Análise IEDI
Avanços parciais na situação patrimonial das empresas
A Carta IEDI a ser divulgada hoje reúne um conjunto de indicadores contábeis para analisar a situação patrimonial, em 2016 e no primeiro trimestre de 2017, de grandes empresas não financeiras de capital aberto do país. Em síntese, o quadro a partir do ano passado foi menos agudo do que aquele de 2015, que marcou o pior momento no período recente, mas o ajustamento das empresas continua incompleto, o que concorre para reduzir as chances de uma recuperação vigorosa da economia brasileira em 2017.
Foram utilizadas em nosso estudo informações contábeis de 296 empresas não financeiras de diferentes setores (indústria, comércio, serviços e agropecuária) com o objetivo de se avaliar a evolução recente quanto à rentabilidade, endividamento e composição dos ativos.
Em 2015, como dito anteriormente, o conjunto das empresas analisadas enfrentou um período extremamente complicado: o grau de endividamento líquido em relação ao patrimônio líquido atingiu 113,7%, mais que o dobro do observado em 2010; o prejuízo líquido foi de 3,5% frente a uma margem líquida lucro de 12,7% em 2010 e a capacidade de gerar recursos para pagar as despesas financeiras caiu para apenas 0,3 (Ebtida/despesa financeira), isto é, a geração de caixa obtida através do lucro operacional (Ebtida) só cobriu 30% das despesas financeiras em 2015.
Diante dessas adversidades, as empresas adotaram estratégias para recuperar seu equilíbrio econômico-financeiro por meio da redução do grau de endividamento e das despesas financeiras, seja pela renegociação de dívidas ou pela venda de ativos. Entretanto, a continuidade da recessão e os efeitos da crise política sobre a confiança empresarial definiram um cenário desafiador para a recuperação da saúde financeira das empresas.
Os resultados de 2016 mostraram avanços, mas também indicaram que o processo de recuperação poderá ser moroso. A margem líquida de lucro do agregado das 296 empresas não financeiras analisadas saiu de um patamar negativo de 3,5%, em 2015, para um índice positivo de 2,9%, em 2016. O endividamento líquido sobre o capital próprio recuou para a faixa de 104,1%, mas ainda permaneceu duas vezes superior ao patamar de 2010. Por sua vez, a geração de caixa via Ebtida melhorou, passando a garantir 90% do pagamento das despesas financeiras.
Para o núcleo da indústria – que exclui a Petrobras e a Vale devido ao tamanho desproporcional dessas empresas – algumas características da evolução recente merecem ser destacadas:
• Após atingir o pico em 2015, o grau de endividamento líquido sobre o patrimônio líquido não recuou mantendo-se estável em 2016 (na faixa de 80%), embora tenha havido melhora no fluxo de despesas financeiras. No primeiro trimestre de 2017 a tendência de estabilidade do grau de endividamento se manteve, mas com alguma redução do endividamento de curto prazo.
• A margem de lucro líquida, passou de 2,1% para 2,4% entre 2015 e 2016, refletindo em parte a redução do peso das despesas financeiras e o menor efeito da variação cambial, cuja proporção na receita operacional das empresas industriais (exceto Petrobras e Vale) caiu, neste período, de 6,1% para 2,6%. No primeiro trimestre de 2017, a margem de lucro líquida chegou a 4,6% (3,1% no 1º Trim./16).
• A margem operacional de lucro manteve-se estável em 8,5% entre o primeiro trimestre de 2016 e o primeiro trimestre de 2017, mas houve recuperação em alguns setores, notadamente: siderurgia, têxteis, vestuário, calçados, higiene e limpeza e máquinas e equipamentos.
A recuperação da margem de lucro líquido para o núcleo da indústria, embora pequena, recompôs a retração da margem operacional, medida pela relação entre o Ebtida e a Receita Operacional Líquida. O fato central em 2016 foi a continuidade da queda da margem operacional e a dificuldade, nesta conjuntura, de acelerar o ritmo de redução do endividamento das empresas industriais. Entre 2013 e 2016, a margem operacional diminuiu de 10% para 6,7% para este conjunto de empresas. Os dados do início de 2017, a seu turno, sugerem que esse movimento pode ter chegado ao fim, dada a estabilidade da margem operacional frente ao primeiro trimestre de 2016.
A dívida acumulada nas empresas industriais (exceto Petrobras e Vale) alcançou, em 2015, o expressivo montante de R$ 322 bilhões, em termos nominais – um acréscimo de R$ 90 bilhões em relação ao patamar de 2013. Em 2016, houve um recuo das dívidas (para R$ 298 bilhões), mas em valor (R$ 23 bilhões) muito aquém do necessário para compensar integralmente a elevação de 2015
A redução da fragilidade financeira das empresas deve ser qualificada, dado que a capacidade de cobrir os custos financeiros e monetários das dívidas com a geração de lucros operacionais ainda não foi recomposta. Excluídas a Petrobras e a Vale do agregado da indústria, a relação entre Ebitda/despesa financeira, que havia sido de 2,2, em 2010, caiu para 0,7 em 2015. Este indicador ficou em 0,8 em 2016, influenciado pela valorização do real verificada em 2016 e pela estabilização da taxa básica de juros (Selic), apesar do seu nível ter se mantido elevado (em 14,25% a.a. até nov/16).
Cabe observar que, entre 2010 e 2016, a diferença entre a participação do lucro operacional e do lucro líquido do conjunto das empresas no PIB indica que o setor produtivo transferiu via o pagamento de juros e encargos das dívidas para o setor financeiro algo na ordem de 13,9% do PIB nestes últimos sete anos.
Dado o cenário adverso resumido acima, não foi surpresa o recuo da taxa de investimento das empresas nos últimos anos. As despesas de capital (Capex) sobre a depreciação, tomada como base o ano de 2010, apresentaram oscilação com tendência de crescimento até 2013, quando passaram a declinar de forma contínua para o conjunto das empresas analisadas até 2016. Os sinais de recuperação, nesse caso, encontram-se concentrados somente em alguns setores da indústria.
Dados para o primeiro trimestre de 2017, mostram que a tendência de declínio das margens de lucro foi interrompida. Além disso, apesar do patamar elevado, o endividamento das empresas parou de crescer e a capacidade de gerar recursos internos nas empresas para honrar os compromissos financeiros apresentou melhora relativa.