Análise IEDI
Próximo ao crescimento
A indústria conseguiu obter em janeiro de 2017 seu primeiro resultado positivo em relação ao mesmo período do ano anterior, depois de 34 meses seguidos de queda. A alta chegou a 1,4% e foi acompanhada por todos os macrossetores e pela maioria dos setores industriais (16 dos 26 pesquisados).
Mas esse crescimento recebeu algumas ajudas, como a existências de dois dias úteis a mais em janeiro de 2017 e uma base de comparação muito baixa, já que o pior da crise atual parece ter ocorrido entre o final de 2015 e início de 2016. Ademais, foi a indústria extrativa (+12,5%) quem garantiu o resultado positivo, já que a indústria de transformação obteve mais uma retração (-0,3%).
Por isso, a magnitude da alta de janeiro não reflete exatamente o estágio em que se encontra a indústria nacional. De todo modo, o importante é que neste início de ano a indústria parece continuar caminhando, mesmo que lentamente, em direção a uma recuperação. Este percurso é bem ilustrado pela média móvel trimestral que, frente a igual período do ano anterior, saiu de -5,6% em out/16 para -0,1% em jan/17.
A indagação que surge é se há evidências, nos dados divulgados pelo IBGE, para a sustentação desse processo nos próximos meses. Para tanto, é conveniente recorrer aos resultados da comparação mês/mês anterior na série com ajuste sazonal.
• Indústria geral: +0,5% em nov/16, +2,4% em dez/16 e -0,1% em jan/17, frente ao mês anterior com ajuste sazonal;
• Bens Intermediários: +1,1%, +1,4% e +0,7%, respectivamente;
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: -1,0%, +4,2% e +3,1%;
• Bens de Consumo Duráveis: +4,3%; +7,4% e -7,3%;
• Bens de Capital: +3,2%, -3,8% e -4,1%, respectivamente.
Para a indústria como um todo, as perspectivas se mostram favoráveis, já que em novembro e dezembro de 2016 os resultados foram positivos em relação ao mês imediatamente anterior e, em janeiro de 2017, houve uma virtual estabilidade depois de uma alta mais forte no mês anterior. Contudo, nem todos os macrossetores industriais compartilham esta mesma trajetória.
O percurso parece mais consistente para os bens intermediários e de consumo semi e não duráveis. No primeiro caso, já são três meses consecutivos de alta na série com ajuste sazonal. No segundo caso, houve crescimento nos dois últimos meses e em patamares relativamente elevados. Estes resultados são importantes porque, juntos, bens intermediários e de consumo semi e não duráveis representam a maior parte do parque industrial do país e, por isso, são capazes de dar o tom da indústria geral.
Quem permanece uma interrogação, por estar apresentando um comportamento bastante volátil desde o segundo semestre de 2016, é a produção de bens de consumo duráveis. A alta de 7,4% em dezembro, sucedida de uma queda de 7,3% agora em janeiro de 2017, na série com ajuste sazonal, mostra a que intensidade esse comportamento pode chegar. Muito disso tem vindo da fabricação de automóveis (+11,2% em dez/16 e -10,7% em jan/17) e de equipamentos de informática e eletrônicos (+17,7% e -12,5%, respectivamente).
Bens de capital, por sua vez, vêm acumulando variações negativas na série com ajuste desde julho de 2016, à exceção do mês de novembro, o que marca claramente uma mudança de trajetória em relação à primeira metade do ano passado. Ainda mais preocupante, as quedas ficaram maiores na passagem de 2016 para 2017, chegando a -4,1% em janeiro deste ano.
É preciso ponderar, então, os resultados positivos que vem sendo obtidos, nos últimos três meses, por bens de capital e bens de consumo duráveis na comparação com o mesmo período do ano anterior, pois podem estar refletindo a existência de baixas bases de comparação. Também podem estar sob influência de períodos em que esses macrossetores tiveram um desempenho mais promissor, como no primeiro semestre de 2016 para bens de capital, e entre maio e julho, no caso de bens de consumo duráveis.
Assim, ao que parece, bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis são aqueles com maiores chances de continuar levando a indústria como um todo em direção à recuperação.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física para o mês de janeiro divulgados hoje pelo IBGE indicam queda de 0,1% frente ao mês de dezembro, a partir de dados livres de influência sazonal. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, registrou-se elevação de 1,4%. Em doze meses a queda atingiu -5,4%.
Categorias de uso. Entre as categorias de uso, frente ao mês anterior, para dados sem influência sazonal, o grupo de bens de capital apresentou retração de 4,1% enquanto que a produção de bens de consumo teve variação positiva de 0,3% (variação negativa de 7,3% para bens duráveis e aumento de 3,1% para bens semi e não duráveis). Bens intermediários apresentaram alta de 0,7% na mesma comparação.
Na comparação com o mês de janeiro de 2016, a categoria de bens de capital registrou alta de 3,3%, bens intermediários avançou 0,8% e bens de consumo também apresentou alta de 2,3% (expansão de 3,2% para bens duráveis e 2,1% para semi e não duráveis).
Em doze meses, bens de capital registrou retração de 7,9%, bens intermediários -5,5% e bens de consumo, de -4,8%. O subgrupo de bens de consumo duráveis variou -12,3% e semiduráveis e não duráveis, -3,0%.
Setores. Tomando os dados livres de efeitos sazonais, em janeiro, frente ao mês anterior, houve retração do nível de produção em 12 dos 24 grupos pesquisados. Os segmentos que apresentaram as maiores quedas no período foram: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,7%) seguidos por confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,0%), máquinas e equipamentos (-4,9%) e produtos de borracha e de material plástico (-3,8%).
Dentre os que apresentaram variação positiva, destacam se os seguintes itens: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (21,6%), outros equipamentos de transporte (6,4%), bebidas (5,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,0%), produtos de minerais não-metálicos (2,6%), celulose, papel e produtos de papel (2,3%), metalurgia (1,8%), produtos alimentícios (1,2%) e indústrias extrativas (1,1%).
Na comparação com janeiro de 2016, a produção industrial apresentou expansão em 16 dos 26 ramos analisados. As elevações mais significativas nesta comparação vieram dos segmentos de veículos automotores, reboques e carrocerias (5,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (18,0%), celulose, papel e produtos de papel (6,9%), produtos alimentícios (1,6%), metalurgia (4,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (13,3%), produtos têxteis (10,8%), outros produtos químicos (2,2%) e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (5,0%).
Enquanto que as principais variações negativas ficaram por conta de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-11,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,6%), máquinas e equipamentos (-4,9%), produtos de metal (-6,2%) e outros equipamentos de transporte (-9,4%).