IEDI na Imprensa - Estancamento da crise industrial
O Estado de São Paulo
Rafael Cagnin*
Neste começo de ano, a indústria voltou ao terreno positivo depois de onze trimestres sucessivos de queda. A alta no acumulado de janeiro-março de 2017, de apenas 0,6%, não foi muito expressiva, mas já é capaz de distanciar o quadro atual daquele do ano passado. Em todo caso, pelas razões apontadas a seguir, é oportuno um pouco de cautela antes de se comemorar uma recuperação da indústria. A etapa ainda é de estancamento da crise.
O aspecto mais preocupante tem sido a trajetória na série com ajuste sazonal. Frente ao mês imediatamente anterior, a produção industrial ainda não viu um mês sequer de resultado positivo em 2017, gerando um declínio de 0,7% no primeiro trimestre do ano. Pior, nenhum dos grandes setores da indústria fugiu à regra.
Diante desses, é difícil perder de vista que as comparações com 2016 contam com bases muito baixas, ajudando na obtenção de resultados positivos. Dentre os macrossetores, bens de capital e bens de consumo duráveis parecem trilhar um início de recuperação, mesmo que seu desempenho com ajuste sazonal também não seja dos mais promissores. No primeiro caso, a expansão do agronegócio, tem ajudado a impulsionar a produção de bens de capital de uso agrícola.
Já no caso da produção de bens de consumo duráveis, entre os fatores positivos encontram-se a desaceleração da inflação, restabelecimento das concessões de credito às famílias – muito embora os juros teimam em não cair acompanhando a Selic – bem como a liberação das contas inativas do FGTS. Além das exportações das montadoras, o que tem ajudado a recuperar parte do terreno perdido nos últimos anos.
* Economista do IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial