IEDI na Imprensa - Serviço de energia elétrica no Rio piora e estado pode perder indústrias
O Globo
Bruno Dutra
Em meio à crise financeira, que se arrasta desde 2015, mais um dado negativo acende o sinal de alerta na indústria fluminense, que amarga prejuízos devido à qualidade do fornecimento de energia elétrica. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), o serviço de energia elétrica piorou nos últimos cinco anos, em relação à média nacional.
— As interrupções no fornecimento de energia são ruins para todos, porém, para o setor industrial, é ainda pior. Cada vez que falta energia são milhares de reais perdidos. Isso é sinônimo de improdutividade. Quando falta energia na indústria, há descarte de material, de matéria-prima, acionamento de geradores, queima de equipamentos e perda de dados. É tudo o que o setor produtivo não deseja — explica Tatiana Lauria, especialista em estudos de infraestrutura do Sistema Firjan.
Segundo Tatiana, a má qualidade do fornecimento pode fazer com que o estado perca investidores e ainda levar indústrias hoje instaladas no estado para outros lugares.
— A energia está diretamente relacionada com a questão do desenvolvimento econômico e industrial. Para indústrias em que o peso da energia é grande, tanto quanto insumo, quanto na questão do custo, a má qualidade do fornecimento pode fazer com que esses empresários decidam ir para outro lugar, onde o problema é menor — destaca.
Segundo o estudo, o estado do Rio está praticamente estagnado com relação a qualidade de energia e se comparar com a média nacional, a situação é ainda pior.
— O país ficou em média 15 horas sem energia no ano passado e o estado do Rio 25 horas. Ou seja, para um estado que tem uma grande concentração industrial, que quer se desenvolver economicamente, ele precisa avançar em termos de política energética, economia e também industrial. Porque se não nós vamos perder emprego e renda — afirma Tatiana.
Para o economista Rafael Cagnin do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a falta de investimentos em infraestrutura é um dos grandes entraves para o maior crescimento da indústria brasileira, o que significa, no longo prazo, a perda de competitividade no setor.
— Os problemas com infraestrutura são um dos gargalos que reduzem a competitividade da indústria. Isso é um ponto muito negativo no cenário nacional e internacional. Se delega muitas obrigações à indústria, como a obrigação de aumentar a competitividade, mas se esquece que o ambiente onde o setor produtivo está inserido é extremamente ruim. Nesse ambiente, não teremos crescimento expressivo da indústria no longo prazo — afirma Cagnin.
Na região da Costa Verde, Angra dos Reis registrou cerca de 48 horas sem energia elétrica e Paraty ficou mais de 46 horas no escuro. Na região centro-sul, o município de Vassouras ficou cerca de 23 horas sem energia elétrica. Já no Norte-Fluminense, Campos registrou 33 horas. Teresópolis, na Região Serrana, ficou quase 45 sem luz em 2016.
— Quando se olham as cidades que mais sofreram com a falta de luz, observamos que são cidades com alto potencial turístico ou com alta concentração de empresas. Dessa maneira, o problema afeta diretamente a atividade econômica do estado — diz Tatiana Lauria, da Firjan.
Em nota, a Light, uma das concessionárias de energia do Rio, informou que os dados informados pela Firjan não refletem a realidade da empresa. Segundo a Light, “a metodologia aplicada na composição dos índices de duração (DEC) e frequência (FEC) das interrupções no fornecimento de energia não tem embasamento regulatório e difere da adotada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”.