IEDI na Imprensa - Setor automotivo puxa queda da indústria em janeiro
Valor Econômico
Thais Carrança e Bruno Villas Bôas
A queda de 2,4% na produção industrial em janeiro, na comparação mensal dessazonalizada, já era esperada após um dezembro de alta forte (3,1% após revisão) e foi acentuada por fatores estatísticos, dizem economistas. Na comparação anual, a atividade industrial acelerou, de alta de 4,5% em dezembro para 5,7% em janeiro, reforçando a visão dos analistas de que a trajetória de recuperação do setor continuará ao longo do ano.
Conforme a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), divulgada ontem pelo IBGE, a produção da indústria recuou na margem impactada sobretudo pela queda de 7,6% da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias. As perdas no mês foram também disseminadas, com 19 das 24 atividades industriais no negativo.
"Foi um resultado pontual do setor automotivo e da indústria como um todo. Uma acomodação, após meses de alta da produção", disse André Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE. "Claro que uma queda da produção não é agradável, até porque se perdeu o patamar alcançado em dezembro. Mesmo assim, o setor continua em sua trajetória de recuperação das perdas de 2014, 2015 e 2016. É uma recuperação marcada por lentidão e gradualidade."
Para Artur Manoel Passos, economista do Itaú Unibanco, o recuo pode ter sido acentuado por fatores estatísticos. "A recessão recente mudou a composição da indústria, reduzindo a importância de setores cíclicos (que sazonalmente tendem a contrair mais em dezembro e retomar a produção em janeiro)", escreveu Passos, em relatório. "Dessa forma, o filtro estatístico que corrige a série por fatores sazonais provavelmente ajustou o nível de produção (para baixo) mais do que seria consistente com a nova composição da indústria", completou. Macedo, do IBGE, descartou a hipótese.
Thaís Zara, da Rosenberg Associados, avalia que mais relevante do que a queda na base mensal ajustada é a tendência apontada pelo dado na comparação interanual. Nessa base, a produção apresentou sua nona alta consecutiva e a maior variação positiva desde abril de 2013 (9,8%), com destaque para bens de consumo duráveis (20%) e bens de capital (18,3%).
Segundo Thaís, a recuperação do mercado interno deverá garantir a continuidade dessa expansão ao longo do ano. "Temos uma retomada do consumo doméstico, já evidente no PIB, com o crédito voltando a crescer e o mercado de trabalho melhorando. Tudo isso impulsiona o mercado interno e, com isso, a produção industrial", diz. A estimativa da Rosenberg é de alta de 3,8% para a produção do setor em 2018.
Yan Cattani, da consultoria Pezco, também aposta no consumo das famílias como motor da indústria no ano. "Além de veículos, os demais setores deverão começar a crescer agora, devido ao efeito de renda, diminuição do desemprego e queda de juros", prevê. "Agora começa a chegar o efeito do afrouxamento monetário ao consumidor, que deverá favorecer bens de consumo com um tíquete médio mais elevado, compensando essa queda pontual que tivemos em janeiro."
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) avalia que o resultado da indústria em janeiro "é sintomático de um movimento ainda frágil de recuperação", posto que toda alta mais expressiva na margem, como a de dezembro, não tem continuidade. No entanto, na comparação interanual, o instituto destaca que a dinâmica mais forte apresentada pelo setor no quarto trimestre de 2017, em relação ao acumulado do ano, se manteve ou até melhorou.
A indústria geral, por exemplo, cresceu 2,5% no acumulado de 2017, 4,9% no quarto trimestre e 5,7% em janeiro, sempre na comparação anual. Já o segmento de bens de capital avançou 6,1%, 10,8% e 18,3% neste mesmos intervalos. "Sob este prisma, o primeiro mês do ano parece confirmar o que o último trimestre de 2017 indicava", diz o IEDI.
Para fevereiro, o Itaú Unibanco estima uma alta mensal dessazonalizada de 0,7% da produção industrial, com base no indicadores coincidentes já divulgados. Na comparação anual, o crescimento projetado é de 4,9%.