Análise IEDI
Perspectiva ainda negativa
A pesquisa PNAD divulgada hoje pelo IBGE, abrangendo o trimestre setembro-novembro de 2016, permite delinear o quadro do emprego no Brasil. A situação não é nada favorável: a taxa de desocupação é de quase 12%, equivalendo a mais de 12 milhões de pessoas sem trabalho atualmente no país.
Chegamos a esses resultados devido à recessão aberta da economia nos dois últimos anos. Foi um período ímpar na história econômica do país que não poupou o emprego, o rendimento e a massa real de renda da população, fatores que juntamente com o crédito (que também entrou em crise) definem o dinamismo do mercado interno consumidor.
Desde o início da recessão no final de 2014 e entrada de 2015, a taxa de desocupação subiu de 6,5% da força de trabalho para 9% em fins de 2015 e daí para 11,9% na atualidade. Em número de pessoas, o desemprego que chegava a 6,5 milhões em fins de 2014, atinge 9 milhões um ano depois, alcançando 12,1 milhões presentemente.
Um resultado não propriamente positivo, mas que de certa forma poderia ser considerado alentador, reside na sequência de estabilidade pelo quarto trimestre móvel consecutivo tanto da taxa de desocupação, quanto do número de brasileiros que não encontra trabalho. Não tivesse o cenário econômico mostrado novos sinais de retração nos últimos meses – quando também voltaram a piorar as expectativas de empresários e consumidores – tal resultado seria indicativo de que poderia estar por vir a tão esperada melhora do emprego.
Como o emprego reage positiva ou negativamente à melhora ou piora do nível de atividade, porém com certa defasagem – as empresas tendem a aguardar a confirmação de expansões ou retrações antes de tomarem decisões de contratar ou dispensar pessoal para não incorrerem em custos – possivelmente a piora da atividade industrial e do comércio ocorrida nos últimos meses poderá se impor, agravando o desemprego na entrada de 2017.
Quanto ao rendimento médio real do trabalho habitual das pessoas ocupadas, este caiu 0,5% em setembro-novembro de 2016 relativamente ao mesmo trimestre de 2015. Como cabe notar, o rendimento real passou a declinar a taxas elevadas (próximas ou superiores a 3%) desde fins de 2015, chegando a declinar 4,2% em meados de 2016. Nesse contexto, pode ser considerada positiva a variação de -0,5% acima referida, obtida, a propósito, porque a inflação recuou expressivamente.
Tal comportamento do rendimento abriu caminho, por seu turno, para um declínio mais moderado da massa real de rendimentos que, como já foi sublinhado, é um dos principais determinantes do consumo familiar. No último trimestre coberto pela PNAD, a queda foi de 2% na comparação anual, a menor taxa de 2016.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação foi de 11,9% no trimestre de setembro a novembro de 2016, 2,9 p.p. acima da taxa observada no mesmo trimestre do ano passado (9,0%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (junho a agosto), a taxa observada foi de 11,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos, no valor de R$ 2.032,00, teve aumento de 0,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e variação negativa de 0,5% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.972,00, correspondendo a uma expansão de 0,2% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e retração de 0,4% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 178,9 bilhões, variação positiva de 0,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de -2,1% sobre o mesmo trimestre de 2015.
No trimestre de referência, a população ocupada de 90,2 milhões de pessoas registrou aumento de 0,1% face ao trimestre anterior. A variação sobre o mesmo trimestre de 2015 foi de -2,1%. Na mesma comparação, o número de pessoas na força de trabalho cresceu 1,1% atingindo 102,3 milhões de pessoas, enquanto que o número de desocupados aumentou 33,1%, o equivalente a 12,1 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas categorias empregador (4,1%), trabalho privado sem carteira (3,5%) e setor público (0,3%). As demais tiveram retração: trabalhador doméstico (-2,5%), trabalhador por conta própria (-3,0%), trabalho privado com carteira (-3,7%) e trabalho familiar auxiliar (13,6%).
Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre setembro e novembro de 2015, estão: alojamento e alimentação (7,8%), outros serviços (7,0%), transporte, armazenagem e correios (2,3%) e administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (0,8%).
Já os setores que tiveram retração, foram: comércio, reparação de veículos automotores e motores (-1,0%), informação, comunicação e atividades financeiras (-2,6%), serviços domésticos (-3,1%), agricultura, produção florestal, pesca e aquicultura (-4,7%), indústria (-8,2%) e construção (-9,0%).