Análise IEDI
Em clara trajetória positiva
Enquanto a indústria sofreu uma desaceleração na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2017, o comércio varejista avançou na consolidação de sua trajetória que, desde o início do ano, apontava para uma recomposição das perdas anteriores. A recuperação do varejo parece mais clara e com relativa intensidade. As variações positivas se generalizaram entre seus segmentos no segundo trimestre do ano.
Em seu conceito restrito, a queda de 2,7% do faturamento real no primeiro trimestre foi revertida em alta de 2,5% no segundo, com direito a variações positivas cada vez maiores em todos os meses que o compõem: +1,7% em abril; +2,6% em maio e +3,0% em junho, ante igual mês do ano anterior. Na série com ajuste sazonal, as altas também foram reincidentes nos três meses em questão.
Já o varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças e material de construção, a reviravolta foi de -2,2% para +2,9%, com crescimento tanto em maio (+4,9%) como em junho (+4,4%). A trajetória com ajuste tem sido mais volátil neste caso, mas apesar disso houve crescimento considerável em abril e junho.
Como pode ser visto abaixo, o comportamento recente do varejo tem sido alavancado especialmente por três dos seus segmentos: tecidos, vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos e material de construção, cujas vendas reais já crescem desde o primeiro trimestre de 2017. No segundo trimestre, estes segmentos cresceram ainda mais e vieram a ser acompanhados por outros segmentos do comércio.
• Varejo restrito: -5,5% no 4º trim/16; -2,7% no 1º trim/17 e +2,5% no 2º trim/17;
• Varejo ampliado: -7,3%, -2,2% e +2,9%, respectivamente;
• Tecidos, vestuário e calçados: -9,9%, +4,7% e +6,6%;
• Móveis e eletrodomésticos: -9,9%, +3,0% e +8,9%;
• Material de construção: -6,7%, +4,3% e +5,1%;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -3,6%, -2,5% e +1,3%
• Veículos e autopeças: -12,2%; -7,7% e -1,0%, respectivamente.
Alguns fatores foram essenciais para o desempenho positivo desses três segmentos a que nos referimos acima. Em primeiro lugar, por consistirem em segmentos muito expostos às iniciativas de controle orçamentário das famílias, a contração de seu consumo em 2015 e 2016 gerou uma demanda reprimida que começa a ser efetivada somente agora. E isso devido a outros fatores muito importantes, como o retorno ainda que tímido do crédito real às pessoas físicas, à redução dos juros e à liberação das contas inativas do FGTS.
O notável recuo da inflação também permitiu que a massa real de rendimentos voltasse a crescer já no início de 2017, mas sobretudo no segundo trimestre do ano (+0,7% no 1º trim. e +2,3% no 2º trim ante igual período do ano anterior), criando condições para que a reação das vendas pudesse se generalizar para um conjunto maior de segmentos do varejo, como material de escritório, informática e comunicação (+7,5%); outros artigos de uso pessoal (+3,6%), supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+1,3%) e artigos farmacêuticos e perfumaria (+1,2%).
Outros poucos segmentos do varejo permaneceram em declínio no segundo trimestre, como combustíveis e lubrificantes (-1,3%); livros, jornais e papelaria (-1,0%) e veículos, motos e autopeças (-1,0%). A despeito disso, as vendas de todos eles cresceram no mês de junho ante igual mês do ano anterior. No caso de veículos, motos e autopeças, o trimestre teria sido positivo não fosse a queda intensa de abril (-12,1%), já que maio (+5,6%) e junho (+3,5%) ficaram no azul.
Para ter sequencia esse processo positivo do comércio varejista, em que mesmo nas piores trajetórias existem indicações favoráveis, tendo em vista que o momento de grande bonança do quadro inflacionário deve perder força – inclusive devido ao aumento dos impostos sobre combustíveis – é preciso que nos próximos meses o emprego e o crédito venham dar sinais sistemáticos de melhora.
De acordo com dados de junho de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou alta de 1,2% em relação a maio. Na comparação com junho do ano passado, houve aumento de 3,0%. No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, os resultados seguem em contração: -0,1% e -3,0%, respectivamente.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, apresentou crescimento de 2,5% sobre maio, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com junho de 2016 houve elevação de 4,4%. Já nos resultados do acumulado do ano e nos últimos 12 meses, as variações foram de 0,3% e -4,1%, respectivamente.
A partir de dados dessazonalizados, verificou-se alta nos seguintes itens em junho frente ao mês imediatamente anterior: Móveis e eletrodomésticos (2,2%); Tecidos, vestuário e calçados (5,4%); Outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,7%); Combustíveis e lubrificantes (1,2%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,5%); e Livros, jornais, revistas e papelaria (4,5%). As atividades que apresentaram oscilações negativas foram: Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,4%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,6%). No comércio varejista ampliado, houve elevações de 3,8% em veículos, motos, partes e peças e de 1,0% em material de construção.
Em relação ao mês de junho de 2016, todos os itens que compõem o comércio varejista restrito tiveram aumentos, sendo alguns bastante intensos. As variações foram as seguintes: Móveis e eletrodomésticos (12,7%); Tecidos, vestuário e calçados (4,6%); Outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,3%); Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,8%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,0%); Combustíveis e lubrificantes (0,5%); Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (5,1%); e Livros, jornais, revistas e papelaria, com avanço de 1,2%. No comércio varejista ampliado, houve incrementos de 7,0% em material de construção e 3,5% em veículos, motos partes e peças.
No acumulado do ano, o comércio de Móveis e eletrodomésticos (5,9%) e Tecidos, vestuário e calçados (5,8%) tiveram variações positivas. Os demais setores tiveram contrações, sendo as mais intensas em livros, jornais, revistas e papelaria (-3,6%), combustíveis e lubrificantes (-3,5%) e equipamento e material para escritório, informática e comunicação (-2,4%). No comercio varejista ampliado, veículos, motos, partes e peças teve retração de 4,4% e materiais de construção expansão de 4,7%.
Em 12 meses, todos os segmentos seguem com resultados negativos, com destaque para: Livros, jornais, revistas e papelaria (-9,3%), Combustíveis e lubrificantes (-6,2%), Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-5,5%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,3%), Móveis e eletrodomésticos (-3,6%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-2,6%), Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,8%), Tecidos, vestuário e calçados (-1,6%). No comércio varejista ampliado, as variações de material de construção e veículos, motos, partes e peças foram de -2,2% e -9,7%, respectivamente.
Houve elevação no volume de vendas no varejo em 18 unidades da federação pesquisadas em relação a junho de 2016. As maiores foram observadas em Santa Catarina (12,7%), Alagoas (11,3%), Pernambuco (8,0%), Amazonas (7,5%) e Minas Gerais (6,7%). As contrações de maior intensidade foram verificadas em Goiás (-5,8%), Sergipe (-5,5%), Rio de Janeiro (3,5%), Roraima (-3,2%) e Distrito Federal (-2,6%). Quanto ao varejo ampliado, na mesma base de comparação, 23 unidades federativas tiveram aumento do volume comercializado, destacando-se Santa Catarina (15,7%).