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Em 2016 temos testemunhado uma ruptura da trajetória de
crise do setor industrial. Como temos assinalado em Análises
anteriores, os sinais apontam para uma moderação
das perdas, com alguns setores parando de cair e outros voltando
inclusive a crescer. O cenário geral, contudo, continua
péssimo com muitos segmentos industriais acumulando pesadas
perdas desde 2014 quando teve início a crise na indústria.
Em 2015 a
retração da produção total da indústria
chegou a 8,2%, perdendo apenas para 2009 quando a crise global
atingiu o Brasil, mas teve o agravante de já ter caído
3,0% no ano anterior. Tomando a retração adicional
de 9,1% no acumulado do primeiro semestre de 2016, fica claro
que a situação é muito grave.
E é
ainda mais grave para alguns dos macrossetores, a exemplo de bens
de consumo duráveis, cuja produção caiu 18,2%
em 2015 e 22,2% no primeiro semestre de 2016, e de bens de capital,
com declínio de 25,4% em 2015 e de 20,2% no acumulado de
2016. Dizer que o ritmo de piora desses macrossetores perdeu força
só tem algum sentido se não nos esquecermos que
seus retrocessos continuam em torno de -20%!
Se há
alguma dúvida de que para a indústria o passado
recente é dos mais negros, basta observar que o setor já
desempregou quase 1,5 milhão de pessoas nos últimos
doze meses. A despeito disso, nos parece ser inegável que
o presente é menos dramático que o passado, especialmente
para o núcleo duro da indústria.
Nesse sentido,
os resultados da produção de bens intermediários
vêm oscilando entre resultados positivos e negativos na
série com ajuste sazonal, sendo que no segundo trimestre
de 2016 as altas predominam: +0,7%, -0,5% e +0,5% em abril, maio
e junho frente ao mês anterior, respectivamente. Comportamento
parecido tem marcado a produção de bens de consumo
semi e não-duráveis, cuja alta em junho chegou 1,2%
frente a maio com ajuste. Esses dois macrossetores, que juntos
representam boa parte da indústria nacional, ao que parece,
chegaram ao “fundo do poço”.
Mas o quadro
presente não conta apenas com setores que pararam de piorar,
há também aqueles que passam, na margem, por um
processo mais favorável de obtenção de altas
em 2016. É o desempenho destes setores que permite vislumbrar
um futuro de recuperação da indústria.
A produção
de bens de capital é a que parece mais claramente estar
saindo do fundo do poço. Nos seis primeiros meses de 2016
todas as taxas foram positivas, frente ao mês imediatamente
anterior com ajuste sazonal, equivalendo a uma variação
de +2,2%. Para bens de consumo duráveis, apenas em maio
(+6,6%) e junho (+1,1%) houve crescimento, mas vale notar que
resultados positivos consecutivos não aconteciam desde
2013.
Estas trajetórias
têm permitido à indústria geral crescer, na
série com ajuste, em 5 dos 6 meses de 2016 (a exceção
foi fevereiro). A evolução entre abril e junho foi,
respectivamente, +0,5%, +0,4% e +1,1%, isto é, com direito
a uma aceleração no último mês.
Outra forma
de colocarmos em perspectiva o desempenho industrial de 2016 é
comparar o nível de produção (com ajuste)
do final de 2015 com aquele de antes da atual crise (dez/13) e
também o de junho de 2016 com o de dezembro de 2015. No
primeiro caso, temos uma noção de quão profundo
foi o mergulho do setor e, no segundo caso, em que ponto estamos
no retorno à superfície.
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Para a indústria geral, a perda entre dezembro de 2013
e dezembro de 2015 foi de 14,2%, mas já vemos crescimento
de 1,3% no período mais recente (jun/16 contra dez/15).
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A reversão mais expressiva cabe a bens de capital: -33,2%
e +13,9% em cada uma das comparações, respectivamente.
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Bens intermediários flertam com o terreno positivo no
período mais recente: -11,1% entre 2015 e 2013 e, agora,
-0,6% entre jun/16 e dez/15.
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Também caminham para o azul os bens semi e não-duráveis:
-6,7% e -0,2% em ambas as comparações.
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Quem encontra mais dificuldades são os bens de consumo
duráveis: -30,8% e -5,9% entre dez/15 e dez/13 e entre
jun/16 e dez/15, respectivamente.
Em resumo,
temos visto um estancamento do agravamento da crise da indústria
em 2016, o que não deixa de ser um alívio. O lado
ruim da história é que essa estabilização
ocorreu em um nível muito baixo de produção.
Em contraste, o lado bom é que existem indícios
que justificam pensar que a indústria estaria no início
de uma trajetória de recuperação, ainda muito
recente e sujeita a revezes.
O maior risco
que se coloca no momento é que variáveis que foram
importantes para chegarmos no atual estágio, como a taxa
de câmbio, têm se movido em sentido contrário,
podendo prejudicar enormemente a engrenagem da recuperação.
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Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE,
a produção industrial de junho registrou variação
de 1,1% frente a maio na série livre de influências sazonais,
o quarto resultado positivo consecutivo. Na comparação com
junho de 2015, a indústria assinalou queda de 6,0%. Assim, a indústria
acumulou decréscimo de 9,1% no primeiro semestre do ano, em comparação
com o mesmo período de 2015. O indicador acumulado dos últimos
doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresentou
variação negativa de 9,8%.
Categorias
de Uso. Entre as categorias de uso na comparação
com o mês imediatamente anterior, bens de capital (2,1%) mostrou
o avanço mais significativo. Bens de consumo semi e não-duráveis
(1,2%), bens de consumo duráveis (1,1%) e bens intermediários
(0,5%) também registraram crescimento na produção.
No confronto com junho
de 2015, bens intermediários (-7,6%) e bens de consumo duráveis
(-6,9%) assinalaram reduções mais acentuadas que a média
nacional (-6,0%). Bens de capital (-3,9%) e bens de consumo semi e não-duráveis
(-1,9%) também mostraram resultados negativos nesse mês.
No acumulado do ano,
bens de consumo duráveis (-22,2%) e bens de capital (-20,1%) foram
os setores a registrar menor dinamismo. Os bens intermediários
(-8,8%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-2,3%) também
assinalaram variações negativas.
Setores. A
alta de 1,1% da indústria entre maio e junho foi resultado do avanço
de 18 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para veículos automotores,
reboques e carrocerias (8,4%), seguido por perfumaria, sabões,
produtos de limpeza e de higiene pessoal (4,7%), metalurgia (4,7%), confecção
de artigos do vestuário e acessórios (9,8%), artefatos de
couro, artigos para viagem e calçados (10,8%), produtos farmoquímicos
e farmacêuticos (4,4%), e produtos de borracha e de material plástico
(2,4%). Entre os ramos que assinalaram queda, podemos destacar produtos
alimentícios (-0,7%), bebidas (-2,6%), coque, produtos derivados
do petróleo e biocombustíveis (-0,6%) e celulose, papel
e produtos de papel (-2,0%).
Na comparação
com junho de 2015, a produção industrial mostrou queda de
6,0%, influenciada pelo recuo da produção de 20 dos 26 ramos
pesquisados. Vale citar que junho de 2016 (22 dias) teve um dia útil
a mais do que igual mês do ano anterior (21). Entre as atividades,
os destaques negativos ficaram para a indústria extrativa (-12,5%)
e produção de coque, produtos derivados do petróleo
e biocombustíveis (-13,2%) exerceram as maiores influências
negativas. Podemos citar também o desempenho negativo de produtos
alimentícios (-3,3%), produtos de metal (-12,7%), produtos de minerais
não-metálicos (-9,9%), veículos automotores, reboques
e carrocerias (-4,3%), outros equipamentos de transporte (-18,5%), produtos
do fumo (-23,5%), metalurgia (-3,6%), equipamentos de informática,
produtos eletrônicos e ópticos (-8,2%), máquinas e
equipamentos (-2,9%), manutenção, reparação
e instalação de máquinas e equipamentos (-8,7%),
móveis (-9,8%) e confecção de artigos do vestuário
e acessórios (-4,4%). Por outro lado, outros produtos químicos
(2,3%) e de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados
(8,9%) exerceram as principais pressões positivas.
No índice acumulado
para o fechamento do primeiro semestre de 2016, frente a igual período
do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 9,1%, recuo de 23
dos 26 ramos. O principal impacto negativo foi observado em indústrias
extrativas (-14,0%) e veículos automotores, reboques e carrocerias
(-21,2%). Destacaram-se negativamente também os setores: máquinas
e equipamentos (-16,0%), coque, produtos derivados do petróleo
e biocombustíveis (-5,9%), metalurgia (-11,9%), equipamentos de
informática, produtos eletrônicos e ópticos (-27,0%),
produtos de metal (-15,1%), produtos de minerais não-metálicos
(-11,9%), produtos de borracha e de material plástico (-11,1%),
outros equipamentos de transporte (-22,2%), máquinas, aparelhos
e materiais elétricos (-13,2%), confecção de artigos
do vestuário e acessórios (-10,3%), móveis (-14,9%)
e produtos têxteis (-11,1%). Entre as atividades que apresentaram
crescimento na produção frente ao mesmo período de
2015, o setor de produtos alimentícios (2,0%) foi a maior influência,
seguido por celulose, papel e produtos de papel (2,5%) e de produtos farmoquímicos
e farmacêuticos (1,9%).
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