Análise IEDI
Um retrato da indústria em 2017
Em 2017, a indústria nacional voltou a crescer, interrompendo uma série de resultados negativos que vinham desde o segundo trimestre de 2014. Depois de perder quase 20% de sua produção entre 2014 e 2016, a alta de apenas 1% no primeiro de trimestre de 2017 ante igual período do ano anterior deve claramente ser vista como insuficiente.
Dois aspectos merecem atenção. Um deles diz respeito à trajetória recente, pois a sinalização não é boa. O crescimento dos primeiros três meses do ano, que não chegou a empolgar, ficou ainda menor no segundo trimestre de 2017, de mero 0,2%. O baixo dinamismo da indústria tem suas origens em um ambiente macroeconômico ainda muito adverso ao crescimento.
Dois entraves parecem ser de importância ímpar neste momento. Primeiro, o desemprego ainda muito elevado. Isto tira potência que o recuo da inflação poderia ter sobre a renda das famílias caso um número maior de indivíduos estivessem empregados. Segundo, o crédito a taxas de juros menores custa a voltar a irrigar o sistema econômico. Com isso, o ajustamento dos balanços de empresas e famílias, necessário para abrir espaço para uma nova etapa de crescimento, torna-se muito vagaroso.
Outro aspecto a ser observado é que a indústria de transformação continua em declínio, mesmo que a taxas muito próximas da estabilidade. Um agravante é que a desaceleração da indústria geral na passagem do primeiro para o segundo trimestre significou uma queda ainda maior na indústria de transformação: -0,1% no 1º trim/17 e -0,4% no 2º trim/17.
O IEDI fez um levantamento da evolução recente de 93 segmentos da indústria de transformação, de modo a produzir um ranking que mostre aqueles com maior dinamismo nessa primeira metade de 2017. Em resumo, na comparação interanual, verificou-se que 47 deles voltaram ao terreno positivo neste período, permanecendo em queda outros 46. Isto significa que a recuperação não é uma realidade para todos. O placar continua muito dividido.
Entre os segmentos com crescimento intenso em 2017, destacam-se componentes eletrônicos (+43,5% ante 1º sem/16), tratores, máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária (+25,8%), aparelhos de recepção, reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo (+23,9%), equipamentos de comunicação (+20,4%) e automóveis, camionetas e utilitários (+17,3%), entre outros.
O grupo daqueles para quem a crise continua muito grave inclui máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção (-22,6% ante 1º sem/16), artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes (-17,3%), estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada (-16,5%), cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (-15,1%) e geradores, transformadores e motores elétricos (-14,0%), entre outros.
Em linhas gerais, como temos enfatizado em nossas Análises, têm se saído melhor segmentos associados à produção de bens de consumo duráveis, tais como eletroeletrônicos – devido à efetivação de uma demanda reprimida nos últimos anos, graças a uma menor inflação, certa recomposição do crédito às pessoas físicas e à liberação dos recursos do FGTS –, à cadeia automobilística, em função do crescimento da exportação de veículos, e à excepcional safra agrícola. Dentre os piores resultados, estão segmentos de bens de capital e diversos ramos ligados à construção civil, atingida pela paralização dos investimentos em infraestrutura e pela crise de seu segmento residencial.
A deterioração da indústria geral no segundo trimestre de 2017 foi acompanhada pela maioria dos ramos. Houve desaceleração ou aprofundamento das perdas em 54 dos 93 ramos, isto é, em 58% deles. Em 37 ramos a produção se acelerou e em 2 deles ficou em virtual estabilidade. Vale mencionar que dentre os 13 ramos com crescimento superior a 10% no primeiro semestre de 2017, houve perda de ritmo no segundo trimestre em 6 deles (46%).