimenta setores como insumos, agroindústria e serviços. Com isso, a participação do agronegócio no PIB, que hoje está em torno de 21,5%, deve passar para 23%.
SUPERSAFRA AJUDA A INDÚSTRIA
Uma contribuição importante virá da supersafra de grãos, que vai crescer 21,8% este ano, chegando a 242 milhões de toneladas, com destaque para soja e milho, diz o economista José Carlos Hausknecht, da consultoria MB Agro:
— Essa supersafra ajuda nas exportações do país e melhora a renda do agricultor. Também contribui para segurar uma alta na inflação de alimentos.
A supersafra também já está movimentando a indústria, lembra Hausknecht. A venda de máquinas agrícolas cresceu 77,5% em janeiro, na comparação anual. Em dezembro de 2016, já havia crescido 80,7%.
— A venda de fertilizantes também cresceu 12,3% em 2016 — diz o economista.
Mas não só a indústria ligada ao agronegócio começa a reagir. Com alta nas exportações em 2016 e melhora do mercado doméstico, o setor de calçados começou o ano criando oito mil vagas de trabalho, chegando a 294,8 mil postos, 2,8% a mais do que em janeiro de 2016.
— A queda da inflação estancou a perda de renda, e as pessoas, que estavam sem adquirir bens semiduráveis (calçados e têxteis) há pelo menos dois anos, foram às compras — observa o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Raphael Cagnin.
A indústria têxtil criou 6,5 mil vagas em janeiro. Para Cagnin, a produção industrial este ano poderá crescer até 1%, interrompendo quedas em três anos consecutivos. Ele destaca que o crescimento de 1,4% registrado em janeiro, depois de 34 quedas consecutivas, foi ajudado por uma base de comparação anual muito baixa, além de dois dias úteis a mais em janeiro deste ano:
— A recuperação será lenta, mas 2017 será melhor que nos últimos anos, quando a indústria vinha puxando o PIB para baixo.
Outro setor da indústria que mostrou fôlego em janeiro foi o de eletroeletrônicos, com crescimento de 2% na comparação anual. O resultado foi puxado pelo desempenho da indústria eletrônica, que apresentou expansão de 18,1%.
O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, prevê que a economia pode crescer 0,3% já no primeiro trimestre, na comparação anual, embalada pela supersafra de grãos, impactando positivamente na indústria e no setor de serviços. Mas ele lembra que, atualmente, a indústria ainda tem cerca de 25% de ociosidade.
— O que vai levar à retomada da produção na indústria é o recuo da inflação e a baixa dos juros. E esse movimento, tanto na inflação quanto nos juros, já começou — diz Mailson, que acredita que o emprego só será recuperado quando o investimento voltar, o que pode acontecer já no segundo semestre.
DE ONDE VÊM OS SINAIS POSITIVOS
Agronegócio: Com crescimento estimado de 2,4% a 5% este ano, setor deve chegar a uma participação de 23,9% no PIB.
Indústria geral: Previsões apontam expansão de até 2%.
Indústria extrativista: Segmento teve expansão de 12,5% em janeiro, em função da alta do preço de commodities.
Calçados e têxteis: Juntos, abriram 14,5 mil vagas de trabalho em janeiro.
Eletroeletrônicos: Setor criou 1.814 novos postos de trabalho em janeiro.
Papelão e papel ondulado: Termômetro da economia, setor teve alta de 3,27% na demanda em fevereiro.
Investimento: Depois de encolher 10,2% em 2016, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo deve crescer 3,5% segundo especialistas.