Análise IEDI
Entre altos e baixos
Os dados da produção industrial de abril, divulgados hoje pelo IBGE reforçam a percepção de cautela quanto aos resultados favoráveis do PIB (aumento real de 1% na comparação entre o primeiro trimestre de 2017 e o último de 2016). A economia sem dúvida reduziu suas perdas e praticamente alcançou a estabilidade, mas os sinais de recuperação ainda deixam a desejar.
No mês de abril, a indústria conseguiu obter seu primeiro resultado positivo de 2017 na série com ajuste sazonal. A alta de 0,6% frente ao mês anterior, compensou parcialmente o recuo de 1,3% de março. Em relação a abril de 2016, houve nova queda, cuja magnitude (-4,5%) foi influenciada pela existência de dois dias úteis a menos neste mês do presente ano.
O que mais chama atenção nos dados divulgados pelo IBGE, contudo, é a alternância de resultados positivos e negativos desde o início de 2017, o que para alguns ramos tem sido bastante acentuado, como nos casos de produtos farmacêuticos e farmoquímicos, equipamentos de informática, máquinas e equipamentos, veículos automotores e móveis.
Esse fenômeno marca o desempenho industrial tanto na série com ajuste sazonal (-0,1%; 0%; -1,3% e +0,6%, entre janeiro e abril), como, principalmente, na comparação interanual (+1,4%; -0,7%; +1,3% e -4,5%, respectivamente), estabelecendo assim uma distinção importante entre 2017 e 2016, quando as quedas imperavam absolutas.
O resultado disso é um quadro que em termos médios se aproxima mais da estabilidade (crescimento próximo a zero) do que da recuperação. Na verdade, no acumulado dos primeiros quatro meses de 2017 a indústria continua em declínio, mas de apenas 0,7%. Trata-se ainda de uma fase sem grandes predominâncias de altas ou quedas. No ano, dois macrossetores, doze ramos industriais e 49,6% dos 805 produtos pesquisados pelo IBGE estão no vermelho, enquanto outros dois macrossetores, quatorze ramos e 50,4% dos produtos estão estáveis ou no azul.
Tomado o período de janeiro a abril de 2017, os macrossetores que já voltaram a crescer são os de bens de consumo duráveis e o de bens de capital, como mostram as variações ante mesmo período do ano anterior apresentadas logo abaixo.
• Indústria geral: -10,3% em jan-abr/16; -6,1% em mai-ago/16; -3,6% em set-dez/16 e -0,7% em jan-abr/17;
• Bens de consumo duráveis: -26,5%; -13,7%; -1,4% e +8,7%, respectivamente;
• Bens de capital: -24,8%; -4,7%; -0,1% e +1,9%;
• Bens intermediários: -9,5%; -6,4%; -3,4% e -1,0%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -2,5%; -3,1%; -5,5% e -3,0%, respectivamente.
No caso de bens de consumo duráveis, a boa performance em 2017 se deve principalmente à produção de automóveis (+14,0%) e eletrodomésticos da linha marrom (+27,0%), mas também a outros ramos cujas quedas foram arrefecidas (eletrodomésticos da linha branca e outros equipamentos de transporte, por exemplo).
Já no caso de bens de capital, o retorno ao positivo teve contribuição importante da produção de bens de capital para a agricultura (+27,5%), para a construção (+22,8%) e, em menor intensidade, para uso misto (+6,7%). Os bens de capital para a própria indústria, contudo, permanecem em declínio acentuado (-8,8%), devido ao cenário adverso para o investimento no setor.
Dentre os macrossetores em queda, bens intermediários pelo menos vem conseguindo manter uma trajetória de redução de perdas de modo a se aproximar cada vez mais da estabilidade. Para quem começou o ano de 2016 com retração de 9,5%, chegar a -1,0% no primeiro quadrimestre de 2017 é algo a se considerar, especialmente porque os ramos que o compõem constituem o núcleo duro do sistema industrial.
Por fim, dificuldades maiores parecem estar sendo enfrentadas por bens de consumo semi e não duráveis, que, por mais que não estejam tão mal como no último terço de 2016, não chegam indicar uma tendência de superação da crise. Dois ramos têm exercido influência bastante negativa neste caso: indústria farmacêutica e de farmoquímicos (-15,5%) e a de álcool e gasolina (-8,3%).
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de abril registrou variação positiva de 0,6% frente a março na série livre de influências sazonais. Na comparação com abril de 2016, a indústria assinalou queda de 4,5%. Dessa forma, a indústria acumulou decréscimo de 0,7% nos primeiros quatro meses do ano em comparação com o mesmo período de 2016. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresentou variação negativa de 3,6%.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, bens intermediários (2,1%) e bens de consumo duráveis (1,9%) apontaram os resultados positivos mais acentuados. Os bens de capital (1,5%) assinalaram avanço também, enquanto o setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,8%) mostrou a única taxa negativa em abril de 2017.
Na comparação com igual mês do ano anterior, quase todas categorias apresentaram taxas negativas: bens de consumo semi e não-duráveis (-9,8%), bens de capital (-5,5%) e bens intermediários (-3,0%). Por outro lado, o setor produtor bens de consumo duráveis, com avanço de 0,6%, apontou a única taxa positiva.
No acumulado do ano, bens de consumo semi e não-duráveis (-3,0%) e bens intermediários (-1,0%) assinalaram as variações negativas. No sentido oposto, os segmentos de bens de consumo duráveis (8,7%) e de bens de capital (1,9%) assinalaram as taxas positivas no índice acumulado no ano, impulsionados, em grande parte, pela ampliação na fabricação de automóveis (14,0%) e eletrodomésticos (13,5%), na primeira; e de bens de capital agrícola (27,5%) e para construção (22,8%), na segunda.
Setores. O avanço do índice da indústria entre março e abril foi resultado do crescimento de 13 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para produtos farmoquímicos e farmacêuticos (19,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (3,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,0%) e máquinas e equipamentos (4,9%), seguidos por perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (2,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (6,7%), de móveis (8,8%) e produtos diversos (7,6%). Já indústrias extrativas (-1,4%) foram o maior impacto negativo.
Na comparação com abril de 2016, a produção industrial mostrou queda de 4,5%, influenciada pelo recuo da produção de 18 dos 26 ramos pesquisados. Os destaques negativos foram os setores produtores de: produtos alimentícios (-16,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-18,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,9%), bebidas (-9,1%), produtos de minerais não-metálicos (-6,6%), máquinas e equipamentos (-3,2%), outros equipamentos de transporte (-10,1%) e móveis (-10,3%). As principais influências positivas foram registradas por indústrias extrativas (4,4%), metalurgia (7,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (9,8%).
No índice acumulado para o período janeiro-abril de 2017, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 0,7%, com recuo em 12 dos 26 ramos. Entre os setores, os principais impactos negativos foram observados em produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-9,1%) e produtos alimentícios (-6,2%). Outras contribuições negativas relevantes vieram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-15,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,1%), outros equipamentos de transporte (-9,5%), produtos de minerais não-metálicos (-3,3%) e impressão e reprodução de gravações (-11,5%). Entre as atividades que apontaram ampliação na produção, as principais influências foram indústrias extrativas (7,2%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (8,9%).