Análise IEDI
A indústria em desalento
À medida que as estatísticas sobre o desempenho da indústria no final do ano passado vão sendo divulgadas, torna-se cada vez mais claro que a moderação da crise do setor em 2016 foi bastante insuficiente. A queda da produção industrial no acumulado do ano até o mês de novembro já chega a -7,1%, um resultado apenas um pouco “menos ruim” do que o do ano completo de 2015 (-8,3%).
A bem na verdade, a indústria enfrenta fortes adversidades já há quase 6 anos. Se considerarmos o período de 2011 a 2013, na média o crescimento da produção foi praticamente nulo. Desde então, o setor viveu uma crise aberta e em trajetória de agravamento que 2016 não conseguiu reverter.
Por isso, o quadro é de frustração, ainda mais porque no primeiro semestre do ano passado havia sinais de que o pior da crise do setor já havia passado. Na primeira metade do ano, variações positivas mês após mês na série com ajuste sazonal predominavam na indústria geral e, especialmente, na de bens de capital. Com a virada do semestre, isso se perdeu e, no melhor dos casos, as trajetórias tornaram-se voláteis, alternando variações positivas e negativas, sendo as quedas de maior magnitude.
É neste contexto que deve ser vista a alta de 0,2% da indústria brasileira em novembro frente a outubro, já descontados os efeitos sazonais. Além de muito pequena, é preciso ressaltar que foi acompanhada do crescimento de apenas metade (13 de 24) dos setores pesquisados pelo IBGE, o que tira substância do resultado geral. Contudo, ainda nesta comparação, não passa despercebido o aumento de 2,5% em bens de capital, que deve ser comemorado pois vem após quatro meses de consecutivos declínios.
De fato, a redução das perdas na produção de bens de capital parece ter perdido força na segunda metade de 2016. Esse movimento fica claro na sua evolução trimestral frente a igual período do ano anterior, que se estabiliza pouco abaixo de -5,0% no terceiro trimestre e na média de outubro e novembro. Os dados a seguir ilustram os resultados trimestrais para a indústria geral e seus segmentos:
• Indústria geral: -11,4% no primeiro trimestre, -6,5% no segundo trimestre, -5,3% no terceiro trimestre e -4,4% em outubro-novembro, sempre em relação ao mesmo período de 2015;
• Bens de capital: -27,9%, -9,7%, -4,9% e -4,8%, respectivamente;
• Bens intermediários: -10,2%, -7,3%, -5,0% e -4,0%;
• Bens de consumo duráveis: -27,4%, -16,8%, -11,2%, +0,5%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -4,1%, -0,5%, -4,6% e -6,3%, nas mesmas comparações.
Note-se que no caso da indústria geral a trajetória difere um pouco da de bens de capital, pois seu ritmo de contração continuou apontando uma moderação, inclusive nos dois últimos meses (outubro e novembro), o que também ocorreu com a produção de bens intermediários, cujo peso no setor industrial é importante, e em bens de consumo duráveis.
Neste último caso, o resultado no bimestre chegou até a ser positivo, em grande medida devido à alta na fabricação de veículos no mês de novembro (+13,4% frente a nov/15) em função de uma base de comparação muito baixa. Isso significa que o sinal positivo em duráveis pode não resistir ao fechamento da média do último trimestre de 2016.
Finalmente, uma observação sobre a situação em bens de consumo semi e não duráveis, que é ainda mais complicada, posto que este segmento sofreu uma reversão de quadro no segundo semestre de 2016. O arrefecimento de suas perdas na primeira metade do ano deu lugar a um agravamento da retração no terceiro trimestre e no bimestre formado por outubro e novembro, apontando para um retorno ao nível de queda do final de 2015.
Por abrigar os setores da indústria mais empregadores e mais disseminados do ponto de vista regional, esta piora do desempenho na produção de bens semi e não duráveis é especialmente prejudicial, sobretudo para as regiões mais pobres do país.
A produção industrial brasileira registrou alta de 0,2% em novembro frente a outubro na série livre de efeitos sazonais. Frente ao mesmo mês de 2015, a variação foi de
-1,1%, trigésimo terceiro resultado negativo consecutivo nesse tipo de comparação. No acumulado entre janeiro e novembro, o decréscimo chega a 7,1%, enquanto a variação dos últimos 12 meses foi de -7,5%.
Categorias de Uso. No mês de novembro frente a outubro na série com ajuste sazonal, bens de consumo duráveis (4,0%) e bens de capital (2,5%) obtiveram as taxas positivas mais significativas, seguidos por bens intermediários (0,5%). Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,5%) assinalou a única taxa negativa.
No confronto com igual mês do ano anterior, bens de consumo semi e não-duráveis (-4,8%) e produtor de bens intermediários (-0,6%) registraram resultado negativo, enquanto bens de consumo duráveis (9,0%) e bens de capital (1,1%) apontaram as taxas positivas nesse mês.
No período de janeiro-novembro de 2016 em comparação com o mesmo período de 2015, as maiores quedas foram verificadas em bens de consumo duráveis (-15,4%) e bens de capital (-13,2%). No caso dos bens de capital, podemos destacar a queda dos bens de capital para equipamentos de transporte (-14,1%) e para fins industriais (-12,0%). Os bens intermediários (-6,8%) e de consumo semi e não-duráveis (-3,7%) também assinalaram taxas negativas no índice acumulado no ano.
Setores. Entre os meses de outubro e novembro, na série com ajustamento sazonal, das 24 atividades pesquisadas pelo IBGE, 13 assinalaram alta. O principal impacto positivo foi registrado pelo setor produtor de veículos automotores, reboques e carrocerias (6,1%), seguido pelas indústrias extrativas (1,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (6,6%), máquinas e equipamentos (2,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (4,4%), produtos de minerais não-metálicos (2,2%) e produtos de borracha e de material plástico (2,2%).
Já as contribuições negativas mais significativas vieram de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,3%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-1,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,1%), outros equipamentos de transporte (-5,7%), produtos alimentícios (-0,3%) e produtos de metal (-1,6%).
Na comparação entre novembro de 2016 e novembro de 2015, dentre dos 16 segmentos que obtiveram decréscimo, podemos destacar: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-9,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-13,4%), outros equipamentos de transporte (-20,5%), produtos de minerais não-metálicos (-6,8%), bebidas (-6,0%), produtos alimentícios (-1,5%), produtos de metal (-7,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,0%) e produtos de borracha e de material plástico (-4,5%). Por outro lado, entre as dez atividades que apontaram expansão na produção, a principal influência foi registrada por veículos automotores, reboques e carrocerias (13,4%).
No acumulado entre janeiro e novembro do presente ano contra os mesmos onze meses de 2015, foi verificado a redução da produção em 23 das 26 atividades. As maiores contribuições negativas foram registradas por indústrias extrativas (-10,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-13,2%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,4%). Por outro lado, entre as três atividades que ampliaram a produção nos 11 meses de 2016, as principais influências foram observadas em produtos alimentícios (0,9%) e celulose, papel e produtos de papel (2,7%).