Análise IEDI
Uma boa e uma má notícia no crédito às empresas
As concessões de crédito atingiram o montante de R$ 280,6 bilhões no mês de maio de 2017, o que em termos reais significou um aumento de 3,6% frente a maio de 2016. Alguma melhora relativa no acesso ao crédito não tem sido generalizada, contemplando mais as famílias do que as empresas. Os níveis de juros dos empréstimos, por sua vez, vêm cedendo sob influência da redução da taxa básica (Selic) pelo Banco Central.
Nos dados divulgados hoje pelo Banco Central, é marcante a distinção das trajetórias das concessões reais de crédito às famílias e às empresas. No primeiro caso, variações positivas já aparecem desde o começo do ano, inclusive com direito a taxas de crescimento cada vez mais robustas, como pode ser visto logo abaixo a partir das variações interanuais da média móvel trimestral.
• Total das concessões reais: -0,5% em mar/17; -3,2% em abr/17 e +1,1% em mai/17;
• Concessões reais a pessoas físicas: +7,0%; +4,0% e +9,6%, respectivamente;
• Concessões reais a pessoas jurídicas: -9,3%; -11,5% e -8,5%.
Enquanto isso, no caso das concessões às empresas é preciso se esforçar um pouco mais para encontrar algum sinal de reversão do quadro dramático a que estão sujeitas. Na comparação interanual, a retração em termos reais chegou a 7,0% e a 8,5% na média dos meses de março a maio. É o desempenho na margem, contudo, que nutre alguma esperança, já que a comparação do trimestre findo em maio deste ano com os três meses imediatamente anteriores regista uma variação de +3,8% (no caso das concessões às famílias o resultado é de +7,8%).
Esta primeira indicação de tempos menos difíceis para as empresas é uma boa notícia, mas é preciso ter em conta que novas deteriorações não podem ser descartadas, especialmente porque a inadimplência corporativa continua em elevação – como veremos a seguir –, o que pode levar os credores a endurecerem ainda mais as exigências na contratação de novos empréstimos.
Ademais, não se deve perder de vista a intensidade que o encolhimento do crédito atingiu nos últimos anos. Em percentagem do PIB, o estoque total de crédito saiu de 53,7% em dez/15 para 48,6% em mai/17. Essa perda de 5 p.p., que reflete uma crise de crédito com poucos paralelos na história econômica brasileira, foi quase toda ela suportada pelas empresas, cujo estoque de empréstimos retraiu em 5,4 p.p. do PIB neste mesmo período. As concessões reais acumuladas em janeiro-maio de 2017 também mostram um quadro parecido: enquanto o total geral cai 0,5% frente a igual período de 2016, no caso das empresas o recuo chega a 9,4%.
Muito disso se deveu ao crédito direcionado, sobretudo das operações do BNDES, que não desempenharam seu tradicional papel anticíclico de forma a amortecer a crise de crédito. O que temos visto é uma situação em que quem poderia não acessou o crédito porque o investimento paralisou, e quem precisou não o encontrou.
A má notícia fica por conta da elevação da inadimplência das empresas, como dito anteriormente. Em maio, chegou a 4,0% da carteira de empréstimo, ficando praticamente no mesmo nível da inadimplência das famílias (4,1%), que tradicionalmente costuma ser mais elevada. Este é um sinal das dificuldades de se gerenciar os passivos financeiros empresariais em uma conjuntura de crise aguda e prolongada.
Como consequência, a tendência de declínio dos juros dos empréstimos, ensejado pelos cortes da taxa básica Selic, pode vir a perder força se a inadimplência continuar em elevação. Tomados os juros nominais do crédito livre, a redução entre o pico de out/16 e maio deste ano foi de 7,4 p.p. na média do total das concessões (para 46,8% a.a.), mas de apenas 4,5 p.p. no caso das concessões às empresas (25,9% a.a.). Os juros às famílias foram os que mais recuaram (-10,5 p.p., para 63,8% a.a.).
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central, indicam que o saldo das operações alcançou R$ 3.065 bilhões em maio, com uma participação de 48,6% do PIB (declínio de 3,2 p.p. frente a maio do ano passado).
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.521 bilhões, queda de 3,7% frente ao mesmo mês do ano anterior, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 814 bilhões registrando, na mesma base de comparação, incremento nominal de 1,6%. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 707 bilhões, variação negativa de 9,3%, ainda frente a maio de 2016.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$ 1.544 bilhões em maio, o que representa, em termos nominais, retração de 1,5% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 773 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, elevação de 6,6%, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 771 bilhões, recuo de 8,5%.
No mês de maio, foram concedidos R$ 279,7 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 3,6% frente ao montante de R$ 269,9 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$ 252,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 27,1 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em um aumento de 4,0% e 0,5%, respectivamente.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 111,3 bilhões), cartão de crédito (R$ 84,1 bilhões), crédito não rotativo (R$ 37,2 bilhões) e cheque especial (R$ 32,0 bilhões). Já junto às empresas, as principais modalidades foram cheque especial (17,7 bilhões), conta garantida (R$ 17,1 bilhões), desconto de duplicatas (R$ 16,8 bilhões) e capital de giro (R$ 13,0 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados sobressaíram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 7,8 bilhões) e crédito rural (R$ 6,2 bilhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$ 5,3 bilhões) e crédito rural (R$ 4,6 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 716,1 bilhões, o que representa uma retração nominal de 10,2% frente a maio de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 12,2% na mesma comparação, atingindo o valor de R$ 388,5 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 708,6 bilhões, queda nominal de 7,0% em relação ao ano anterior, sendo que comércio e transportes tiveram variações de -9,7% e -13,7% respectivamente. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$ 22,4 bilhões, valor 7,0% menor, em termos nominais, do que o registrado em maio de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 29,2% a.a. em maio, 3,5 p.p. inferior do que a registrada em igual mês do ano anterior. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 46,8% a.a. (recuo de 5,4 p.p. em relação a maio de 2016), sendo de 63,8% para pessoas físicas e de 25,9% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,2% a.a. (diminuição de 0,8 p.p. na mesma base de comparação), sendo 9,7% para pessoas físicas e 11,1% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de maio aumentou 0,3 p.p. frente ao ano anterior, atingindo 4,0%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,9% e nas operações direcionadas de 2,2%. A inadimplência de pessoas físicas em maio foi de 4,1% e a de pessoas jurídicas de 4,0%.