Análise IEDI
Obstáculos a serem superados
Como o IEDI tem observado em suas Análises, o quadro em 2016 tem sido menos trágico do que em 2015, principalmente para a indústria e em menor medida para o comércio e os serviços. Mas também tem sido alertada a fragilidade de tal quadro, ainda muito sujeito a riscos de nova reviravolta.
Por isso, preocupa a perda de dinamismo econômico na entrada do segundo semestre do ano, como sugerem os indicadores de desempenho dos três grandes setores da economia que, depois de um mês de julho bastante fraco, apresentaram queda acentuada no mês de agosto.
Porque os obstáculos à recuperação parecem ter se avolumado nesse início de semestre, é muito bem-vinda a decisão do Banco Central em reduzir a taxa básica de juros (de 14,25% para 14,0%). Mas esse movimento da autoridade monetária precisa ser acelerado para que possa ter efeitos positivos sobre o nível de atividade econômica no primeiro semestre do ano que vem. Por enquanto, os juros permanecem um entrave à recuperação.
A redução mais expressiva dos juros é ainda mais importante neste momento em que os setores bastante empregadores, como o comércio e serviços, dão poucos sinais de saída da crise e reforçam o círculo vicioso com a piora do emprego e da renda das famílias, ao mesmo tempo em que a apreciação cambial tem dificultado a única rota de fuga da crise doméstica para a indústria, por intermédio das exportações e da substituição de importações. É preciso que o governo também evite elevações mais acentuadas no valor da moeda nacional.
A Carta IEDI a ser divulgada ainda hoje faz um panorama deste cenário em que a atividade econômica voltou a perder força. Sintetizamos abaixo seus principais resultados.
Em agosto frente a julho, a produção industrial caiu 3,8%, anulando todo o crescimento dos cinco meses anteriores (3,7%). No caso do volume de vendas do comércio varejista, neste mesmo mês houve a segunda retração consecutiva de 0,6% frente ao mês imediatamente anterior. Já o faturamento real do setor de serviços recuou 1,6% frente a julho, compreendendo o pior resultado da série com ajuste sazonal.
A piora do quadro geral em agosto também foi captado pelo IBC-Br, índice calculado pelo Banco Central e que funciona como uma prévia do PIB, que apresentou retração de 0,9% frente a julho, já descontados os efeitos sazonais. Esse resultado é o pior de 2016 e sucede outra variação negativa em julho (-0,2% frente a junho).
Em agosto, a despeito de fatores pontuais, pesa sobre o resultado da indústria (-3,8%) a generalização setorial e regional das perdas. Houve queda da produção em 21 dos 24 ramos pesquisados e em 11 das 14 localidades acompanhadas. Mais do que isso, o declínio da produção atingiu os grandes centros industriais do país, interrompendo, em alguns casos, uma sequência de resultados positivos que vinham dando esperança de que o setor estava prestes a deixar para trás a severa recessão que o acompanhava desde 2014.
Nesse sentido, o resultado mais alarmante refere-se ao estado de São Paulo, que possui o maior e mais moderno parque industrial do país. A indústria paulista levou um tombo de -5,4% frente a julho, com ajuste sazonal. Além da magnitude dessa queda, sobre a qual agem fatores pontuais, o pior é que houve a inversão de sinal de seu desempenho. Há dois meses seguidos que a indústria paulista crescia (+1,3% em jun/16 e +2,5% em jul/16) antes dessa perda em agosto.
Em agosto, a indústria também pouco pôde contar com o dinamismo do comércio varejista, que é um importante meio de escoamento da produção industrial. A contração das vendas reais do varejo (-0,6% no conceito restrito e -2,0% no conceito ampliado) não foi das mais intensas do ano, mas sua disseminação entre os segmentos do varejo foi elevada, atingindo 6 das 8 atividades pesquisadas pelo IBGE.
Entre os piores resultados de agosto, encontram-se aqueles segmentos cujas vendas dependem geralmente de algum tipo de financiamento, como os de veículos e autopeças (-4,8%), de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-5,0%), móveis e eletrodomésticos (-2,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,2%), que incluem as lojas de departamento. Vale notar que a indústria produtora de muitos desses bens acumula perdas elevadíssimas desde o ano passado.
Já as vendas reais de supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+0,8%) voltaram a crescer depois de uma queda em julho (-0,7%) que havia interrompido uma sucessão de três resultados positivos. Essa trajetória recente, apesar dos resultados modestos, traz perspectivas menos desfavoráveis à produção indústria de bens não duráveis, especialmente de alimentos.
Serviços foi outro setor da economia a apresentar nível expressivo de retração, -1,6% frente a julho com ajuste, e isso a despeito da realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro entre os dias 5 e 21 do mês em questão. A maioria de seus segmentos acompanharam o movimento geral do setor e tiveram retração de faturamento.
O pior desempenho ocorreu em serviços prestados às famílias, com -1,6%, já descontados os efeitos sazonais, mas também não foram bem os serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,3%) prestados às empresas. Outro segmento digno de nota foi o de transportes terrestres, que chegou a cair nada menos que -3,3% frente a julho, provavelmente muito influenciado pelo tombo da produção industrial em agosto.