Análise IEDI
O que dizer da entrada de 2017?
Em linhas gerais, os dois primeiros meses de 2017 não trouxerem nenhuma reversão do quadro do crédito no país. As concessões continuam em declínio e o nível médio de juros resiste em ceder, mesmo diante de cortes mais significativos da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central, que tendem a reduzir o custo de captação dos bancos.
A despeito deste contexto do crédito ainda muito negativo para a recuperação da economia, cabem algumas observações mais detalhadas a respeito de sua evolução nos últimos meses. Para o total do crédito, a contração real das concessões perdeu força, chegando a -2,6% no primeiro bimestre de 2017 frente a igual período do ano anterior. A título de comparação, na média dos últimos dois meses de 2016 a queda tinha sido de 6,1%.
Abaixo seguem alguns indicadores bimestrais que sintetizam a situação do crédito total na entrada de 2017 e sua evolução recente. Como se pode ver, juros e spreads não cederam um palmo.
• Evolução das concessões reais: -9,4% em set-out/16, -6,1% em nov-dez/16 e -2,6% em jan-fev/17 frente a igual período do ano anterior
• Taxas médias de juros nominais: 33,2% a.a., 32,5% a.a. e 32,5% a.a., respectivamente
• Spreads médios: 23,7 p.p., 23,0 p.p. e 23,9 p.p., nos mesmos bimestres
• Inadimplência: 3,8%, 3,8% e 3,7%, respectivamente
Se a crise do crédito se revela geral, ela tem sido particularmente grave para as empresas, para quem as concessões reais continuam em declínio de dois dígitos. No primeiro bimestre de 2017, contudo, pode-se verificar uma tênue moderação desta tendência: -11,1% frente a -15,9% no último bimestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano anterior. Cabe lembrar que a contratação de crédito corporativo está em retração real praticamente desde o abril de 2014.
Não é por acaso que, como o IEDI já destacou anteriormente (Carta IEDI 738 e 754), as empresas vêm enfrentando um processo de estrangulamento financeiro, dado o menor acesso ao crédito e o seu encarecimento. Quanto aos juros, o nível médio pago pelas empresas no primeiro bimestre de 2017, em termos nominais (20,3% a.a.), foi quase o mesmo do último bimestre de 2016 (20,1% a.a.). Ou seja, a redução da Selic iniciada em novembro do ano passado ainda não chegou aos juros do crédito corporativo.
Já no caso das famílias, ao menos em termos reais, as concessões de crédito já apontam crescimento, chegando a +3,8% no primeiro bimestre de 2017 frente a igual período do ano anterior. Isso representa uma pequena aceleração frente ao desempenho dos dois últimos meses de 2016 (+3,1% frente a nov-dez/15). Em compensação, os juros médios nominais cobrados nessas operações de crédito não só se mantiveram praticamente inalterados na passagem do último bimestre de 2016 (41,6% a.a.) para o primeiro de 2017 (41,4% a.a.), como ficaram acima do patamar de jan-fev/16 (40,0% a.a.).
Uma notícia mais alentadora é que a inadimplência se estabilizou na virada do ano, depois de ter recuado um pouco nos últimos meses de 2016. No caso das empresas, o patamar médio do primeiro bimestre de 2017 (3,5%) foi exatamente o mesmo do último bimestre de 2016, o mesmo ocorrendo no caso das famílias (4,0%).
A despeito desse comportamento da inadimplência, os spreads bancários subiram. Entre a média dos dois últimos meses do ano passado e dos dois primeiros deste ano, o spread do crédito às empresas passou de 11,2 pontos percentuais para 12,0 p.p. e aquele do crédito às famílias, de 23,0 p.p. para 23,9 p.p..
Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.070 bilhões em fevereiro, correspondente a uma participação no PIB de 48,7%. As operações de crédito realizadas com recursos livres responderam por 24,3% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 24,4% do PIB.
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.530 bilhões, uma redução de 0,2% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a retração nominal foi de 4,6%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 805 bilhões, retração de 0,5% em relação ao mês anterior e elevação nominal de 0,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas - R$ 724 bilhões -, teve crescimento de 0,1% frente a janeiro e queda de 4,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em fevereiro R$ 1.541 bilhões, o que representou, em termos nominais, queda de 0,1% frente ao mês anterior e de 2,5% em doze meses. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 761 bilhões, representando crescimento de 0,6% frente ao mês imediatamente anterior, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 785 bilhões, recuo de 0,7% na mesma base de comparação.
Em fevereiro foram concedidos R$ 232,3 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 256,9 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação negativa de 9,6% no período. Deste volume, R$ 212,3 bilhões foram originados de recursos livres (queda de 10,1% frente ao mesmo mês do ano anterior).
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 103,2 bilhões), cartão de crédito (R$ 79,7 bilhões) e cheque especial (R$ 25,7 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 15,2 bilhões), cheque especial (R$ 14,7 bilhões), capital de giro (R$ 10,9 bilhões), e desconto de duplicatas (R$ 11,4bilhões).
Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação foi de -3,4% frente a fevereiro de 2016, atingindo R$ 20,0 bilhões.
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$6,1 bilhões) e crédito rural (R$ 3,8 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$ 4,1 bilhões) e rural (R$ 2,9 bilhões).
Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 732 bilhões, o que representa uma retração nominal de 0,4% frente a janeiro de 2017. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 0,5% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 398 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 719 bilhões, redução nominal de 0,2% em relação ao mês imediatamente anterior, sendo que comércio e transportes tiveram quedas de 0,5% e 0,6% respectivamente. O setor agropecuário respondeu por R$ 22,7 bilhões do montante, valor 8,1% menor, em termos nominais, do que o registrado em fevereiro de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 32,2% a.a. em fevereiro. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 53,2% a.a. (avanço de 0,3 p.p. em relação a janeiro de 2017), sendo de 73,2% para pessoas físicas e 28,7% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,9% a.a. (queda de 1,4 p.p. frente ao mês anterior): média de 9,1% para pessoas físicas e 10,9% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de fevereiro ficou estável em relação a janeiro e apresentou leve alta de 0,2 p.p. em 12 meses, atingindo 3,7%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,9% para pessoas físicas e 5,2% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa foi de 1,9% para as famílias e 2,0% para empresas.