Análise IEDI
Alguma esperança para o consumo
Apesar da indicação positiva vinda dos últimos dados do Caged, que apura apenas o emprego formal na economia, segundo os dados do IBGE, a crise ainda não parece dar sinais de trégua para o emprego. No trimestre findo em fevereiro de 2017, a taxa de desocupação bateu um novo recorde ao atingir 13,2%, o que representa um contingente de 13,5 milhões de pessoas sem emprego.
Mas nem tudo é má notícia. Os dados também mostram que, devido à desaceleração da inflação, a massa real de rendimento vem parando de cair. Caso persista, este movimento constitui uma boa novidade que pode ajudar a melhorar o quadro especialmente dos setores do comércio e de serviços.
O ritmo de declínio da ocupação no país continua elevado e vem perdendo força de forma muito marginal, passando de algo como -2,4%, frente mesmo período do ano anterior, na entrada do segundo semestre de 2016 para -2,0%, como agora no trimestre findo em fevereiro de 2017. Muito desse arrefecimento se deve ao emprego industrial, que tem caído menos. Para quem já chegou a cortar mais 1,5 milhão de postos de trabalho na comparação interanual, como aconteceu na entrada de 2016, atingir um patamar de -511 mil postos agora no trimestre findo em fev/17 é algo digno de nota.
Infelizmente, outros setores andaram na contramão da indústria, reduzindo ainda mais seu número de ocupados e amortecendo a desaceleração da queda da ocupação total do país. Tais setores foram construção e agropecuária, que no trimestre findo em fev/17 ultrapassaram a indústria como principal motor do desemprego, seguidos por administração pública, defesa e serviços sociais, serviços domésticos e comércio e reparação de veículos.
Já outros setores voltaram a empregar, a exemplo dos segmentos de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e administrativas, assim como, outros serviços. Alojamento e alimentação e transportes e correios continuaram absorvendo parte dos indivíduos desocupados por outros setores, ainda que no último caso essa capacidade tenha se reduzido muito nos últimos meses.
Os dados abaixo ilustram a dinâmica do emprego nos principais setores econômicos acompanhados pelo IBGE, segundo a comparação interanual do número de ocupados em trimestres móveis não sobrepostos:
• Ocupação total: -2,0 milhões em jun-jul-ago/16, -1,9 milhão em set-out-nov/16 e -1,7 milhão em dez16-jan- fev/17;
• Indústria: -1,4 milhão, -1,0 milhão e -511 mil, respectivamente
• Construção: -103 mil, -702 mil e -750 mil
• Agropecuária: -272 mil, -437 mil e -703 mil
• Administração pública, defesa e serviços sociais: +538 mil, +125 mil e -242 mil;
• Comércio e reparação de veículos: -279 mil, -178 mil e -193 mil
• Info., comunicação, ativ. Financeira, imobiliária etc: -996 mil, -256 mil e +208 mil;
• Alojamento e alimentação: +232 mil, +347 mil e +409 mil, respectivamente.
Como já destacamos, a leitura positiva a ser feita dos dados agora divulgados diz respeito à evolução da massa de rendimentos reais, que marcha em direção ao crescimento. Considerados todos os rendimentos habitualmente recebidos, sua contração real foi de apenas 0,2% no trimestre findo em fev/17, frente a igual período do ano anterior. E isso depois de ter apresentado variações muito próximas de -5,0% em meados de 2016. Índice tão favorável quanto o do último trimestre para a massa de rendimentos não era obtido desde o trimestre findo em set/15.
Como a ocupação continua em queda, o que explica esse comportamento da massa é a recomposição do rendimento real, que registrou alta de 1,5% no trimestre findo em fev/17 frente a igual período do ano anterior. Na origem desse desempenho está a queda mais acentuada da inflação.
Ainda pode ser muito cedo para que essa melhora da renda real das famílias supere suas apreensões diante da possibilidade do desemprego e comece a estimular suas decisões de consumo. Além disso, o pagamento de dívidas atrasadas pode se mostrar como uma pedra no caminho deste processo, adiando ainda mais a retomada do consumo. Mas de qualquer forma, o retorno da massa de rendimentos reais ao positivo, se efetivada, trará bons ventos para as vendas de serviços e do comércio varejista e, indiretamente, da indústria, especialmente se vier acompanhado por condições mais favoráveis no crédito.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação atingiu 13,2% no trimestre de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017, isto é, 2,9 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado (10,2%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (setembro a novembro de 2016), a taxa observada foi de 11,9%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos ficou em R$2.068,00, representando aumento apenas residual frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$2.049,00) e ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$2.037,00). Por sua vez, a massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 180,2 bilhões, variação negativa de 0,13% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de -0,20% sobre o mesmo trimestre de 2016.
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 89,3 milhões de pessoas, 1,0% a menos do que o registrado no trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre de 2016 foi de -2,0%. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,4% atingindo 102,9 milhões de pessoas, enquanto o número de desocupados aumentou 30,6%, o equivalente a 13,5 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas categorias empregador (9,5%) e trabalho privado sem carteira (5,5%). As demais tiveram retração: setor público (-1,7%), trabalhador doméstico (-2,6%), trabalho privado com carteira (-3,2%), trabalhador por conta própria (-4,9%) e trabalho familiar auxiliar (-2,9%).
Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, estão: alojamento e alimentação (9,0%), outros serviços (2,9%), informação, comunicação e atividades financeiras (2,2%) e transporte, armazenagem e correios (1,6%). Dentre os setores que tiveram retração da população ocupada, estão: construção (-9,7%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-7,4%), indústria (-4,3%), serviços domésticos (-3,1%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-1,6%) e comércio, reparação de veículos automotores e motores (-1,1%).