Análise IEDI
Um quadro de apreensão
A retração da produção industrial em agosto, que atingiu -3,8% frente a julho já descontados os efeitos sazonais, foi generalizada em termos setoriais (21 dos 24 ramos pesquisados) e também em termos regionais. É o que mostra a pesquisa divulgada hoje pelo IBGE, segundo a qual houve queda em 11 das 14 localidades acompanhadas.
O receio gerado por este resultado não se deve apenas ao fato de ter sido o segundo mês consecutivo de fraco desempenho da indústria e do perfil generalizado das quedas, mas também porque o declínio da produção atingiu os grandes centros industriais do país, interrompendo, em alguns casos, uma sequência de resultados positivos que vinham dando esperança de estar em curso o início de uma recuperação do setor.
Isso não quer dizer que a magnitude da queda de agosto não tenha sido influenciada por fatores pontuais que, a priori, podem não se repetir nos próximos meses, a exemplo do adiantamento de férias coletivas no setor automobilístico. De qualquer forma, o que temos nesse início de segundo semestre é um quadro de apreensão, com o risco de o desempenho industrial tornar-se claudicante daqui para frente.
Dentre as 11 localidades com declínio na produção na série com ajuste, destaca-se São Paulo, o maior e mais moderno parque industrial do país, com -5,4%. Mais do que o patamar dessa queda, que reflete aspectos pontuais, o preocupante é a inversão de sinal de seu desempenho. Há dois meses seguidos que a indústria paulista crescia (+1,3% em jun/16 e +2,5% em jul/16) antes desta queda em agosto.
Pior ainda, São Paulo não está sozinho nesse retorno ao terreno negativo, outras 4 localidades passaram pela mesma mudança. Após as altas nos meses de junho e julho, a produção industrial caiu em agosto no Paraná (-8,0%), em Minas Gerais (-2,8%), Pernambuco (-2,7%) e no Ceará (-2,4%).
Dois estados que já vinham apresentando resultados negativos, ainda que muito próximos de zero, ampliaram suas perdas entre julho e agosto: Amazonas passou de -0,5% para -5,7% e Goiás, de -0,6% para -2,9%, sempre na comparação frente ao mês anterior com ajuste sazonal. Outros três estados também tiveram quedas reincidentes em agosto, mas um pouco menores do que em julho. Foram os casos do Rio de Janeiro (-1,3%), Santa Catarina (-0,2%) e Rio Grande do Sul (-0,2%).
O Espírito Santo, por sua vez, teve uma retração importante da produção, de -6,4%, mas nesse caso tem havido, já há alguns meses, alternância de resultados positivos e negativos. O mesmo acontece com o Pará, exceto pelo fato de que em agosto houve alta de 1,2% frente a julho.
O único estado com aumento expressivo da produção industrial em agosto, na série com ajuste sazonal, foi a Bahia, mas a alta de 10,4% neste mês vem logo após um declínio igualmente expressivo no mês anterior (-11,4%). Foi muito devido ao desempenho da indústria baiana, que a região Nordeste apresentou crescimento de 0,8% em agosto.
Resultados Gerais. De acordo com os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal – Regional do IBGE, na comparação de agosto contra julho (com ajuste sazonal) a produção industrial recuou em 11 dos 14 locais pesquisados. As variações negativas mais intensas foram registradas nos estados do Paraná (-8,0%), Espírito Santo (-6,4%), Amazonas (-5,7%) e São Paulo (-5,4%). Goiás (-2,9%), Minas Gerais (-2,8%), Pernambuco (-2,7%), Ceará (-2,4%), Rio de Janeiro (-1,3%), Rio Grande do Sul (-0,2%) e Santa Catarina (-0,2%) completaram o conjunto de índices negativos em agosto. Por outro lado, a Bahia (10,4%) teve a alta mais acentuada no mês. As demais taxas positivas foram no Pará (1,2%) e Região Nordeste (0,8%).
Na base de comparação mês contra mesmo mês do ano anterior, 13 dos 15 locais mostraram redução na produção em agosto de 2016. As maiores quedas ficaram a cargo de Espírito Santo (-23,9%) e Bahia (-11,3%), seguidos por Goiás (-7,6%), Amazonas (-7,4%), Mato Grosso (-6,4%), Minas Gerais (-5,5%), Rio de Janeiro (-4,5%), Região Nordeste (-3,7%), Paraná (-3,5%), São Paulo (-3,3%), Ceará (-2,4%), Pernambuco (-1,8%) e Rio Grande do Sul (-1,4%). Pará (17,0%) e Santa Catarina (1,8%) foram as variações positivas, enquanto o desempenho do agregado Brasil, nesta comparação, foi de -5,2%.
A produção industrial acumulada entre janeiro e agosto de 2016 também apresentou queda em 13 das 15 localidades, com três recuando em intensidade superior à média nacional (-8,2%): Espírito Santo (-22,6%), Amazonas (-14,0%) e Pernambuco
(-14,0%). Minas Gerais (-7,6%), Rio de Janeiro (-7,3%), São Paulo (-7,0%), Goiás (-6,9%), Paraná (-6,6%), Rio Grande do Sul (-5,2%), Ceará (-4,7%), Santa Catarina (-4,7%), Bahia (-4,3%) e Região Nordeste (-3,7%) completaram o conjunto de quedas acumuladas no ano. Por outro lado, Pará (11,1%) e Mato Grosso (7,3%) assinalaram os avanços no índice acumulado no ano.
Região Nordeste. Na passagem de julho para agosto de 2016, a indústria da região Nordeste registrou alta de 0,8%, na série com ajuste sazonal. No confronto de agosto de 2016 com o mesmo mês de 2015, constatou-se decréscimo da produção industrial da região de 3,7%. Esse desempenho foi influenciado negativamente pelos setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-11,3%), produtos de minerais não-metálicos (-19,9%), metalurgia (-15,9%), outros produtos químicos (-3,5%), celulose, papel e produtos de papel (-5,7%) e produtos de metal (-10,3%). Por outro lado, as atividades de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (9,9%), de produtos alimentícios (3,1%) e de veículos automotores, reboques e carrocerias (4,0%) exibiram as influências positivas. No acumulado no ano de 2016 a produção industrial caiu 3,7%, sob influência de produtos alimentícios (-14,9%), produtos de minerais não-metálicos (-18,4%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-14,0%), de indústrias extrativas (-3,7%), de produtos têxteis (-7,3%), de produtos de borracha e de material plástico (-5,2%) e de bebidas (-3,5%), enquanto o setor produtor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (5,7%) exerceu o impacto positivo mais importante.
São Paulo. Em agosto, a indústria paulista apresentou recuou de 5,4% na comparação com julho (dados livres de efeitos sazonais). Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), o estado registrou queda de 3,3%, sob influência de: oque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (-13,7%), máquinas e equipamentos (-11,2%), de produtos alimentícios (-3,4%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,0%) e de produtos de minerais não-metálicos (-12,8%). Por outro lado, as principais contribuições positivas vieram dos setores de outros produtos químicos (5,5%) e de produtos de metal (7,3%). No acumulado no ano de 2016, por sua vez, a produção industrial recuou 7,0%, com destaque negativo para os setores de: veículos automotores, reboques e carrocerias (-18,2%), coque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (-13,2%), máquinas e equipamentos (-10,2%), de produtos de metal (-13,2%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-16,6%), de produtos de borracha e de material plástico (-8,1%), de produtos de minerais não-metálicos (-10,1%), de metalurgia (-9,4%) e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,0%). O setor de produtos alimentícios, por sua vez, exerceu a maior influência positiva, com variação positiva de 7,0%.