IEDI na Imprensa - Indústria de alta tecnologia lidera a queda na produção, diz IEDI
O Globo
Setor farmacêutico e de comunicação perderam força no fim do primeiro semestre
Bruno Rosa
A difícil retomada da indústria no Brasil vem atingindo em cheio setores de alta intensidade tecnológica. De acordo com estudo do IEDI, obtido com exclusividade pelo GLOBO, segmentos que dependem de mais inovações e demandam maior complexidade industrial registraram um tombo de 5,8% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior. O dado mostra uma desaceleração em relação aos três primeiros meses deste ano, quando houve alta de 13,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
Entre os chamados setores de alta intensidade tecnológica, ressalta o IEDI, a redução foi puxada pelo segmento farmacêutico, que teve queda de 0,6%, após crescer 8,4% no primeiro trimestre. O ramo que inclui equipamentos de rádio, TV e comunicação também perdeu força, com crescimento de 9,4%, após alta de 31,6% no início do ano. A comparação é sempre com base no mesmo período do ano anterior.
- Há uma deterioração da confiança, que afeta os investimentos e o consumo das famílias. A greve dos caminhoneiros é apenas uma parte dessa queda, já que a indústria iniciou o ano de 2018 em trajetória de desaceleração. Em 2017, os aspectos positivos foram diluídos, como os recursos do FGTS e da boa safra agrícola. Além disso, o setor farmacêutico sofre com os ajustes dos gastos públicos, devido aos programas populares (como Farmácia Popular). O setor de comunicação foi impactado com a Copa do Mundo, que aumentou a demanda no início do ano – explicou Rafael Fagundes Cagnin, economista-chefe do IEDI.
O economista vê com preocupação o fato de o setor de alta intensidade tecnológica ter tido a maior queda entre os ramos que compõe o setor de transformação, que reduziu seu ritmo de crescimento, passando de 3,9% no primeiro trimestre do início do ano para 1,7% no segundo trimestre.
- O setor de alta tecnologia é onde há uma produção mais complexa e de alto valor. É onde o país deveria ter mais esforços para assegurar seu crescimento. É isso que vai garantir o protagonismo do Brasil na indústria global.
Mas não foi apenas os setores de alta tecnologia que sentiram a queda no ritmo da atividade econômica. O chamado ramo de "média-alta intensidade tecnológica", que reúne veículos e equipamentos elétricos, também perdeu força. O crescimento passou de 8,4%, no primeiro trimestre, para 2,8%, entre abril e junho deste ano. O tombo foi influenciado por produtos químicos e itens elétricos, que tiveram recuo de 3,1% e 1,1%, respectivamente.
Mesma tendência ocorreu com setores que usam menos tecnologia. O ramo de "baixa intensidade tecnológica", que inclui as áreas têxtil e de alimentos, teve recuo de 2,3% na produção no segundo trimestre, após crescer 2,4% nos primeiros três meses deste ano. Segundo o estudo do IEDI,o segmento de vestuário, couro e calçados registrou resultado negativo de 5,1%, após cair 1,5% nos primeiros três meses do ano. Destaque ainda para a queda de 2,3% de alimentos, que reverteu o crescimento de 2,3% no início do ano.
-O setor de baixa intensidade depende de renda. Apesar da inflação menor e do aumento do crédito, essas melhorias não vieram em ritmo maior a ponto de estimular o consumo. Não houve melhoria adicional. E isso fez com que os números não melhorassem. O setor que mais me preocupa é o têxtil e de calçados, que são grandes empregadores e muito sensíveis à concorrência. Se olharmos os dados da balança comercial, percebemos aumento nas importações, sobretudo, da Ásia – disse Cagnin.
Já a indústria de média-baixa intensidade tecnológica, por incluir petróleo e produtos metálicos, teve alta de 2,8% no segundo trimestre, ante zero no início do ano. Nesse caso, segmentos como o de petróleo puxaram o ganho de produção, com alta de 7% entre abril e junho, contra queda de 5,9% no início do ano.