Análise IEDI
O agravamento da crise do varejo
A crise do comércio varejista avançou mais uma etapa em 2016, aprofundando suas perdas de -4,3% em 2015 para -6,2% e de -8,6% para -8,7% no conceito ampliado. Assim, ainda que sua crise tenha se revelado um pouco depois da industrial (cuja produção cai desde 2014), não é de hoje que o varejo enfrenta dificuldades de grande magnitude, na esteira da contração do crédito, elevação do desemprego e corrosão dos rendimentos reais que se apresentaram na economia brasileira no último biênio.
Nem as liquidações do mês de novembro, que vêm se tornando cada vez mais importantes para as vendas do comércio, conseguiram alterar a tendência de declínio do setor. Isso porque a alta na série com ajuste sazonal de apenas 1,0% em novembro relativamente a outubro foi sobrepujada pelo recuo de 2,0% em dezembro frente a novembro.
Dessa forma, nos dois últimos anos a queda do varejo acumula -10,3% em seu conceito restrito e -16,6% no conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e material de construção. Para alguns de seus segmentos, contudo, a situação foi muito mais grave, como mostram os dados a seguir:
• Varejo total restrito: -4,3% em 2015 e -6,2% em 2016
• Móveis e eletrodomésticos: -14,1% e -12,6%, respectivamente;
• Veículos e peças: -17,8% e -14,0%;
• Tecidos, vestuário e calçados: -8,6% e -10,9%;
• Hiper, supermercado, alimentos e bebidas: -2,5% e -3,1%;
• Artigos farmacêuticos, médicos, ortop. e perfumaria: 3,0% e -2,1%, respectivamente.
Os segmentos mais atingidos pela crise são aqueles cujas vendas dependem mais do acesso ao crédito e de expectativas dos consumidores em relação ao futuro, ou seja, os bens duráveis de consumo. Como esses alicerces ruíram nos últimos anos, esses segmentos entraram em colapso.
Este é o caso das vendas de automóveis, cuja retração acumulada em 2015 e 2016 atingiu -29,3%, de móveis e eletrodomésticos, com queda de -24,9% e de material de construção, com declínio de -18,2%. Diante da necessidade de reestruturação orçamentária das famílias, o consumo desses bens aparece como alvos mais fáceis para adiamento de despesas, sem comprometer, ao menos por um tempo, o conforto das pessoas.
Também estaria em uma situação parecida a esta o segmento de material de escritório, informática e comunicação – já que também é influenciado pelos mesmos fatores que os demais – não fosse o processo de inovação que caracteriza vários de seus produtos. O lançamento de novos modelos e novas tecnologias estimulou o consumo e ajudou a amortecer em alguma medida suas perdas no biênio 2015-2016 (-13,9%).
Outros segmentos serviram como complemento desse processo de ajustamento dos orçamentos familiares, que sofreram grande retração seja devido ao forte aumento de preços de energia e de combustíveis (em 2015) e de alimentos em (2015/2016), seja como consequência do aumento do desemprego. São os casos das vendas de tecidos, vestuário e calçados (queda de -18,5% no biênio 2015-2016), livros, jornais e papelaria (-25,2%) e artigos de uso doméstico (-10,7%).
Por fim, aqueles segmentos cujas perdas têm sido menos agudas envolvem produtos cuja postergação do consumo é mais difícil. É isso que está na origem do patamar de queda inferior aos dos demais segmentos de hiper, supermercado, bebidas e fumo, que no biênio 2015-2016 acumulou variação negativa de 5,5%. Já no caso de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria as vendas apresentaram alta, ainda que de apenas 0,9%.
Cabe observar ainda que ao longo de 2016 até houve algum arrefecimento da retração das vendas do comércio varejista, mas isso ocorreu de forma muito tímida, saindo de -7,0% no primeiro trimestre para -5,5% no último trimestre do ano. Além disso, esse movimento parece ter se estancado do terceiro para o quarto trimestre e foi acompanhado por poucos segmentos, notadamente aqueles que já haviam caído muito, como material de escritório, informática e comunicação, outros artigos de uso pessoal, material de construção e móveis e eletrodomésticos. Não são sinais favoráveis para a desejada recuperação do setor nesse início de 2017.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio de dezembro de 2016, divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, teve retração de 2,1% em relação a novembro. Na comparação com dezembro do ano passado, verificou-se também queda de 2,1% e, no acumulado do ano, de -6,2%.
O comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, apresentou retração quase nula, de 0,1% sobre novembro, com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo mês de 2015, o decréscimo foi de 6,7% e no acumulado do ano a queda alcançou 8,7%.
Frente ao mês de novembro, apresentaram alta os seguintes segmentos: combustíveis e lubrificantes (2,1%), equipamentos de escritório, informática e comunicação (1,9%), tecidos, vestuário e calçados (0,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,1%). Negativamente, destacaram-se livros, jornais, revistas e papelaria (-1,1%), móveis e eletrodomésticos (-2,5%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,0%). No comércio varejista ampliado, a venda de veículos e motos, partes e peças registrou expansão de 1,8%, enquanto que a venda de materiais de construção aumentou 2,1%.
Em relação ao mês de dezembro de 2015, todos os setores pesquisados seguem apresentando forte retração. No varejo restrito, os maiores recuos foram em livros, jornais, revistas e papelaria (-12,5%), móveis e eletrodomésticos (-8,9%), tecidos, vestuário e calçados (-8,8%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-5,6%), combustíveis e lubrificantes (-5,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,8%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,9%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-1,2%). No varejo ampliado, a venda de material de construção retraiu -1,6%, enquanto que a de veículos e motos, partes e peças retrocedeu 13,5%.
No acumulado do ano de 2016, todos os segmentos permanecem apresentando resultados negativos expressivos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-16,1%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-12,3%), móveis e eletrodomésticos (-12,6%), tecidos, vestuário e calçados (-10,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-9,5%), combustíveis e lubrificantes (-9,2%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-2,1%). No varejo ampliado, a venda de materiais de construção retraiu 10,7% e a de veículos, motos, partes e peças, -14,0%.
Em relação a dezembro de 2015, no comércio varejista ampliado houve queda em 25 unidades da federação pesquisadas. As maiores variações negativas foram: Pará (-12,6%), Mato Grosso (-12,4%), Rondônia (-12,0%), Amapá (-10,9%), Piauí (-8,2%), Bahia (-8,2%), Espírito Santo (-7,9%), Pernambuco (-7,6%), Rio de Janeiro (-7,4%), Rio Grande do Norte (-7,4%) e Distrito Federal (-6,6%). Do lado positivo, apenas Santa Catarina (0,8%) e Roraima (1,3%).