Análise IEDI
Dois meses fracos
Em agosto, a indústria teve o pior resultado de 2016 na série com ajuste sazonal. A queda foi de 3,8% frente a julho e anulou a alta acumulada nos cinco meses anteriores (+3,7%). Ademais, se for considerada a quase estabilidade de julho frente a junho (+0,1%), chega-se à conclusão de que o segundo semestre do ano não começou bem. Esses dois meses muito fracos acendem uma luz amarela à trajetória recente que, apesar de favorável, ainda estava longe de compensar as perdas anteriores.
A forte contração da produção industrial de agosto deve ser ponderada por dois aspectos. Do lado negativo, ela foi acompanhada de declínio na grande maioria dos setores pesquisados pelo IBGE (21 dos 24 setores). Por outro lado, alguns poucos setores tiveram quedas extremamente intensas, que podem, em alguma medida, estar refletindo fatores pontuais, já que em certos casos ocorreram altas também expressivas em meses anteriores. Tais setores compreendem veículos (-10,4%), alimentos (-8,0%) e vestuário e acessórios (-6,9%).
Entre os macrossetores da indústria, a maior retração da produção frente a julho foi sentida por bens de consumo duráveis, de -9,3% com ajuste sazonal. Este resultado interrompeu uma trajetória que vinha se mostrando promissora com três meses sucessivos de crescimento. Vale lembrar que sua contração em 2015 chegou a nada menos que -18,5% e que 2016 não vem trazendo uma reversão desse cenário ruim.
Os bens intermediários, por sua vez, caíram 4,3% em agosto, depois de dois meses consecutivos de alta de produção. Neste caso, como seus produtos são utilizados pelo restante da indústria, esse macrossetor tende a somatizar o dinamismo industrial como um todo. Sua queda, então, não é bom sinal.
Já a produção de bens de consumo semi e não duráveis caiu menos que a dos dois macrossetores supracitados: -0,9%. Mas nesse caso é preciso ter em mente que em julho também houve queda, de -2,4%, a mais intensa de 2016 na série com ajuste. De fato, existe um conjunto de fatores que vem jogando contra o desempenho desses bens, como a contração da massa salarial, a elevação dos preços de alimentos e a apreciação cambial ao longo do semestre, já que muitos de seus setores são exportadores.
Por fim, o único macrossetor a apresentar crescimento da produção foi o de bens de capital, em que os resultados positivos têm marcado quase todos os meses de 2016 na série com ajuste sazonal. Em agosto, a alta foi de 0,4%, o que consiste em um resultado muito fraco, especialmente se considerarmos que houve queda em julho de -2,1% frente a junho.
Em resumo, mesmo que contração da indústria geral em agosto tenha atingido o patamar de -3,8% muito em função dos resultados particularmente ruins de alguns poucos setores, o início do segundo semestre do ano traz apreensão e explicita os riscos de nova deterioração que a indústria ainda corre, a exemplo da apreciação cambial, cujos efeitos adversos sobre o dinamismo industrial têm sido enfatizados por esta Análise IEDI.
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação negativa de 3,8% frente ao mês imediatamente anterior em agosto de 2016 (com ajuste sazonal). Na série sem ajuste sazonal, no confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria apontou redução de 5,2%, 30ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. Dessa forma, o setor industrial acumulou queda de 8,2% nos primeiros oito meses do ano. No acumulado dos últimos doze meses, a indústria brasileira assinalou recuo de 9,3%.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, o setor produtor de bens de consumo duráveis (-9,3%) e bens intermediários (-4,3%) mostraram as reduções mais acentuadas. Bens de consumo semi e não-duráveis (-0,9%) também registrou taxa negativa, porém bem menos intensa. Por outro lado, o segmento produtor de bens de capital registrou avanço de 0,4%, após recuar 2,1% no mês imediatamente anterior.
No confronto com igual mês do ano anterior (agosto de 2016/ agosto de 2015), os bens de consumo duráveis (-12,4%) e bens intermediários (-6,9%) assinalaram as reduções mais acentuadas. Os bens de consumo semi e não-duráveis (-1,9%) também mostrou resultado negativo nesse mês, resultado oposto aos bens de capital, que assinalou expansão de 5,0%.
No índice acumulado nos oito primeiros meses de 2016 frente ao mesmo período de 2015, as categorias produtoras de bens de consumo duráveis (-20,2%) e bens de capital (-15,9%), registraram menor dinamismo. Os segmentos de bens intermediários (-8,0%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-2,7%) também assinalaram taxas negativas no índice acumulado do ano.
Setores. O recuo de 3,8% da atividade industrial na passagem de julho para agosto teve predomínio de índices negativos, alcançando 21 dos 24 ramos pesquisados. Os destaques negativos ficaram por conta dos setores de produtos alimentícios (-8,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,4%), indústrias extrativas (-1,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,9%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,8%), produtos de minerais não-metálicos (-5,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,9%), metalurgia (-1,7%), máquinas e equipamentos (-1,6%) e produtos de borracha e de material plástico (-1,9%). Por outro lado, entre os ramos que ampliaram a produção nesse mês, o desempenho de maior importância foi assinalado por produtos farmoquímicos e farmacêuticos, que avançou 8,3%.
Na comparação com igual mês do ano anterior, a queda da indústria foi puxada pelo recuo na produção de 18 dos 26 setores. Os maiores recuos foram observados nos ramos produtores de indústrias extrativas (-11,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-12,5%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-9,0%), produtos alimentícios (-2,9%), produtos de minerais não-metálicos (-11,0%), produtos do fumo (-45,2%), máquinas e equipamentos (-6,3%), outros equipamentos de transporte (-14,0%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,3%). Por outro lado, as principais pressões foram registradas por máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,1%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (7,0%) e outros produtos químicos (1,8%).
No índice acumulado para os oito meses de 2016, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 8,2%, com queda em 22 dos 26 ramos. Os principais impactos negativos ocorreram nos ramos produtores de indústrias extrativas (-13,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-18,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,5%), de máquinas e equipamentos (-14,4%), de metalurgia (-9,1%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-22,8%), de produtos de minerais não-metálicos (-11,5%), de produtos de metal (-11,8%), de outros equipamentos de transporte (-21,0%), de produtos de borracha e de material plástico (-8,7%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,4%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-7,8%) e de móveis (-13,4%). Por outro lado, a principal influência foi observada em produtos alimentícios (1,7%).