IEDI na Imprensa - Indústria sobe em abril, mas banco vê 5% de recuo em maio
Valor Econômico
Thais Carrança e Ana Conceição
A produção industrial de abril ficou acima do esperado e teve seu melhor resultado no ano, mas a alta de 0,8% sobre março, feito o ajuste sazonal, foi ofuscada pela greve dos caminhoneiros em maio, que paralisou diversos segmentos do setor por alguns dias. De acordo com estimativa do Itaú Unibanco, os primeiros indicadores coincidentes - confiança, utilização da capacidade instalada, comércio exterior, consumo de energia, licenciamento de veículos - sinalizam queda mensal dessazonalizada de 5% da produção no mês passado. Na comparação com mesmo mês de 2017, o recuo seria de 1,8%. Se realizada a estimativa, o setor pode devolver parte da alta acumulada até abril, de 4,5%.
A estimativa reflete a paralisação dos caminhoneiros, que provocou interrupções nas cadeias de suprimento e reduziu a produção a partir do dia 23, afirmam os economistas do Itaú Artur Manoel Passos e Alexandre Gomes da Cunha, em relatório. Eles ponderaram que boa parte da perda de produção pode ser compensada nos meses seguintes. "Com a greve, haverá um resultado negativo em maio. Isso acaba por 'contaminar' a surpresa positiva de abril", afirma Jankiel Santos, economista-chefe do banco chinês Haitong. Ele não arrisca uma estimativa sobre quanto a greve afetou a produção, mas por enquanto mantém a projeção de crescimento de 2% para a indústria em 2018. Para ele, passado o impacto, o rumo ascendente seria retomado, com flutuações.
Yan Cattani, da consultoria Pezco, diz que o efeito negativo da greve deverá "respingar" sobre junho, até que as cadeias produtivas se reorganizem. Nas siderúrgicas, por exemplo, um alto-forno pode levar a de dez a 30 dias para voltar a operar. Na indústria de cimento, o SNIC, sindicato do setor, estima que serão necessárias três semanas para que as fábricas voltem ao normal. Cerca de 70% delas paralisaram as atividades no período da greve. O Banco Fator tem a mesma avaliação. "O efeito [da greve] pode se estender a junho. Em que pese ser evento pontual, afetou a produção e a utilização da capacidade. As estimativas para o crescimento da produção industrial em 2018 estão na mesa para revisão", afirma, em nota.
Em relação a abril de 2017, o avanço de 8,9%, melhor resultado para o mês desde 2013, tem que ser relativizado, afirma Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). A alta se baseia, em parte, no efeito calendário. Abril deste ano teve três dias úteis a mais que no ano passado, algo incomum. Para ele, a recuperação da produção industrial continua lenta e irregular e deve seguir assim, já que em maio o setor pode devolver com folga a alta de abril. Ele ainda ressalta que a alta de 0,8% em abril foi muito influenciada pela produção sucroalcooleira. "Foi a primeira vez no ano em que a indústria mostrou uma reação substancial, mas novamente com metade dos setores em alta, metade em queda. Esse jogo dividido tem sido constante. Raramente o placar é mais para o lado favorável".
Olhando à frente, Cagnin observa que o ideal seria ter uma recuperação mais forte da produção no primeiro semestre já que, no segundo, há risco de deterioração da confiança e volatilidade maior do câmbio, fatores que limitam a recuperação da atividade econômica em geral. Ele observa que a indústria ficou estagnada no primeiro trimestre, na série com ajuste sazonal. E no segundo pode não ter destino muito melhor, dependendo do resultado de junho.
Outro fator que também pode levar a um desempenho mais fraco do setor é a piora da economia da Argentina, destino de boa parte da produção de veículos e autopeças brasileiros. "Por mais que o Brasil eleve as exportações para a Colômbia, Equador e México, é a Argentina nosso grande destino. Isso pode jogar areia na engrenagem [da indústria]", diz.
A Pezco destaca que a produção de veículos começa a dar sinais de desaceleração, já que começa a atingir a média histórica de estoques. Com a esperada perda de ritmo no setor e o efeito da proximidade das eleições sobre os investimentos e a produção de bens de capitais, a indústria parece estar próxima de atingir seu limite de crescimento no ano, avalia o economista Yan Cattani.
No acumulado de 12 meses até abril, a produção industrial tem alta de 3,9%, e a de veículos, de 22,5%. A Pezco projeta crescimento de 5,1% para a produção industrial em 2018. Segundo o economista, a taxa em 12 meses deve até ultrapassar esse número em algum momento, mas depois deve voltar a desacelerar, até pelo efeito da incerteza política sobre os investimentos. Nesse sentido, o Itaú observa que os dois componentes mais associados ao investimento seguem se movendo em direções opostas. Enquanto a produção de bens de capital avançou 1,4% no mês e acumula alta de 4,4% no ano, a dos insumos típicos da construção civil recuou 0,7% em abril, em queda pelo quarto mês consecutivo.