IEDI na Imprensa - Preço de básicos ajuda exportação da indústria
Valor Econômico
Marta Watanabe
O câmbio não foi favorável, mas a alta dos preços de commodities ajudou a exportação da indústria de transformação a ter no primeiro trimestre do ano a primeira variação interanual positiva para o período desde 2013. O efeito da alta do preço dos básicos nos produtos industriais mais intensivos em recursos naturais e a recuperação de embarques de setores representativos, como o automotivo, contribuíram para elevar as exportações de manufaturados.
No primeiro trimestre do ano as exportações da indústria de transformação cresceram 12,4% em relação a igual período de 2016, de acordo com levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Os dados mostram que vários segmentos aumentaram o valor das exportações no primeiro trimestre. Dos 19 setores nos quais o IEDI divide a indústria de transformação, em 15 as exportações avançaram.
"À exceção de setores com outra dinâmica, como de automóveis e de máquinas e equipamentos, a alta de preços de commodities foi o torque para o aumento do valor exportado para segmentos importantes", diz Rafael Cagnin, economista do IEDI. Isso, diz ele, foi mais representativo em segmentos como alimentos, produtos químicos e metálicos. De acordo com o levantamento do IEDI, no primeiro trimestre o valor dos embarques desses três setores cresceram 11,3%, 16,2% e 15%, respectivamente.
Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), que mede separadamente a variação de volume e preço das exportações, mostram que nesses três setores os preços mais altos contribuíram para o desempenho do valor embarcado. Os alimentos tiveram alta de 21,7% nos preços médios de embarque no primeiro trimestre contra iguais meses de 2016. Nos produtos químicos e nos produtos de metal, a alta foi de 7,4% e 5,9% respectivamente, na mesma comparação. Em termos de volume a exportação de produtos químicos e de metal subiu 7,8% e 16,7%, respectivamente, enquanto a venda externa de alimentos chegou a cair 6,8%. Juntos, os três setores responderam por 54% do valor exportado pela indústria de transformação de janeiro a março deste ano, segundo dados do IEDI.
Outro setor que também ajudou no desempenho foi o de automóveis, que elevou as exportações no primeiro trimestre em 32,1%. Nesse segmento, diz Cagnin, o aumento dos embarques acontece por conta da alocação de produção dos grandes grupos fabricantes de forma a ocupar capacidade ociosa no país. Os embarques de veículos, reboques e semi-reboques representaram 11% do valor exportado pela indústria no primeiro trimestre.
Cagnin pondera que o aumento no primeiro trimestre deve levar em conta a baixa base de comparação. As exportações de vários setores passaram por períodos seguidos de queda e por isso o crescimento deve ser visto com reservas, embora a magnitude da alta em alguns segmentos indique um movimento positivo. No primeiro trimestre do ano passado a exportação da indústria de transformação caiu 3,3% em relação a iguais meses de 2015, quando a queda na mesma comparação foi de 6,5%.
O economista também avalia que o primeiro trimestre não pode ser considerado uma tendência para o resto do ano. No início de abril, os preços de commodities metálicas, que tiveram grande alta no primeiro trimestre, já começaram a apresentar sinais de ajuste, lembra Cagnin. Isso significa que a ajuda de preços dos produtos básicos nos embarques da indústria poderá perder força nos próximos períodos.
O economista do IEDI ressalta que a perda de fôlego da exportação já fica clara na variação da exportação de manufaturados pela média móvel trimestral. Em fevereiro deste ano a variação por essa métrica mostra alta de 3,4% contra crescimento de 20,1% apurados da mesma forma em igual mês de 2016. Essa evolução acontece em grande parte por conta do câmbio, tanto por conta da relativa apreciação do real frente ao dólar quanto pela volatilidade.
Cagnin lembra que os efeitos da cotação desfavorável do dólar sobre a exportação aparecem lentamente, já que muitas indústrias embarcam ainda contratos fechados com dólar mais alto. O primeiro componente a ser afetado, diz ele, é a rentabilidade.
Mesmo com bom desempenho no primeiro trimestre, as exportações não foram suficientes para garantir um melhor resultado comercial. Como as importações cresceram um pouco mais que os embarques, com alta de 13,2%, o déficit se ampliou de US$ 2 bilhões para US$ 2,5 bilhões nos três primeiros meses de 2016 para igual período deste ano.
Apesar da ampliação do déficit, diz Cagnin, o saldo negativo do primeiro trimestre pode ser considerado "confortável", já que é relativamente pequeno em relação ao déficit de períodos recentes. De 2011 a 2015, os saldos negativos da balança da indústria de transformação no primeiro trimestre superaram sempre US$ 10 bilhões.