IEDI na Imprensa - Cai participação da indústria de transformação nos empréstimos
Folha de São Paulo
Maeli Prado
Um dos setores mais afetados pela crise, a indústria de transformação viu encolher sua participação no crédito nos últimos anos. O setor respondeu em fevereiro por 26,5% do estoque de empréstimos a empresas, menor percentual desde janeiro de 2012, quando começa a série histórica do Banco Central.
A participação estava no patamar de 30% até 2014, ano em que o PIB desse segmento da indústria recuou quase 4%.
De lá para cá, a fatia da indústria de transformação vem se reduzindo, por fatores como alto custo dos empréstimos, exigências elevadas para garantias e redução no prazo dos empréstimos ofertados.
Em valores absolutos, o estoque de crédito desse segmento da indústria vem caindo mês a mês desde dezembro de 2015, alcançando R$ 398,4 bilhões em fevereiro, menor valor da série descontado o efeito da inflação.
"A indústria de transformação foi o primeiro setor que entrou em recessão de fato e ainda não se recuperou", diz Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). "Essa foi uma crise de confiança, que afeta investimentos e o consumo de automóveis, eletrodomésticos e informática, ou seja, produtos tipicamente industriais."
Tanto a demanda quanto a oferta de financiamentos pelos bancos, avessos a risco e preocupados com a inadimplência, foram impactadas com força entre o fim de 2015 e todo o ano passado. Dos dois lados, ainda não há sinal de recuperação.
A baixa procura também tem a ver com o fato de que, no fim de 2016, muitas empresas renegociaram suas dívidas com os bancos, reduziram seus investimentos e não estão tomando novas operações.
"Os bancos fizeram um esforço de refinanciamento ao longo de 2016, mas essas renegociações vieram acompanhadas de juros maiores e prazos menores", diz Cagnin.
Ao anunciar a redução da projeção para o PIB de 2017 de 1% para 0,5%, o governo citou o elevado custo do crédito para pessoas jurídicas como razão para o crescimento menor do que o esperado.
Em meados do ano passado, os juros médios cobrados das empresas ultrapassaram os 30% ao ano, maior taxa da série em cinco anos.
Desde o início do ciclo de corte da taxa básica da economia, a Selic, houve recuo —hoje os juros de empresas estão em 28,8%—, mas não em escala suficiente para mudar a tendência iniciada em 2015.
A avaliação de especialistas é que, no momento, não há retomada, apenas uma estabilização do movimento de contração de empréstimos.
"A indústria de transformação é produto acabado, na ponta. Se você não tem uma dinâmica de crescimento da economia, não tem recuperação", avalia Luis Miguel Santacréu, da Austin Rating.
A situação da indústria se mostrou particularmente frágil porque, com a crise nas contas públicas, o governo interrompeu desde 2015 a política de usar os bancos públicos para aumentar o crédito a grandes empresas.