Análise IEDI
Poucos no terreno positivo
Em 2017, enquanto a produção industrial mostra alguma reação, mesmo que muito incipiente, as vendas do comércio varejista continuam apenas registrando uma moderação do ritmo de suas perdas. Em outras palavras, o comércio está hoje onde a indústria estava no ano passado. Uma pedra no caminho do varejo tem sido claramente o nível elevado de desemprego ainda vigente no país.
Segundo os últimos dados divulgados pelo IBGE, as vendas reais do varejo ficaram praticamente estáveis em maio deste ano (-0,1%) frente abril, já descontados os efeitos sazonais. Em seu conceito ampliado, que inclui veículos, autopeças e material de construção, houve retração de 0,7% nesta mesma comparação.
Frente a maio de 2016, o desempenho do varejo foi positivo tanto em seu conceito restrito como no ampliado (em +2,4% e +4,5% respectivamente), ajudado por um dia útil a mais em 2017. É este comportamento que vem garantindo uma redução do patamar de queda do setor, de -6,3% em 2016 como um todo para -0,8% no acumulado de 2017 até maio, frente igual período do ano anterior (-8,7% e -0,6%, respectivamente no caso do varejo ampliado).
Entretanto, é preciso chamar atenção para o fato de que nem todos os segmentos do comércio estão em rota consistente de arrefecimento de queda e, muito menos, já voltaram ao terreno positivo no acumulado desses cinco primeiros meses de 2017. As variações interanuais abaixo mostram a diversidade de situações que marca as vendas do varejo.
• Varejo Restrito: -0,8% em jan-maio/17 e +2,4% em mai/17.
• Tecidos, vestuário e calçados: +6,0% e +5,0%, respectivamente;
• Eletrodomésticos: +3,8% e +17,0%;
• Material de construção: +4,2% e +9,3%;
• Eq. de escritório, informática e comunicação: -4,6% e +8,8%;
• Veículos e peças: -6,2% e +4,6%;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -0,9% e 0%
• Combustíveis: -4,3% e -0,9%, respectivamente.
Os segmentos que parecem estar mais firmes na compensação das perdas anteriores são: tecidos, vestuário e calçados e eletrodomésticos, que não só voltaram ao azul no acumulado do ano, como vem apresentando uma série de resultados positivos nos últimos meses na comparação interanual (desde fev/17 no primeiro caso e desde mar/17 no segundo caso). Também poderíamos incluir neste grupo as vendas de material de construção, que acumulam alta no ano, mas que vêm tendo uma trajetória claudicante desde dez/16.
Todos esses segmentos receberam estímulo importante dos saques do FGTS, da recomposição das concessões de crédito à pessoa física, bem como da redução dos juros de algumas de suas modalidades, além da desaceleração da inflação que recompôs uma parte do poder de compra da população. O consumo restringido nos últimos anos desses bens tem visto nestes fatores uma oportunidade toda especial de se efetivar.
Outros segmentos que também foram favorecidos pelos fatores acima mencionados encontram-se em uma situação intermediária (queda no ano e crescimento muito recente em poucos meses). É o caso de: veículos e autopeças e móveis, que voltaram a crescer só agora no mês de maio, e equipamentos de escritório, informática e comunicação e outros artigos de uso pessoal (que incluem as lojas de departamento) que já acumulam dois meses consecutivos de alta na comparação interanual.
Mas nem todas as trajetórias asseguram uma visão otimista. As vendas reais de combustíveis, por exemplo, que têm uma forte aderência com o nível de atividade da economia, continua em declínio desde jan/15, acumulando em 2017 resultado de -4,3%. Supermercado, alimentos e bebidas, que depende mais das condições do emprego e renda real das famílias, não está muito melhor. Neste caso tem havido volatilidade na trajetória e queda no acumulado de 2017 (-0,9%). Artigos farmacêuticos e livros, jornais e papelaria também estão no vermelho.
Um sinal de alerta: na série com ajuste sazonal, as vendas de tecidos, vestuário e calçados tiveram queda intensa frente a abril (-7,8%), já descontados os efeitos sazonais. Este é um dado importante porque, como vimos, tal segmento é aquele que melhor vinha se saindo.
De acordo com dados de maio de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou queda de 0,1% em relação a abril. Na comparação com maio do ano passado, houve aumento de 2,4%. No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, os resultados seguem em contração: -0,8% e -3,6%, respectivamente.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, apresentou retração de 0,7% sobre abril, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com maio de 2016, houve incremento de 4,5%. Já nos resultados do acumulado do ano e nos últimos 12 meses, as variações foram de -0,6% e -5,2%, respectivamente.
A partir de dados dessazonalizados, verificou-se alta nos seguintes itens em maio frente ao mês imediatamente anterior: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%), móveis e eletrodomésticos (1,2%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,9%) e combustíveis e lubrificantes (0,6%).
As atividades que apresentaram oscilações negativas foram: tecidos, vestuário e calçados (-7,8%), livros, jornais, revistas e papelaria (-4,5%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,8%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,1%). No comércio varejista ampliado, houve elevações de 1,9% em material de construção e 1,2% em veículos, motos, partes e peças.
Em relação ao mês de maio de 2016, cinco itens que integram o comércio varejista restrito apresentaram aumentos: 13,8% em móveis e eletrodomésticos, puxado principalmente por eletrodomésticos (17,0%); 8,8% em equipamento e material para escritório, informática e comunicação; 5,0% em tecidos, vestuário e calçados; 3,8% em artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria; e 2,6% em outros artigos de uso pessoal e doméstico.
Os únicos itens que registraram queda foram: livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e combustíveis e lubrificantes (-0,9%). Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo se manteve estável. No comércio varejista ampliado, houve incrementos de 9,3% em material de construção e 4,5% em veículos, motos partes e peças.
No acumulado do ano, o comércio de tecidos, vestuário e calçados (6,0%) e de móveis e eletrodomésticos (4,6%) tiveram variações positivas. Os demais setores tiveram recuos, sendo os mais intensos em equipamento e material para escritório, informática e comunicação (-4,6%), combustíveis e lubrificantes (-4,3%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-4,3%). No comercio varejista ampliado, veículos, motos, partes e peças teve decréscimo de 6,2% e materiais de construção expansão de 4,2%.
Em 12 meses, todos os segmentos seguem com resultados negativos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-10,5%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-7,6%), combustíveis e lubrificantes (-7,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,2%), móveis e eletrodomésticos (-4,7%) e tecidos, vestuário e calçados (-4,3%). No comércio varejista ampliado, as variações de material de construção e veículos, motos, partes e peças foram de -3,6% e -11,2%, respectivamente.
Frente a maio de 2016, houve crescimento no volume de vendas no varejo em 20 unidades da federação pesquisadas. Os maiores foram observados em Santa Catarina (11,6%), Alagoas (9,3%), Amazonas (7,9%), Mato Grosso (7,5%), Pernambuco (6,5%), Rio Grande do Sul (6,1%) e Maranhão (5,8%). As diminuições de maior intensidade foram verificadas em Sergipe (-9,6%), Goiás (-6,2%), Distrito Federal (-4,1%), Mato Grosso do Sul (-2,4%) e Roraima (-2,1%).
Quanto ao varejo ampliado, na mesma base de comparação, em 22 unidades federativas observou-se acréscimo do volume comercializado, sendo os maiores no Espírito Santo (14,9%) e Amazonas (13,7%).