Análise IEDI
A crise se repete em 2016
A mensagem contida nos dados do PIB divulgados hoje pelo IBGE é clara: 2016 repete 2015 e a crise da economia brasileira mantem praticamente o mesmo nível de gravidade. A queda do PIB, que tinha sido de -3,8% em 2015, encerra 2016 em -3,6%. Ao final das contas, pode-se dizer que a moderação foi modestíssima. E foi assim porque a desaceleração da crise perdeu força a partir do terceiro trimestre do ano passado.
Mas para a indústria – que desde o início esteve no epicentro da atual derrocada da economia nacional, ao refletir mais intensamente a forte contração do consumo de bens duráveis e do investimento, diante da deterioração das expectativas, dos juros altos e do medo do desemprego – 2016 trouxe algum alento. Seu patamar de queda recuou de -6,3% em 2015 para -3,8% em 2016, condicionado pelo desempenho da indústria de transformação, cujas perdas foram reduzidas pela metade: de -10,4% para -5,2% entre 2015 e 2016.
Outros segmentos da indústria não tiveram tanta sorte: o PIB da extrativa mineral entrou no negativo em 2016 (-2,9%), sob influência do desastre de Mariana, e a construção civil teve seu terceiro ano de declínio (-5,2%). O mesmo vale para outros setores da economia, como no caso da agropecuária, cujo PIB em 2015 cresceu 3,6%, mas caiu -6,6% em 2016, e no caso dos serviços que permaneceram presos em seu pior resultado dos últimos vinte anos: -2,7% tanto em 2015 como em 2016.
Em relação ao setor de serviços, cabe observar que seu resultado só não foi mais negativo em 2016 porque o comércio arrefeceu um pouco suas perdas, passando de -8,7% em 2015 para -6,3%. A despeito do patamar de queda ainda elevado, esse movimento conseguiu contrabalancear a deterioração de outros importantes segmentos, como os serviços de informação (-0,5% em 2015 e -3,0% em 2016), de intermediação financeira e seguros (-0,8% e -2,8%, respectivamente), transportes (-6,6% e -7,1%) e outros serviços (-1,9% em 2015 e -3,1% em 2016).
Pela ótica da demanda, dois aspectos diferenciam 2016 de 2015. O primeiro deles é o arrefecimento da queda da formação bruta de capital fixo. De todo modo isso não chega a ser um aspecto positivo, já que a retração continua de grande magnitude, levando a taxa de investimento (15,6%) ao patamar mais baixo da série do IBGE iniciada em 1995.
• PIB: +0,5% em 2014, -3,8% em 2015 e -3,6% em 2016;
• Formação Bruta de Capital Fixo: -4,2%, -13,9% e -10,2%, respectivamente;
• Consumo das Famílias: +2,3%, -3,9% e -4,2%;
• Consumo do Governo: +0,8%, -1,1% e -0,6%;
• Exportações: -1,1%; +6,3% e +1,9%;
• Importações: -1,9%, -14,1% e -10,3%, respectivamente.
O segundo aspecto a diferenciar o ano passado de 2015 é o desempenho do setor externo, especialmente das exportações, cuja expansão foi perdendo força ao longo de 2016 à medida que a taxa de câmbio se apreciava e com a virtual extinção de mecanismos de incitação ao comércio exterior, como o Reintegra.
Com isso, o crescimento das exportações foi reduzido a quase 1/3 daquele de 2015. Uma economia imersa em uma das maiores recessões de sua história e que carece de instrumentos política econômica anticíclica, dada a crise fiscal e a política de juros elevados, não poderia ter se dado ao luxo de ver essa perda de dinamismo de suas exportações. Ainda mais porque o efeito da crise sobre as importações também parece não ser mais o mesmo (sua queda recuou para 10,3% em 2016).
Assim, a contribuição do setor externo para o PIB ficou menor, passando de +2,7 p.p. em 2015 para apenas +1,7 p.p. em 2016. Se isso não tivesse ocorrido, o ano passado poderia ter sido um pouco melhor, já que o declínio da demanda interna chegou a ser menos agudo (de -6,4 p.p. para -5,3 p.p. entre 2015 e 2016).
Os demais componentes do PIB, consumo das famílias e do governo, por sua vez, continuam retirando dinamismo da economia nacional. No primeiro caso devido à escalada do desemprego, ao poder de compra ainda muito restringido pela inflação e às dificuldades de reduzir seu endividamento em um ambiente de juros elevados e credores mais exigentes. Já no caso do consumo do governo, devido às medidas de contenção do gasto público e ao declínio muito acentuado de sua arrecadação (-6,4% em 2016, segundo os dados do IBGE).
Para além do resultado de 2016 como um todo, vale destacar o caminho percorrido pela economia trimestre a trimestre. O que se constatou foi que a moderação da crise se concentrou muito na passagem do primeiro para o segundo trimestre, não se sustentando na segunda metade do ano.
Os resultados trimestrais do PIB com ajuste sazonal em relação ao trimestre imediatamente anterior ilustram esse movimento: -0,6%, -0,3%, -0,7% e -0,9% do primeiro ao quarto trimestre de 2016.
Convém sublinhar que ao final do segundo trimestre, a indústria de transformação (+1,3%) bem como a formação bruta de capital fixo (+0,6%) conseguiram obter resultados positivos na série com ajuste após sucessivos trimestres de quedas acentuadas. Mesmo o PIB deste trimestre teve retração de apenas 0,3%, a mais baixa desde o primeiro trimestre de 2015. Veio daí certo otimismo que alimentou a perspectiva de que o terceiro trimestre do ano passado marcaria o início da recuperação econômica, o que não ocorreu.
A demora em se adotar medidas que pudessem rapidamente tornar o quadro econômico menos adverso, ao lado da passividade da política econômica quanto à trajetória de apreciação cambial concorreu, para este adiamento da reativação da economia. Por essa razão, torna-se ainda mais importante neste início de 2017 somar fatores dinamizadores. Destravar os investimentos privados em infraestrutura e aprofundar o ritmo de redução da taxa básica de juros seriam providências muito positivas.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil atingiu, no quarto trimestre de 2016, R$ 1.630,6 trilhão a preços correntes. Com relação ao trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados, a variação foi de -0,9% e frente ao quarto trimestre de 2015, o recuo alcançou 2,5%.
Ótica da oferta. Em relação ao terceiro trimestre de 2016, a partir de dados dessazonalizados, foram registradas quedas nos setores industrial e de serviços, de –0,7% e –0,8%, respectivamente. O setor agropecuário apresentou expansão de 1,0%.
No setor industrial, na mesma base de comparação, o subsetor industrial extrativo mineral foi o único a apresentar variação positiva, de 0,7%. A indústria de transformação recuou 1,0%, enquanto que a de construção apresentou declínio de 2,3%. Já a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana apresentou queda marginal de 0,1% no trimestre.
No setor de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, todos os segmentos apresentaram retração, como serviços de informação (–2,1%), transporte, armazenagem e correio (–2,0%), comércio (–1,2%), outros serviços (–0,9%), intermediação financeira e seguros (–0,7%), administração, saúde e educação pública (–0,6%) e atividades imobiliárias (–0,2%).
Em relação ao quarto trimestre de 2015, houve diminuição do produto nos três setores, a maior delas na agropecuária, com variação negativa de 5,0%. Os setores industrial e serviços registraram ambos queda de 2,4%.
Dentro do setor industrial, na mesma comparação, os segmentos que contribuíram para a oscilação negativa foram: construção (–7,5%) e indústria de transformação (–2,4%). A indústria extrativa apresentou expansão de 4,0% e a produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana registrou alta de 2,4%.
No setor de serviços, o segmento de transporte, armazenagem e correio respondeu pela maior queda, com variação negativa de 7,5%. Em seguida, foram registradas as seguintes retrações: comércio (–3,5%), intermediação financeira e seguros (–3,4%), serviços de informação (–3,0%), outros serviços (–2,6%) e administração, saúde e educação pública (–0,7%). Apenas atividades imobiliárias e de aluguel acusou expansão marginal de 0,1%.
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao terceiro trimestre de 2016, (com ajuste sazonal), a formação bruta de capital fixo oscilou –1,6%. Já o consumo das famílias registrou retração de –0,6%, enquanto que o consumo do governo cresceu 0,1%. No setor externo, as exportações apresentaram queda de 1,8% e as importações aumento de 3,2%.
Na comparação com o quarto trimestre de 2015, a formação bruta de capital fixo manteve retração, ainda que em ritmo inferior, de –5,4%. O consumo das famílias diminuiu 2,9% e o consumo do governo, 0,1%. No setor externo, as exportações registraram retração de 7,6%, enquanto que as importações caíram 1,1%.