IEDI na Imprensa - Produção industrial volta a cair, após respiro em janeiro
O Globo
Queda em fevereiro foi de 0,8%, e especialistas veem estabilização
Lucas Moretzsohn
A indústria voltou ao vermelho em fevereiro, após uma reação no início do ano que deu fim a uma sequência de 34 meses seguidos de queda. A produção do setor caiu 0,8% em fevereiro, frente ao mesmo mês de 2016; enquanto em janeiro houve uma alta de 1,4%. Na comparação com o mês anterior, a produção subiu 0,1%. A oscilação no resultado indica, segundo especialistas, o início de um período de estabilidade, com trajetória favorável, mas ainda em risco diante do cenário de incerteza política, que pode travar investimentos.
Com o resultado, o setor se encontra, no momento, 18,9% abaixo do seu patamar recorde de produção, atingido em junho de 2013. Nos últimos 12 meses, a atividade encolheu 4,8%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), IBGE.
— O começo do ano tem todas as estatísticas que levam a crer num quadro de acomodação. Passamos por um processo de ponderação da crise pela redução das quedas em 2016, e entramos em 2017 num quadro de exaustão. (O setor) praticamente anda de lado, há variações muito próximas de zero — diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Economistas que acompanham o setor ponderam, no entanto, que o resultado positivo na relação mensal foi favorecido pela base de comparação muito fraca de 2016, quando o setor viveu o pior da crise, e a produção teve taxas negativas muito fortes. Apesar disso, novidades recentes na conjuntura econômica do país favorecem uma possível reversão na trajetória negativa do setor industrial, ainda que lenta:
— Há algumas novidades no cenário macroeconômico, como a queda dos juros, a liberação dos recursos do FGTS, o governo amarrando melhor a ideia de novos leilões de concessão para acelerar gastos com infraestrutura. A tendência é gradual e ascendente, embora o segundo trimestre ainda deva ser fraco — afirma Aloisio Campelo, superintendente de estatísticas públicas do Ibre/FGV. AGRICULTURA E CONSTRUÇÃO Cagnin alerta que, mesmo com a tendência à estabilidade, não necessariamente a recuperação virá. Isso depende de elementos dinamizadores da economia, que podem ser colocados em risco pelo cenário político. Segundo ele, as expectativas quanto ao futuro da economia são mais importantes para atrair investimento do que a avaliação presente do mercado.
Ainda assim, as projeções para o setor este ano indicam terreno positivo. Relatórios do Bradesco e Bank of America Merrill Lynch apontam para crescimento de 1%. Já a Tendências prevê alta de 2,2%. O IEDI, apesar de não calcular projeção anual, estima resultado positivo, mas próximo de zero. O banco Goldman Sachs afirmou que o setor começará a se beneficiar da estabilização macroeconômica.
Em fevereiro, a produção de bens de capital cresceu 6,5% frente a janeiro e acumula alta de 3,7% no ano. O avanço se deve, principalmente, à demanda dos setores agrícola e da construção, segundo André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.