Análise IEDI
Maioria com piora
As vendas reais do comércio varejista não mostraram nenhuma reação em fevereiro deste ano, refletindo um quadro de certo desânimo nas efetivas decisões de compra dos consumidores. Na série com ajuste, o declínio das vendas no conceito restrito de -0,2% frente a janeiro, prolongou uma trajetória de oscilação entre variações positivas e negativas que vem desde final do ano passado. Frente a fevereiro de 2016, por sua vez, a queda de -3,2% representou uma piora quando comparada ao resultado de janeiro (-1,2%).
Já no conceito ampliado, que inclui o comércio de veículos, autopeças e material de construção, as vendas reais conseguiram, na série com ajuste, se manter em alta pelo quarto mês consecutivo, obtendo +1,4% frente a janeiro, mas não evitaram uma deterioração de seu resultado frente a fevereiro de 2016, ao cair -4,2%, depois da estabilidade obtida no mês anterior.
Em resumo, passado o período de novembro de 2016 a janeiro de 2017, quando a ocorrência de promoções no varejo gerou uma volatilidade maior nos resultados, o desempenho de fevereiro pode estar indicando de forma mais nítida o estágio em que se encontra o varejo: não mais em acentuada contração, mas ainda assim com baixíssimo dinamismo.
Uma aposta otimista para os próximos meses viria da desaceleração adicional da inflação e da liberação dos recursos do FGTS, mas é preciso reconhecer que talvez a prioridade das famílias neste momento seja o pagamento de suas dívidas, o que amorteceria, ao menos no curto prazo, os efeitos positivos desses fatores no comércio.
Os dados abaixo sobre as vendas reais frente ao mesmo período de 2016, indicam que o comércio como um todo, bem como os seus diferentes segmentos ainda caminham na direção de reduzir suas perdas.
• Varejo restrito total: -5,6% no 3º trim. 2016; -5,5% no 4º trim. 2016 e -2,2% no 1º bimestre de 2017;
• Hipermercados, alimentos, bebidas e fumo: -1,9%; -3,7% e 0%, respectivamente;
• Tecidos, vestuário e calçados: -11,7%, -9,9% e +1,2%;
• Móveis e eletrodomésticos: -11,1%, -9,9% e +0,5%;
• Equipamentos de escritório, informática e comunicação: -11,4%, -5,2% e -9,3%;
• Veículos, motos e autopeças: -16,3%, -12,2% e -8,5%;
• Material de Construção: -10,1%, -6,6% e +1,4, respectivamente.
É notável a rapidez com que esse movimento assumiu no primeiro bimestre de 2017 para alguns segmentos, como para as vendas de móveis e eletrodomésticos, tecidos, vestuário e calçados, material de construção e também de hipermercados, alimentos, bebidas e fumo. Outros segmentos também apresentaram moderação de sua crise, mas em ritmo bem mais lento do que aqueles que acabamos de citar. Foram os casos, por exemplo, de veículos, motos e autopeças e de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos.
Para alguns segmentos, entretanto, este início de ano tem trazido dificuldades adicionais, como em equipamentos de escritório, informática e comunicação e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento e combustíveis e lubrificantes. Em ambos os casos, é possível que o primeiro trimestre de 2017 termine pior do que foi o último de 2016.
Os dados de fevereiro trazem ainda um alerta. Isso porque as vendas da grande maioria dos segmentos do varejo pioraram substancialmente neste mês na comparação interanual. Pode ser que o efeito calendário (fev/17 tem 1 dia útil a menos que fev/16) não explique integralmente esse movimento.
Em alguns casos, o resultado positivo de janeiro se reverteu em nova queda em fevereiro, como em hipermercados, alimentos, bebidas e fumo (+0,3% em jan/17 e -0,3% em fev/17), móveis e eletrodomésticos (+4,0% e -3,4%, respectivamente) e material de construção (+4,7% e -2,0%, respectivamente).
Em outros casos, as quedas se aprofundaram, voltando a patamares próximos daqueles do segundo semestre de 2016, como nos casos de veículos, motos e autopeças (-3,6% em jan/17 e -13,6% em fev/17), equipamentos de escritório, informática e comunicação (-6,6% e -11,9%) e artigos farmacêuticos (-2,1% e -5,1%, respectivamente).
De acordo com dados de fevereiro de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou retração de 0,2% em relação a janeiro. Na comparação com fevereiro do ano passado houve queda de 3,2%, no acumulado do ano o resultado foi de -2,2% e nos últimos 12 meses a retração chegou a 5,4%.
Para o volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, houve crescimento de 1,4% sobre janeiro, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com fevereiro de 2016, o decréscimo foi de 4,2%, no acumulado do ano de -2,1% e nos últimos 12 meses e de -7,5%.
A partir de dados dessazonalizados de fevereiro frente ao mês imediatamente anterior, apresentaram alta os seguintes itens: móveis e eletrodomésticos (3,8%); tecidos, vestuário e calçados (1,5%); livros, jornais, revistas e papelarias (1,4%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,0%); e combustíveis e lubrificantes (0,6%). As atividades que apresentaram variação negativa foram: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,8%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5%); e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-1,5%). No comércio varejista ampliado, a venda de veículos e motos, partes e peças teve expansão de 0,1%, enquanto a de materiais de construção teve queda de 1,3%.
Em relação ao mês de fevereiro de 2016, quase todos os setores pesquisados seguem apresentando forte retração. No varejo restrito, o maior recuo foi observado no segmento de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-11,9%), seguido por combustíveis e lubrificantes (-8,5%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (-7,7%); livros, jornais, revistas e papelaria (-7,0%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-5,1%); móveis e eletrodomésticos (-3,4%); e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%). A única atividade com desempenho positivo nesta base de comparação foi tecidos, vestuário e calçados, com avanço de 3,6%. No varejo ampliado, a venda de material de construção apresentou queda de 2,0%, enquanto veículos e motos, partes e peças teve retração de 13,6%.
Em 12 meses, todos os segmentos permanecem apresentando resultados negativos expressivos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-14,8%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-10,3%), móveis e eletrodomésticos (-9,5%), tecidos, vestuário e calçados (-9,2%), combustíveis e lubrificantes (-8,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-3,0) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,5%). No varejo ampliado, a venda de materiais de construção retraiu 8,2% e a de veículos, motos, partes e peças, 13,1%.
Em relação a fevereiro de 2016, 21 unidades da federação pesquisadas tiveram queda. As maiores variações negativas foram observadas em Goiás (-15,0%), Tocantins (-14,9%), Pará (-14,0%), Distrito Federal (-11,9%), Rondônia (-10,8%), Sergipe (-10,3%), Piauí (-9,9%), Roraima (-9,4%) e Ceará (-9%). Quanto às variações positivas, as de maior intensidade foram em Mato Grosso do Sul (19,1%), Santa Catarina (10,6%), Alagoas (5,1%) e Amapá (1,1%).