IEDI na Imprensa - Indústria cresce 0,8%, com avanço na maioria dos setores
O Globo
Aumento da produção fica mais disseminado, alcançando 59% das atividades
Setor avança 0,8% em maio, com alta disseminada pela maioria das atividades. A indústria brasileira deu sinais de que se recupera com um pouco mais de fôlego, mas a incerteza política pode colocar essa trajetória em risco. Em maio, o setor registrou alta de 0,8%, frente a abril — segundo avanço consecutivo nesse tipo de comparação e o melhor resultado para o mês desde 2011. Em relação ao ano passado, a alta foi de 4%. Os dados vão além do sobe e desce que caracteriza o setor nos últimos meses, principalmente porque, aos poucos, os resultados positivos começam a aparecer em mais atividades. Em maio, 59% dos 805 itens pesquisados pelo IBGE tiveram alta de produção na comparação com o ano anterior, a maior abrangência desde abril de 2013. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo instituto.
A disseminação de resultados positivos foi observada nos dois principais tipos de cálculo, tanto em relação a abril, como na comparação com maio do ano passado. Frente a abril, 17 dos 24 ramos acompanhados registraram alta. Foi a maior proporção de segmentos em crescimento desde julho de 2014, quando 19 grupos registraram avanço. A análise das chamadas grandes categorias econômicas também reforça essa tendência: todos os quatro grandes setores da indústria — bens de capital, intermediários, duráveis e semi e não duráveis — avançaram, tanto frente a abril como em relação a maio de 2016.
Para analistas, esse perfil reforça a expectativa de que a indústria, após três anos de queda, fechará 2017 em alta.
— O dado de maio mostrando mais uma alta, com a maior parte das atividades econômicas em crescimento e o avanço dos bens duráveis e de capital, já permite falar em uma recuperação mais disseminada. O sinal que observamos dos dados de abril e maio é uma recuperação da indústria — avalia Artur Manoel Passos, economista do Itaú Unibanco.
ALTA PUXADA PELA PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS Apesar da alta mais generalizada, os números de maio foram influenciados principalmente pelo desempenho da fabricação de automóveis. A produção de veículos avançou 9% na comparação com abril. Em relação a maio do ano passado, o segmento também se destacou como a principal alta, de 27,9%. Por trás dos números, estão fatores como aumento das exportações e tímida melhora no mercado interno, na avaliação de Passos, do Itaú.
— O setor de automóveis tende a ser mais prócíclico, contrai mais forte na recessão e cresce mais forte na recuperação. Ele pode continuar a ter desempenho superior aos demais setores. Mantendo-se essa retomada, supondo que não haja impacto relevante da crise política, o setor de automóveis pode continuar vindo forte — destacou o economista.
Eé acrise política a principal incógnita apontada por analistas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), a confiança da indústria recuou 2,8 pontos em junho, para 89,5 pontos. A sondagem é uma das bases por trás da expectativa negativa de analistas para junho. O Itaú estima que a produção industrial recuou 0,7% no mês passado, frente a maio. Já aLCA Consultores calcula queda de 0,8%, na mesma base de comparação.
Parte dessa retração da confiança está associada ao efeito JBS. O dado de junho será o primeiro após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, que envolveu o presidente Michel Temer nas investigações da Operação Lava-Jato. As acusações vieram à tona em 17 de maio e, portanto, não influenciaram completamente os dados daquele mês.
— Esse resultado de maio é de um contexto diferente do que estamos vivendo agora. Em junho, já veremos o peso da delação. E não foi só a expectativa que piorou. A ociosidade aumentou, o estoque piorou, e a confiança caiu de forma disseminada — destaca Tabi Thuler Santos, coordenadora da Sondagem da Indústria da FGV.
Os riscos ao setor vão além dos desdobramentos da turbulência política. Analistas também destacam pontos fracos, como o fato de que o crescimento acumulado entre abril e maio, de 1,9%, é praticamente anulado pela queda de 1,6% em março. “Esse desempenho traz consigo um conjunto de pontos fortes e fracos, que sugere que a recuperação industrial ainda é um jogo que está sendo jogado e que nada está garantido quanto ao crescimento industrial deste ano”, destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Já o gerente da coordenação da indústria do IBGE, André Macedo, lembrou que o setor ainda opera em patamares baixos.
— É claro que é uma melhora de ritmo. Mas é preciso relativizar esse crescimento em função da queda importante no mês de março e das perdas acentuadas que o setor teve no passado. E, quando observamos o patamar de produção, o setor ainda está em fevereiro de 2009. Em termo de distanciamento do seu ponto mais elevado na série histórica, em junho de 2013, a diferença é de 18,5% — avalia Macedo.