IEDI na Imprensa - Tarifa de importação cai menos no Brasil que em outros países
Valor Econômico
Marta Watanabe
O clima mais positivo em relação a um acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul pode trazer também novas perspectivas para a evolução das tarifas brasileiras de importação. Em 20 anos a tarifa média de importação no Brasil caiu 0,76 ponto percentual, o que dá ao país a menor redução dentro de um grupo de 25 países, atrás somente da Bolívia, que na verdade teve elevação de 0,44 ponto percentual na taxa. O número mostra tendência inversa em relação a países importantes como parceiros comerciais para o Brasil. No mesmo grupo, doze países tiveram redução de tarifas entre 3,2 e 8,5 pontos percentuais em igual período. Um dos fatores que facilitam a redução de tarifas, apontam especialistas, são os acordos comerciais.
O levantamento que mostra a evolução do Brasil e dos parceiros comerciais importantes é do Bradesco. O estudo compara tarifa média de 1996 ou 1997 com a de 2015 ou o último dado disponível. Os dados são do Banco Mundial e levam em consideração somente o imposto de importação.
Para Andréa Bastos Damico, economista do Bradesco, o levantamento mostra a necessidade de uma redução gradual das tarifas de importação brasileiras, o que pode ser feito no âmbito de negociações de acordos comerciais ou bilaterais. A economista defende que os ganhos para a economia como um todo com a redução de tarifas, como maior produtividade e menor custo de investimentos e insumos, compensam os custos para alguns setores ao longo do tempo.
A variação menor das tarifas no Brasil se destaca ainda mais porque o imposto brasileiro na importação já estava entre os mais altos há 20 anos. A tarifa média do Brasil era de 14,4%. Na época era o sexto maior entre o grupo os 25 países pesquisados. Nigéria, China, África do Sul, México e Argentina tinham cobranças médias maiores que as do Brasil na época. Mas todos esses cinco países tiveram redução maior de tarifas nos últimos 20 anos. Como resultado o Brasil ficou com a maior tarifa em 2015 ou no último dado disponível. A China liderou o movimento no grupo de 25 países, com recuo de 14,47 pontos percentuais, seguida do México e da Nigéria, com reduções de 11,74 e 10,65 pontos percentuais, respectivamente. A África do Sul reduziu a tarifa média em 8,5 pontos.
A Argentina também mostrou redução de tarifa pequena na comparação com a maior parte dos países. Mesmo assim, o recuo de 2 pontos foi maior que o do Brasil. Como resultado, os argentinos ficaram com imposto de importação médio de 12,5%, um pouco abaixo da média de 13,7% da tarifa brasileira.
Andréa ressalta que enquanto o Brasil praticamente manteve o seu nível de tarifas nos últimos 20 anos, outras economias emergentes da América Latina, além do México, como Colômbia, Chile e Peru, mostraram forte redução no mesmo período. "O Chile e o Peru quase migraram para a liberalização completa de tarifas", destaca a economia. "Tendo em vista que nossos pares reduziram suas tarifas, a manutenção, na prática, implicou em uma alta relativa das alíquotas do Brasil."
Mesmo nos países avançados, destaca o levantamento, nos quais as alíquotas médias já eram mais baixas há 20 anos, houve uma redução relativa importante nas tarifas médias. No mesmo período, a União Europeia reduziu o imposto médio de importação de 3,9% para 2,1%. Nos Estados Unidos a taxa caiu de 4,1% para 2,8%.
Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores e ex-secretário de comércio exterior, diz que a evolução dos acordos explica o comportamento das tarifas. "Países como Chile e Peru reduziram suas tarifas naturalmente porque intensificaram os acordos. E as tarifas brasileiras na verdade são as tarifas do Mercosul. Há muitas exceções, claro, mas a média tarifária dependente bastante dos demais países do bloco. Se houver acordo com a União Europeia essas tarifas vão baixar também." Por isso, diz Barral, a Argentina também teve redução tarifária relativamente baixa e possui alíquota média mais comparável à do Brasil.
O ex-secretário de comércio exterior também chama atenção para questões estratégicas. "Falar em uma política de redução gradual das tarifas é muito fácil, mas se houver redução unilateral o Brasil fica sem ter o que negociar nos acordos comerciais." Além disso, diz ele, apesar de ter uma tarifa média mais alta, o Brasil não tem "picos" de tarifa. "A Europa tem uma alíquota média baixa, mas tem picos para os produtos que protege, como o açúcar, por exemplo, com uma tarifa absurdamente alta."
A pesquisa do Bradesco aponta também que a evolução de tarifas médias aduaneiras por setores trazem conclusões semelhantes ao do olhar no agregado. O estudo cita dados de outras pesquisas e destaca que para bens intermediários, por exemplo, a tarifa média de importação do Brasil caiu de 13,9% em 2000 para 11,7% em 2010 enquanto no mesmo período a taxa caiu na China de 14,4% para 7,4% e no México, de 14,8% para 6,1%. Nos bens de capital, houve disparidade de evolução semelhante. A tarifa média Brasil caiu de 16,9% para 13% enquanto a chinesa saiu de 14,4% para 7,7% e a mexicana, de 13,1% para 3,2%.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), avalia que o momento não é oportuno para discutir redução de tarifas. Para ele, o setor manufatureiro ainda encontra-se em situação "extremamente fragilizada" num momento de taxas de juros ainda altas e câmbio imprevisível. "Os preços macroeconômicos estão completamente fora do lugar e expor a indústria à concorrência internacional só será desvantajoso." Para Cagnin, antes de discutir redução de tarifas, é preciso encaminhar soluções para problemas estruturais que afetam a competitividade.