Análise IEDI
De volta ao passado
Quem esperava algo de novo no quadro do varejo neste início de ano deve ter se frustrado com os dados divulgados hoje pelo IBGE. Passado o efeito das promoções do final de 2016, o desempenho das vendas reais do comércio varejista voltou, em janeiro de 2017, a um patamar de queda próximo ao do ano passado. No seu conceito restrito, o varejo não esboça reação (-0,7% frente a dez/16 com ajuste e -7,0% frente a jan/16). Já em seu conceito ampliado, a situação ficou um pouco menos dramática (-0,2% e -4,8%, respectivamente).
Tomada a evolução na margem, isto é, frente ao mês anterior com ajuste sazonal, o declínio das vendas reais do varejo restrito em janeiro de 2017 (-0,7%), se somou ao rol de sucessivas variações negativas que marcou o segundo semestre de 2016. A única exceção aqui foi nov/16 (+0,9%), mês da liquidação da Black Friday, cuja alta foi largamente compensada pela queda de dez/16 (-1,9%). No caso do comércio ampliado, graças às vendas ora de automóveis e autopeças, ora de material de construção, o que temos visto desde set/16 são resultados muito próximos de zero, como agora em janeiro de 2017 (-0,2%).
O cenário não é muito melhor se avaliarmos os resultados do varejo em comparação com o ano anterior, com janeiro de 2017 apontando nova deterioração, a despeito de ter tido dois dias úteis a mais do que igual mês de 2016. O declínio das vendas no conceito restrito de 7,1% está entre os piores resultados dos últimos meses.
Mas cabe destacar que nem todos os segmentos do varejo seguiram essa mesma tendência. Alguns deles vêm reduzindo perdas, o que têm possibilitado quedas menos intensas do comércio varejista em seu conceito ampliado (-4,8% em jan/17 contra -8,1% no segundo semestre de 2016).
Os resultados dos três últimos meses frente a igual período do ano anterior para as vendas reais dos principais segmentos do varejo seguem abaixo:
• Comércio restrito: -3,8% em nov/16, -4,9% em dez/16 e -7,0% em jan/17;
• Hiper, supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -1,6%; -2,9% e -7,0%
• Combustíveis e lubrificantes: -7,9%; -5,5% e -9,0%, respectivamente;
• Tecidos, vestuário e calçados: -9,8%; -8,8% e -6,3%;
• Móveis e eletrodomésticos: -7,9%; -8,9% e -3,5%;
• Material de Construção: -4,3%; -1,6% e -0,3%;
• Veículos e motos, partes e peças: -9,3%; -13,5% e -4,6%, respectivamente.
Dentre aqueles que têm conseguido se manter em uma trajetória de amenização da crise estão móveis e eletrodomésticos, veículos e autopeças, além de tecidos, vestuário e calçados e material de construção. Compreendem, em grande medida, bens de consumo duráveis, justamente os itens da cesta de consumo das famílias que mais sofreram cortes nos últimos anos.
Por essa razão, contribui muito para o desempenho recente desses segmentos a existência de bases de comparação muito baixas. Mas é preciso considerar que a continuidade dessa trajetória pode se complicar se as condições do crédito do país não melhorarem substancialmente, já que muitos consumidores necessitam de algum financiamento para consumir esse tipo de bens.
Em sentido oposto, alguns segmentos importantes do comércio varejista tiveram um começo de ano bastante ruim, contribuindo para o resultado negativo do setor como um todo. É notadamente o caso das vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cuja retração de 7,0% frente a jan/16 foi a mais intensa desde fevereiro de 2015, quando suas vendas começaram a cair sistematicamente.
Artigos farmacêuticos, médicos e ortopédicos, que entraram em crise muito depois que os demais segmentos, também apresentaram um recuo dos mais fortes em suas vendas reais em janeiro de 2017 (-6,0% frente a jan/16). Combustíveis e lubrificantes, por sua vez, depois de um declínio menos agudo no último bimestre de 2016, “voltaram ao passado”, retomando em jan/17 (-9,0%) o ritmo de queda que imperava desde mar/16.
De acordo com dados de janeiro de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou retração de 0,7% em relação a dezembro. Na comparação com janeiro do ano passado, houve queda de 7,0% no volume de vendas e nos últimos 12 meses a retração foi de 5,9%.
O comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou pequena retração de 0,2% sobre dezembro, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com o mesmo mês de 2016, o decréscimo foi de 4,8%. Nos últimos 12 meses a queda alcançou 7,9%.
A partir de dados dessazonalizados de janeiro frente ao mês imediatamente anterior, apresentaram alta tecidos, vestuário e calçados (4,1%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,2%). Negativamente, destacaram-se equipamentos e material para escritório, informática e computação (-4,8%), combustíveis e lubrificantes (-4,4%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,9%) e outros produtos de uso pessoal e doméstico (-1,8%). No comércio varejista ampliado, a venda de veículos e motos, partes e peças registrou expansão de 0,3% enquanto a venda de materiais de construção teve queda de 0,8%.
Em relação ao mês de janeiro de 2016, quase todos os setores pesquisados seguem apresentando forte retração. No varejo restrito, o maior recuo foi observado no segmento de livros, jornais, revistas e papelaria (-17,0%), seguido por combustíveis e lubrificantes (-9,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-7,0%), tecidos, vestuário e calçados (-6,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-6,0%), equipamentos e material para escritório, informática e computação (-5,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,8%) e móveis e eletrodomésticos (-3,5%). No varejo ampliado, a venda de material de construção foi o único segmento com retração mais amena, na ordem de 0,3%, enquanto veículos e motos, partes e peças apresentou queda de 4,6%.
Em 12 meses, todos os segmentos permanecem apresentando resultados negativos expressivos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-16,7%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-10,7%), móveis e eletrodomésticos (-10,6%), tecidos, vestuário e calçados (-10,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,8%), combustíveis e lubrificantes (-8,8%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,2%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-2,6%). No varejo ampliado, a venda de materiais de construção retraiu 9,2% e a de veículos, motos, partes e peças, 12,6%.
Em relação a janeiro de 2016, no comércio varejista ampliado houve queda em 25 unidades da federação pesquisadas. As maiores variações negativas foram observadas em Goiás (-20,4%), Rondônia (-18,9%), Pará (-14,0%), Espírito Santo (-13,9%), Piauí (-13,7%), Distrito Federal (-11,5%), Sergipe (-10,5%), Rio Grande do Norte (-8,8%), Bahia (-8,2%), Mato Grosso do Sul (-7,8%), Tocantins (-7,6%) e Amapá (-6,8%).