Análise IEDI
Um mês de alento
Em novembro, o comércio varejista conseguiu obter o primeiro resultado positivo no segundo semestre de 2016. Na série com ajuste sazonal, a alta do faturamento real das vendas foi de 2,0% frente a outubro, dando algum alento após uma trajetória pontuada por variações negativas ou muito próximas de zero desde o mês de março. Em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, o crescimento foi de apenas 0,6%.
Ainda assim, cabe ter em conta que o desempenho de novembro foi influenciado por um fator pontual, qual seja, as promoções da Black Friday. Isso explica o aumento mais acentuado do faturamento real das vendas de móveis e eletrodomésticos (+2,1% frente a out/16), equipamentos de escritório, informática e comunicação (+4,3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento (+7,2%) e até material de construção (+7,2%).
Como tem ocorrido em anos anteriores, as promoções de novembro podem, contudo, ter adiantado as compras de final de ano, o que pode implicar um resultado mais fraco nas vendas de dezembro, compensando o resultado favorável. Se isso de fato ocorrer, a alta de novembro pode ser apenas um ponto fora da curva, já que, mês após mês, o que mais vimos em 2016 foi o recuo do varejo.
Outro fator, a impactar positivamente as vendas do comércio tem sido a desaceleração da inflação, sobretudo a de alimentos, o que vem ajudando o segmento de hiper e supermercados, alimentos, bebidas e fumo a reduzir suas perdas em outubro (-0,3%) e a voltar a crescer em novembro (+0,9%) na série com ajuste sazonal.
São justamente esses segmentos do varejo de bens de consumo duráveis e de alimentos que têm assegurado, nos últimos meses, uma trajetória de moderação das perdas do setor. As variações trimestrais frente ao mesmo período do ano anterior e do bimestre formado por outubro e novembro mostram bem esse movimento, cujas raízes estão não apenas nos argumentos acima expostos, mas também numa base de comparação mais baixa, já que o quadro do comércio piorou muito na segunda metade de 2015.
A seguir as variações das vendas trimestrais em volume de alguns segmentos do varejo sempre em relação a igual período do ano anterior:
• Móveis e eletrodomésticos: -17,0% no primeiro trimestre, -12,1% no segundo trimestre, -11,1% no terceiro trimestre e -10,3% em nov-out/16;
• Equipamentos de escritório, informática e comunicação: -16,7%, -15,7%, -11,4% e -8,1%, respectivamente;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -12,8%, -11,7%, -10,4% e -3,9%;
• Material de construção: -14,8%, -11,1%, -10,1% e -9,0%;
• Hiper e supermercado, alimentos, bebidas e fumo: -2,8%, -4,0% -1,9% e -3,9%.
Além de recente, não se deve perder de vista que a moderação sugerida pelos dados ainda é muito tênue, já que os patamares de queda permanecem expressivos. Além do mais ela diz respeito especialmente ao comércio em seu conceito restrito, cujas vendas reais, que caíram 7,0% no primeiro trimestre de 2016, recuaram para -5,6% no terceiro trimestre e dão sinais de estabilização deste ritmo de queda em out-nov/16 (-5,8%).
Já em seu conceito ampliado, o nível de retração das vendas só mostra arrefecimento digno de nota no bimestre formado por outubro e novembro (-7,3%), tendo ficado muito próximo de -9,0% nos três primeiros trimestres de 2016. Isso se deveu sobretudo às vendas de automóveis e autopeças, cujo desempenho só foi menos ruim no bimestre em tela (-10,6%).
De qualquer maneira, a despeito dessa moderação nos últimos meses, 2016 será um ano de aprofundamento da crise do varejo, dado que até novembro a queda acumulada chega a -6,5% no conceito restrito contra um resultado de -4,3% no ano de 2015 como um todo. Em seu conceito ampliado, por sua vez, ao que parece, 2016 (-8,8% até nov/16) será tão ruim quanto 2015 (-8,6%).
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o volume de vendas do comércio varejista em novembro, com dados já ajustados sazonalmente, cresceu 2,0%. No confronto com o mesmo mês de 2015, houve recuo de 3,5%. No acumulado nos onze primeiros meses do ano, frente o mesmo período de 2015, a queda do volume de vendas chegou a 6,4%. Já a variação acumulada nos últimos 12 meses foi de -6,5%.
Na série ajustada sazonalmente, cinco atividades tiveram variações positivas: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,9%), artigos de uso pessoal e doméstico (7,2%), móveis e eletrodomésticos (2,1%), equipamentos de escritório, informática e comunicação (4,3%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,6%). Por outro lado, entre as atividades com redução no volume de vendas, ficaram tecidos, vestuário e calçados (-1,5%), livros, jornais, revistas e papelaria (-0,4%) e combustíveis e lubrificantes (-0,4%). Em relação ao varejo ampliado, a variação de + 0,6% ocorreu devido à influência de material de construção (7,2%), dado que veículos, motos e partes e peças recuou 0,3%.
Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), todas as atividades do comércio varejista apresentaram recuo de vendas: móveis e eletrodomésticos (-7,4%), combustíveis e lubrificantes (-8,1%), tecidos, vestuário e calçados (-9,6%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,1%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-3,0%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-9,2%), livros, jornais, revistas e papelaria (-11,8%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,4%). No varejo ampliado, as atividades de material de construção (-4,3%) e veículos, motos e partes e peças (-7,6%) também registraram variação negativa nas vendas.
No acumulado entre janeiro e novembro de 2016, em comparação ao mesmo período de 2015, todas as atividades tiveram resultados negativos: livros, jornais, revistas e papelaria (-16,5%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-13,6%), móveis e eletrodomésticos (-13,0%), tecidos, vestuário e calçados (-11,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-10,2%), combustíveis e lubrificantes (-9,6%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-1,7%). Material de construção (-11,4%) e veículos, motos e partes e peças (-13,9%) também registraram variação negativa nas vendas.
A partir dos dados de volume de vendas dessazonalizados, na comparação de novembro /outubro de 2016, verificou-se que das 27 regiões contempladas pela pesquisa, 23 registraram variação positiva, com as maiores taxas de variação sendo observadas em Tocantins (6%) e Paraíba (3,8%). Alagoas e Roraima, ambos com taxas de -0,9% formaram os estados com recuos mais acentuados nessa comparação.
Frente a novembro de 2015, o comércio varejista registrou queda em 21 dos 27 estados para o volume de vendas, com destaque para Pará (-13,7%). O destaque positivo ficou para o estado da Paraíba (11%). Quanto à participação na composição da taxa negativa do varejo, destacaram-se São Paulo (-3,4%); Rio de Janeiro (-6,8%) e Bahia (-7,5%).