Análise IEDI
Relevância de um dinâmico setor externo
No primeiro trimestre de 2017, o crescimento do PIB de 1% na série com ajuste sazonal pode ser um pequeno passo para que a economia brasileira comece a reaver tudo aquilo que perdeu nos últimos anos e que não foi pouco. Se será este o caso ou não, é algo a se confirmar, especialmente diante da instabilidade política e econômica que voltou a se agravar recentemente no país.
Resultados positivos que acabam sendo revertidos em quedas subsequentes não são novidades, a exemplo da indústria. Sempre há o risco de que a alta de 0,9% do PIB manufatureiro frente ao último trimestre de 2016, já descontados os efeitos sazonais, seja apenas mais um sopro de crescimento, como aqueles que ocorreram no segundo trimestre de 2016 (+0,4%) e no terceiro de 2014 (+1,7%).
Assim, é preferível tomar os dados divulgados hoje pelo IBGE não tanto como um sinal de recuperação da economia, mas sim como mais uma indicação de que indubitavelmente estamos marchando, trimestre após trimestre, em direção ao “zero a zero”, ou seja, uma economia que tendo deixado no passado uma profunda recessão, ainda não mostra sinais de inequívoca retomada do seu dinamismo. Vale enfatizar, contudo, que alcançar tal estágio não é pouca coisa, já que a economia vinha se contraindo ininterruptamente ao longo dos últimos oito trimestres.
Essa trajetória se torna clara a partir dos resultados frente ao mesmo período do ano anterior. Assim, o PIB sai de um ritmo de contração de -5,4% no primeiro trimestre de 2016 para -0,4% agora no primeiro trimestre de 2017. Como mostram os dados abaixo, esse mesmo movimento se dá também no consumo das famílias e, em menor medida, no investimento.
• PIB: -5,4% no 1ºT/16; -3,6% no 2ºT/16; -2,9% no 3ºT/16; -2,5% no 4ºT/16 e, agora, -0,4% no 1ºT17;
• Consumo das Famílias: -5,8%; -4,8%; -3,4%; -2,9% e -1,9%, respectivamente;
• Formação Bruta de Capital Fixo: -17,3%; -8,6%; -8,4%; -5,4% e -3,7%;
• Consumo do Governo: -0,8%; -0,5%; -0,8%; -0,1% e -1,3%;
• Exportações: +12,7%; +4,0%; +0,2%; -7,6% e +1,9%;
• Importações: -21,5%; -10,4%; -6,8%; -1,1% e +9,8%, respectivamente.
Consumo e investimento ainda têm muito que recuperar, haja vista a taxa de investimento que continua em queda livre (15,6% do PIB no 1ºT/17), mas não se deve ignorar que os últimos dados sugerem ser esta a direção de suas trajetórias.
No front externo, as exportações, depois de levar um tombo de 7,6% no último trimestre do ano passado, voltaram a crescer (+1,9%) neste primeiro quarto de 2017, compensando parcialmente a elevação das importações (+9,8%), cujo resultado reflete tanto bases muito baixas de comparação, como um estágio menos agudo da crise, favorecendo a importação de alguns bens, como de intermediários.
A relevância do setor externo para o resultado do primeiro trimestre de 2017 é bastante nítida na série com ajuste sazonal. As exportações, que caíram sistematicamente ao longo de 2016, em muito devido à apreciação cambial, voltaram a crescer no início deste ano e em uma intensidade (+4,8%) superior à expansão das importações (+1,8%), de modo a compensar a retração da demanda interna.
Isso evidencia o quanto poderíamos ter amenizado a má fase da economia brasileira se tivéssemos um setor externo mais dinâmico, que, como já ocorreu no passado, funcionasse como um colchão amortecedor das retrações do mercado doméstico. Para tanto, deveríamos ter evitado desalinhamentos de nossas variáveis macroeconômicas, a exemplo da taxa de câmbio, não ter desativado certos programas como o Reintegra e nutrido uma relação mais próxima com a economia internacional.
Em boa medida, esse desempenho exportador de 2017 está associado ao boom das atividades agropecuárias. Pela ótica da oferta, este setor apresentou o melhor desempenho no PIB. A alta da agropecuária chegou a 13,4% na série com ajuste sazonal e a 15,2% frente ao primeiro trimestre de 2016.
Os demais setores estiveram longe de apresentar resultados semelhantes, mas pelo menos em alguns casos temos visto tendências promissoras, por enquanto refletidas na redução de perdas, mas que apontam para a estabilidade. Este é notadamente o caso do PIB da indústria de transformação, que na comparação interanual, caminhou de uma queda de 10,4% no primeiro trimestre de 2016 para apenas -1,0% no primeiro de 2017.
Alguns segmentos de serviços também trilharam o mesmo caminho, como o PIB do comércio, que saiu de uma queda de 10,5% para outra de apenas 2,5% entre os primeiros trimestres de 2016 e 2017, bem como o segmento de outros serviços (de -3,3% para -1,8% no mesmo período). Em contrapartida, devem ser sublinhados os casos de piora neste começo de 2017, a exemplo de serviços de intermediação financeira (-4,0%) e de atividade imobiliária (-0,6%) e a indústria de construção (-6,3%).
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2017 atingiu R$1,6 trilhão a preços de mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou frente ao trimestre imediatamente anterior um avanço de 1,0%. Frente ao mesmo trimestre de 2016, o PIB brasileiro assinalou recuo de 0,4%. Nos últimos quatro trimestres, comparados com o mesmo período imediatamente anterior, o resultado foi negativo em 2,3%.
Ótica daOferta. Da ótica da oferta, na comparação do índice do 1º trimestre de 2017 com o 4º trimestre de 2016, todas as atividades registraram alta ou estabilidade: Agropecuária (13,4%), Indústria (0,9%) e Serviços (0,0%). Dentre as atividades dos serviços, podemos destacar o crescimento de Transporte, armazenagem e correio (2,8%) e serviços de informação (1,6%). Na indústria, colaborou para o resultado positivo a indústria extrativa mineral (1,7%), indústria de transformação (0,9%), construção civil (0,5%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (3,3%).
Frente ao mesmo trimestre de 2016, o resultado de -0,4% foi influenciado pela Indústria (-1,1%) e Serviços (-1,7%), enquanto a Agropecuária avançou 15,2%. Dentre os subsetores da indústria, a indústria de transformação (-1,0%) e construção civil (-6,3%) influenciaram negativamente o resultado, enquanto a indústria extrativa cresceu 9,7% nesta base de comparação. Nos Serviços, destacaram-se as contrações em comércio (-2,5%), transporte, armazenagem e correio (-2,2%) e intermediação financeira e seguros (-4,0%).
Ótica da Demanda. O desempenho do primeiro trimestre do PIB em 2017 em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado da demanda extrerna, visto que todos os componentes da demanda interna registraram queda: formação bruta de capital fixo (-1,6%), despesa de consumo das famílias (-0,1%) e despesa de consumo do governo (-0,6%). As exportações de bens e serviços tiveram expansão de 4,8%, enquanto que as importações de bens e serviços cresceram a um ritmo bem menor (1,8%).
Na comparação com mesmo trimestre de 2016, destacou-se negativamente o resultado da despesa de consumo das famílias (-1,9%). A formação bruta de capital fixo registrou queda de 3,7%, a décima segunda consecutiva. O consumo do governo, por sua vez, também assinalou recuo (-1,3%). No setor externo, as exportações de bens e serviços apresentaram crescimento de 1,9%, enquanto que as importações se expandiram em 9,8%.