Análise IEDI
Trajetórias mais e menos consistentes
O desempenho da indústria, depois de um longo período de retração aguda, entrou em uma nova fase em 2017. Nos últimos meses, voltaram em cena resultados positivos, embora muito fracos e, em geral, entremeados por novas quedas. No acumulado do ano até maio, como vimos semana passada, o crescimento do setor como um todo chegou a apenas 0,5%, devido ao resultado muito favorável de não muitos setores. Hoje, o IBGE nos traz um retrato regional da indústria.
No mês de maio, a alta da produção industrial no país, tanto em relação a abril (+0,8%, livre de efeitos sazonais) como frente a maio de 2016 (+4,0%), foi acompanhada pela maior parte das localidades acompanhadas pelo IBGE: 10 dos 14 locais na série com ajuste sazonal e 10 dos 15 locais na comparação interanual. Isto é, o crescimento foi bem distribuído pelo país e atingiu localidades importantes para a indústria, como São Paulo (+2,5 ante abr/17 e +4,3% ante mai/16).
Mas, se ainda é preciso relativa boa vontade para qualificar o atual momento da indústria geral como uma recuperação – compreendida esta como a obtenção de resultados positivos robustos e por uma trajetória favorável, que aponte para uma paulatina compensação das perdas anteriores – o quadro para algumas localidades parece ser melhor.
Despontam positivamente os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina, todos com alta no resultado acumulado do ano – como pode ser visto abaixo – e com sucessivos aumentos de produção desde o final de 2016 na comparação mensal relativamente ao mesmo mês do ano anterior. Cabe observar que as trajetórias de crescimento nesses estados só foram momentaneamente interrompidas em abr/17 devido a dois dias úteis a menos que abr/16.
• Brasil: +0,5% em jan-mai17 / jan-ma16 e +4,0% em mai17 / mai16;
• Rio de Janeiro: +4,6% e +2,9%, respectivamente;
• Santa Catarina: +4,3% e +9,5%
• Minas Gerais: +2,1% e +2,5%;
• Rio Grande do Sul: +1,9% e +7,4%;
• São Paulo: -0,6% e +4,3%;
• Nordeste: -1,6% e +1,4%, respectivamente.
Rio Grande do Sul e Amazonas também vêm caminhando favoravelmente, mas a trajetória interanual se tornou mais claramente positiva no primeiro caso há menos meses (depois de fevereiro) e, no caso da indústria amazonense, assumiu um comportamento volátil nos últimos três meses, com altas e quedas se intercalando (-8,0%, +7,4% e -0,1% de março a maio).
Em todos esses estados, algumas ponderações merecem ser feitas. A primeira delas é a existência de bases muito baixas de comparação, que favorecem a obtenção de variações positivas. A segunda é que as maiores contribuições ao crescimento vêm principalmente de poucos setores: indústria automobilística, extrativa, metalurgia e produtos de metal e máquinas e equipamentos.
Um fato a ser destacado é que duas localidades importantes ainda não saíram do vermelho no acumulado de 2017: Nordeste e São Paulo. Como atenuante, existe o fato de que ambas lograram crescer em maio tanto na comparação interanual – o que no caso do Nordeste foi a primeira vez desde mai/16 – como na série com ajuste sazonal, onde já acumulam duas altas sucessivas. São esses dois casos os grandes responsáveis pelo baixo crescimento da indústria brasileira nesses primeiros cinco meses de 2017 (0,5%).
Um último comentário sobre São Paulo, que, como se sabe, é o parque industrial mais moderno e diversificado do país. Tem havido na indústria paulista uma forte assimetria de desempenho setorial: equipamentos de informática e eletrônicos (+23,7%), veículos (+14%) e têxteis (+8,8%) registram crescimento expressivo no acumulado do ano, enquanto outros estão praticamente em queda livre, como alimentos (-12,2%, sobretudo devido a açúcar e carne bovina), outros equipamentos de transporte (-12,8%), além de máquinas e aparelhos elétricos (-9,7%) e farmacêuticos (-9,3%).
Na passagem de abril para maio, a partir de dados dessazonalizados, a produção industrial brasileira cresceu 0,8%. Dentre os 14 locais pesquisados, dez registraram expansão, sendo as mais intensas de 5,9% no Ceará, 3,6% na Bahia, 3,1% no Pará, 2,5% em São Paulo e 2,5% no Rio Grande do Sul. Em sentido contrário, apresentaram variações negativas: Amazonas (-3,6%), Espírito Santo (-1,9%), Rio de Janeiro (-1,6%) e Minas Gerais (-0,2%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior, houve elevação de 4,0% da indústria nacional, com dez dos 15 locais pesquisados registrando elevação. Os principais aumentos foram verificados em: Santa Catarina (9,5%), Paraná (7,6%), Ceará (7,4%) e Rio Grande do Sul (7,4%). As regiões com quedas mais relevantes foram Mato Grosso (-3,5%), Pernambuco (-3,2%), Bahia (-1,0%) e Goiás (0,6%).
O período janeiro-maio de 2017, em comparação a igual período do ano anterior, apresentou crescimento de 0,5% em termos nacionais, com alta na produção de dez das 15 regiões pesquisadas. O principal avanço ocorreu no Rio de Janeiro (4,6%), seguido por Santa Catarina (4,3%), Espírito Santo (3,4%) e Paraná (3,1%). Em sentido oposto, as regiões que tiveram retrações em igual base de comparação foram: Bahia (-6,6%), Mato Grosso (-1,4%), São Paulo (-0,6%) e Ceará (-0,2%).
No acumulado em 12 meses houve recuo de -2,4% na indústria brasileira, com 11 das 15 regiões pesquisadas variando negativamente. Os resultados negativos de maior intensidade foram observados em: Espírito Santo (-9,3%), Bahia (-8,2%), Mato Grosso (-4,9%), Amazonas (-2,6%) e Goiás (-2,5%). Os Estados do Pará (5,5%), Rio de Janeiro (1,7%), Santa Catarina (1,3%) e Paraná (0,3%) tiveram crescimento.
São Paulo. A produção da indústria paulista apresentou elevação de 2,5% na comparação com o mês de abril a partir de dados dessazonalizados. Frente a maio de 2016, o aumento foi de 4,3%. O resultado se deve ao incremento na produção de dez das 18 atividades pesquisadas. O setor com resultado positivo mais expressivo foi o de veículos automotores, reboques e carrocerias (28,5%), puxado principalmente por automóveis, caminhões e caminhão-trator para reboques e semirreboques.
Outras atividades com oscilações positivas foram: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (25,4%), cujas principais influências couberam a telefones celulares, aparelhos de comutação para telefonia, indicadores de velocidade e tacômetros, terminais de autoatendimento bancário e impressoras ou outros equipamentos de informática multifuncionais; produtos têxteis (16%); produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (15,1%), impulsionado por amaciantes, sabões e detergentes; e máquinas e equipamentos (12,2%), explicado principalmente pela produção de rolamentos de esferas, agulhas, cilindros ou roletes e “bulldozers e angledozers”.
Por outro lado, os impactos negativos mais relevantes vieram dos setores de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-16,0%), puxado pela produção de medicamentos; máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,5%), com retração na produção de quadros, painéis, cabines, motores elétricos de corrente alternada ou contínua, transformadores e geradores de corrente alternada; outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-7,2%); e produtos de minerais não-metálicos (-6,8%), cujo resultado esteve atrelado principalmente a garrafas, garrafões e frascos de vidro para embalagem, massa de concreto preparada para construção e argamassas.
Rio Grande do Sul. Frente a abril, a produção industrial gaúcha cresceu 2,5% (para dados dessazonalizados), recuperando a queda de 1,9% acumulada nos últimos dois meses. Na comparação com maio de 2016, houve expansão de 7,4%, com 11 das 14 atividades pesquisadas apresentando elevação, sendo as principais: produtos de fumo (63,8%), puxados por fumo processado e cigarros; produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (18,3%), com revólveres e pistolas, chaves de porcas, facas de mesa e artefatos de ferro e aço para uso doméstico exercendo as principais influências; bebidas (15,3%), explicado em grande medida a refrigerantes, vinhos de uvas, cervejas e chope; e veículos automotores, reboques e carrocerias (8,1%), cuja variação se deveu em grande medida a peças e acessórios para o sistema de freios, automóveis e eixos para transmissão para veículos automotores.
Os setores com os maiores recuos foram produtos de minerais não-metálicos (-3,9%), devido principalmente à menor produção de massa de concreto preparada para construção, canos, tubos, manilhas e outros artefatos de cimento ou concreto e vidros de segurança laminados ou temperados; produtos de borracha e de material plástico (-0,6%); e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-0,3%).