Análise IEDI
Reação do emprego industrial
Depois de nove trimestres sucessivos em elevação, a taxa de desocupação registrou um primeiro recuo no período abril-junho de 2017, passando de 13,7% no primeiro trimestre do ano para 13,0%. São 13,5 milhões de pessoas desocupadas. Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram ainda que isso se deveu a uma reação do emprego nada desprezível diante da evolução dos últimos meses.
Em comparação com janeiro-março de 2017, a alta da ocupação chegou a 1,4%. Mas é bom lembrar que o segundo trimestre é um período em que normalmente costuma haver resultado positivo, inclusive em períodos de crise como em 2015 e 2016 (+0,2% em ambos os casos). De todo modo, a intensidade do resultado mais recente é considerável e não pode ser desprezada.
Sendo assim, ainda que pareça ser apressada a conclusão de que o emprego começou a se recuperar, existe uma indicação de que o quadro não está mais tão ruim e isso, em boa medida, devido ao desempenho positivo do emprego industrial, que frente ao primeiro trimestre do ano cresceu 3,3%.
A comparação que inequivocamente nos permite dizer que a crise do emprego perdeu força é aquela frente ao mesmo período do ano anterior, que não é suscetível a efeitos sazonais. Neste caso, a população ocupada ainda declina (-0,6%), mas a um ritmo muito inferior a que chegou a cair no ano passado (-2,4% no 3º trim./16).
Setorialmente, um dos maiores destaques na comparação interanual foi a evolução do emprego industrial. A indústria, que testemunhou um fechamento de postos da ordem de 1,5 milhão no primeiro trimestre de 2016 frente ao contingente que tinha no mesmo período do ano anterior, voltou ao positivo em abril-junho de 2017, refletindo a melhora relativa de produção que o setor vem tendo nos últimos meses. Foram 94 mil ocupados a mais no setor relativamente ao mesmo período do ano anterior. Com isso, foi interrompida uma trajetória de dois anos de vultosas quedas sucessivas.
Outros setores também tiveram desempenho semelhante, como indicam as variações interanuais abaixo. Este foi o caso de informação, comunicação, atividades financeiras e imobiliárias, onde o emprego chegou a cair tanto quanto a indústria em alguns trimestres, mas voltou ao azul desde o início de 2017. A ocupação no comércio também reagiu em abril-junho de 2017, depois de um ano de contração.
• Ocupação total – variação em número de pessoas: -2,2 milhões no 3º trim/16; -1,9 milhão no 4º trim/16; -1,7 milhão no 1º trim/17 e agora -562 mil no 2º trim/17;
• Indústria: -1,3 milhão; -955 mil; -342 mil e +94 mil, respectivamente;
• Info., com., atividades financeiras, imob. e profissionais: -976 mil, +174 mil; +245 mil e +131 mil;
• Comércio e reparação de veículos: -500 mil, -75 mil, -233 mil e +7 mil;
• Construção: -171 mil, -857 mil, -719 mil e -683 mil;
• Agropecuária: -442 mil, -417 mil, -758 mil e -765 mil, respectivamente.
Mas nem tudo é boa notícia. Exemplo disso é que existem setores em que as vagas estão em franca e progressiva retração, tais como agropecuária e construção. Outro exemplo é que o emprego com carteira assinada, de melhor qualidade e geralmente com maiores salários, continua declinando, cabendo às posições mais suscetíveis a reviravoltas e muitas vezes com menores salários, como emprego sem carteira e empregadores, a reação no segundo trimestre do ano.
A massa de rendimentos reais, por sua vez, vem abrindo perspectivas favoráveis para a segunda metade do ano. Sua alta de 2,3% no segundo trimestre consolida um processo que já vinha se desenhando desde a segunda metade do ano passado, ensejado pela desaceleração da inflação que tem alavancado o rendimento real de todos os trabalhos habitualmente recebidos (+1,4%, +2,5% e +3,0% entre o 4º trim/16 e o 2º trim/17). Daí uma expectativa de evolução maior para o comércio e serviços neste período.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre abril e junho foi de 13,0%. Tal taxa é 1,7 p.p. maior que a observada no mesmo trimestre do ano passado, de 11,3%. Entretanto, em relação ao trimestre móvel anterior sem sobreposição (janeiro de 2017 a março de 2017), cuja taxa fora de 13,7%, o indicador recuou 0,7 p.p.
No segundo trimestre de 2017, a população ocupada atingiu de 90,2 milhões de pessoas, o que representa uma expansão de 1,4% frente ao trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre do ano anterior foi de -0,6%. Nesta última base de comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,3% atingindo 103,7 milhões, enquanto o número de desocupados se elevou 16,4%, chegando a 13,5 milhões de pessoas.
Frente ao segundo trimestre de 2016, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas seguintes posições: empregador (13,1%), trabalho privado sem carteira (5,4%) e trabalho familiar auxiliar. Para as posições de trabalho privado com carteira (-3,2%), trabalho doméstico (-2,0%) e trabalhador por conta própria (-1,8) houve declínio. Já no setor público o quadro foi de estabilidade.
Ainda na comparação interanual, os grupamentos de atividades que apresentaram maior expansão da ocupação foram: alojamento e alimentação (12,9%), outros serviços (7,8%), transporte, armazenagem e correios (2,8%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,4%) e indústria (0,8%). Em contraste, as categorias que registraram retração foram: construção (-9,2%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-8,1%), serviços domésticos (-2,9%) e administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-1,3%). Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas, a seu turno, permaneceu estável.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.104,00, representando redução de 1,0% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$ 2.125,00) e elevação de 3,0% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$ 2.043,00). O rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido também apresentou leve queda frente ao trimestre anterior (-1,2%) e apresentou crescimento de 2,7% frente ao mesmo trimestre de 2016, chegando a R$2.042,00.
Já a massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 185,1 bilhões no segundo trimestre de 2017, registrando alta de 0,5% frente ao trimestre anterior sem sobreposição (R$184,2 bilhões) e de 2,3% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$182,7 bilhões).