Análise IEDI
À espera da melhora do crédito
Mesmo que como proporção do PIB o estoque de empréstimos continue caindo – chegou a 48,7% em janeiro deste ano frente a 52,3% do PIB no mesmo mês do ano anterior – houve avanço de 3,8% das concessões totais de crédito em termos reais relativamente a janeiro de 2016.
Segundo os dados do Banco Central divulgados hoje, isto ocorreu depois de 19 meses consecutivos de queda das concessões que somaram R$ 258,6 bilhões no mês passado. Este fato novo que, em sendo confirmado, será verdadeiramente positivo para o reerguimento da economia, poderia ter ocorrido com muito maior antecedência caso as taxas de juros vigentes no crédito não fossem tão altas, espelho de spreads desmesuradamente avantajados para quaisquer padrões de comparação internacionais que prevalecem em nossa intermediação bancária.
Foram apenas as concessões às famílias (R$ 157,7 bilhões) que possibilitaram esse retorno ao positivo na evolução do crédito, já que as condições de financiamento às empresas (R$ 100,9 bilhões) permaneceram restritivas. Puxadas sobretudo pelo crédito consignado e pelo crédito à aquisição de automóveis, as concessões às pessoas físicas subiram 11% em termos reais na comparação com janeiro de 2016. Em contraste, as concessões às pessoas jurídicas caíram 5,9%, mas vale notar que este é um patamar de retração muito inferior ao dos últimos meses (-16,6% no quarto trimestre de 2016).
Abaixo, segue um quadro síntese do crédito no Brasil nos últimos quatro meses:
• Concessões totais em termos reais: -8,2%, -4,5%, -8,3% e +3,8%, entre out/16 e jan/17 frente ao mesmo mês do ano anterior;
• Taxas médias de juros nominais (a.a.): 33,3%, 33,0%, 32,0% e 32,8% no mesmo período
• Spread médio para o total das concessões: 23,9 p.p., 23,4 p.p., 22,5 p.p. e 23,8 p.p.
• Inadimplência média total: 3,9%, 3,8%, 3,7% e 3,7%, no mesmo período.
A reativação do mercado de crédito é uma das condições necessárias para colocar novamente a economia nacional nos trilhos do crescimento. Como se sabe, crédito escasso e caro prejudica o desempenho do comércio e da indústria, notadamente aquela produtora de bens duráveis, inibe a realização de investimentos e dificulta a renegociação de dívidas, tão importante para a reestruturação do orçamento tanto das famílias como das empresas.
Por essas razões, é muito bem-vinda a decisão do Banco Central em acelerar o ritmo de redução dos juros básicos (Selic), decidindo ontem por mais um corte de 0,75 ponto percentual. Com isso, já são quatro reduções seguidas que, entre outubro de 2016 e fevereiro de 2017, levaram a Selic de 14,25% a.a. para 12,25% a.a. (-2,0 p.p.).
É preciso, contudo, que essa redução da taxa básica chegue aos juros dos empréstimos dos tomadores finais, o que pode levar algum tempo a depender das políticas de precificação do crédito adotadas pelos bancos. A contar pelos dados até agora disponíveis, o impacto nas taxas médias de juros das concessões ainda é muito pequeno.
Desde outubro de 2016, quando houve a primeira redução da Selic, os juros nominais médios cobrados das empresas declinaram quase nada: de 21,6% a.a. para 21,1% a.a. em janeiro de 2017 (-0,5 p.p.). E as taxas dos empréstimos às famílias regrediu muito pouco: de 42,9% a.a. para 41,9% a.a. (-1,0 p.p.) no mesmo período. Na média geral, o recuo foi de 33,3% para 32,8% (-0,5 p.p.).
Essa evolução dos juros das concessões só não foi melhor porque a lenta redução dos spreads bancários desde outubro foi interrompida em janeiro deste ano, a despeito de uma inadimplência menor. Entre outubro e dezembro de 2016, o spread médio saiu de 23,9 p.p. para 22,5 p.p., voltando a subir para 23,8 p.p. em janeiro de 2017. Em compensação, a inadimplência média total recuou de 3,9% para 3,7% de outubro a janeiro. Não há como explicar o maior spread bancário se a inadimplência se encontra em queda.
Em suma, quanto mais rápido as recentes decisões de política monetária se fizerem sentir no guichê dos bancos, maiores serão as chances de que a economia brasileira venha a ter em 2017 um desempenho positivo. Em boa medida, porque dada a natureza durável de muitos bens industriais a redução dos juros dos empréstimos pode trazer robustez à recuperação que a indústria já vem ensaiando.
Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.074 bilhões em janeiro, que corresponde a uma participação no PIB de 48,7%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 24,3% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 24,4% do PIB.
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.532 bilhões, o que representou uma redução de 1,5% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a retração nominal foi de 5,1%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 809 bilhões, permanecendo estável em relação ao mês anterior e registrando elevação nominal de 0,6% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 723 bilhões, uma redução de 1,1% frente a dezembro e queda de 10,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em janeiro R$ 1.541 bilhões, o que representou, em termos nominais, queda de 0,5% frente ao mês anterior e de redução de 2,7% frente a janeiro de 2016. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 757 bilhões (recuo nominal de 0,6% sobre o mês anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 785 bilhões, 1,6% menor do que o registrado no mês anterior e -10,1% frente ao mesmo período de 2016.
No mês de janeiro foram concedidos R$ 258,6 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 251,4 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação positiva de 2,9% no período. Deste volume, R$ 238,9 bilhões foram originados de recursos livres (aumento de 3,4% frente ao mesmo mês do ano anterior).
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 118,3 bilhões), cartão de crédito (R$ 90,3 bilhões) e cheque especial (R$ 30,3 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 17,9 bilhões), cheque especial (R$ 17,7 bilhões), capital de giro (R$ 12,7 bilhões), e desconto de duplicatas (R$ 9,2bilhões).
Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação foi de -3,9% frente a janeiro de 2016, atingindo R$ 19,6 bilhões. Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 5,8 bilhões) e crédito rural (R$ 3,9 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$ 3,5 bilhões) e rural (R$ 3,0 bilhões).
Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 734,5 bilhões, o que representa uma retração nominal de 10,5% frente a janeiro de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 13,6% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 400,2 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 22,8 bilhões do montante, valor 8,3% menor, em termos nominais, do que o registrado em janeiro de 2016. O saldo do setor de serviços foi de R$ 720,1 bilhões, redução nominal de 9,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 32,8% a.a. em janeiro. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 52,8% a.a. (avanço de 1,2 p.p. em relação a dezembro de 2016): 72,7% para pessoas físicas e 28,8% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 11,3% a.a. (aumento de 0,3 p.p. frente ao mesmo anterior): média de 10,4% para pessoas físicas e 12,5% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de janeiro ficou estável em relação a dezembro e leve alta de 0,2p.p. em 12 meses, atingindo 3,7%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 6,0% para pessoas físicas e 5,4% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa foi de 1,8% para as famílias e 1,8% para empresas.