Análise IEDI
De onde veio o crescimento?
A economia brasileira conseguiu, na margem, crescer pelo segundo trimestre consecutivo em 2017. Assim, poderia ser tomada como encerrada a recessão dos últimos anos, ao menos segundo a convenção dominante entre os economistas. Mas alguns aspectos precisam ser analisados com mais vagar.
Em primeiro lugar, nosso crescimento em 2017 se deveu sobretudo ao primeiro trimestre do ano (+1,0% ante 4º trim/16, com ajuste), calcado no excepcional desempenho da agropecuária. Isto é, foi muito concentrado em apenas um setor da economia. Em segundo lugar, o resultado de 0,2% que o IBGE acaba de divulgar para o segundo trimestre do ano na série com ajuste consiste praticamente em uma estabilidade.
Estabilidade, inclusive, é o que literalmente aponta o desempenho acumulado nos seis primeiros meses de 2017 conta igual período do ano anterior. Portanto, é melhor aguardar o que virá na segunda metade do ano antes de definitivamente sepultarmos a recessão.
Seja como for, há uma mudança importante nas fontes de dinamismo em relação ao início do ano que convém assinalar. No primeiro trimestre, como dito anteriormente, quem colocou a economia para girar foi a agropecuária, com uma alta de nada menos que 11,5% ante trimestre anterior, já descontados os efeitos sazonais, refletindo-se em uma alta considerável das exportações, como pode ser visto na relação abaixo dos desempenhos de segmentos selecionados:
• Agropecuária: +11,5% no 1º trim/17 e 0% no 2º trim/17, com ajuste sazonal;
• Comércio: -0,2% e +1,9%, respectivamente;
• Indústria de Transformação: +1,1% e +0,1%;
• Exportações: +5,2% e +0,5%;
• Consumo das famílias: 0% e +1,4%
• Formação Bruta de Capital Fixo: -0,9% e -0,7%, respectivamente.
Agora no segundo trimestre, o principal motor da economia coube à demanda interna, no caso, ao consumo das famílias – algo que já se ensaiava nos trimestres anteriores. A alta chegou a 1,4% ante o 1º trim/17 com ajuste, uma taxa que anualizada resultaria em aumento de mais de 5%. Nada mal, para quem não apresentava uma variação positiva desde o primeiro trimestre de 2015, portanto há nove trimestres.
Conjugado com o consumo das famílias, o comércio foi o componente do PIB pela ótica da oferta que apresentou o melhor resultado no trimestre (+1,9% na série com ajuste), seguido por outros segmentos de serviços. Pode-se afirmar, então, que foi o setor de serviços quem materializou a melhora do consumo entre os meses de abril e junho.
É importante destacar também que o setor externo continua contribuindo para o crescimento da economia, ainda que, na série com ajuste, as exportações tenham se desacelerado substancialmente do primeiro (+5,2%) para o segundo trimestre (+0,5%). Parte disso foi compensado pelo retorno ao negativo das importações (-3,5% ante 1º trim/17, com ajuste). Evidentemente, para uma economia da dimensão da brasileira, o setor exportador deveria ser mais diversificado e dinâmico do que tem se mostrado. Se fosse assim, nossa crise doméstica seria amenizada.
A razão para que o eixo do ainda incipiente e baixo crescimento do PIB brasileiro tenha migrado para o mercado doméstico por meio do consumo das famílias deve-se a um conjunto de fatores, dentre os quais destacam-se a recuperação do crédito às famílias e a liberação dos recursos do FGTS, que funcionaram como como um gasto autônomo a induzir o aumento do consumo. Mas, por permitir uma recomposição quase que instantânea do poder de compra das famílias, o fator decisivo foi a significativa desaceleração da inflação.
Algumas outras observações precisam ser feitas a respeito dos resultados do PIB hoje divulgados pelo IBGE. Do lado da oferta, chama atenção o retorno ao negativo da indústria (-0,5% ante 1º trim/17, com ajuste). Em suas Análises, o IEDI já vinha salientando o esmorecimento industrial do segundo trimestre, o que agora veio a ser confirmado.
Assim, a indústria de transformação reverteu a alta de 1,1% em janeiro-março em uma semiestagnação (+0,1%) em abril-junho. Mas foi a construção civil quem mais puxou o setor como um todo para baixo. A construção continua em crise aberta, caindo continuamente desde início de 2016. Sua retração foi de 2,0% no segundo trimestre de 2017, já descontados os efeitos sazonais.
Pela ótica da demanda, por sua vez, ficaram ainda mais negativos os resultados dos gastos do governo, mas é a permanência da formação bruta de capital fixo no terreno negativo que preocupa. Na série com ajuste, à exceção do segundo trimestre de 2016 (+0,4%), os investimentos declinam desde final de 2013.
Contudo, a trajetória recente acena com alguma luz no fim do túnel: a partir de julho-setembro do ano passado as quedas reais das inversões foram cada vez menores, chegando a -0,7% no segundo trimestre de 2017. Em consequência dessa fase de moderação das quedas, a taxa de investimento recua menos. Mesmo assim, saiu de 15,6% do PIB no primeiro trimestre para 15,5% do PIB no segundo trimestre do ano.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2017 atingiu os R$1,639 trilhão a preços correntes. O índice trimestral com ajuste sazonal assinalou alta de 0,2% frente ao trimestre imediatamente anterior. Frente ao mesmo trimestre de 2016, o PIB brasileiro registrou avanço de 0,3%. No acumulado do primeiro semestre do ano de 2017, o PIB ficou estável (0,0%), enquanto que no acumulado dos últimos 4 trimestres, a variação foi negativa em 1,4%.
Ótica da Oferta. Da ótica da oferta, na comparação do índice do 2º com o 1º trimestre de 2017, a Agropecuária registrou estabilidade (0,0%), a Indústria recuou 0,5% e os Serviços cresceram 0,6%.
Na Indústria, houve queda nas atividades de construção (-2,0%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-1,3%). A indústria extrativa mineral cresceu 0,4% e a indústria de transformação manteve-se praticamente estável (0,1%).
Nos Serviços, tiveram resultado positivo: comércio (1,9%), atividades imobiliárias e outros serviços (0,8%) e atividade de transporte, armazenagem e correio (0,6%). Registraram variações negativas os serviços de informação (2,0%), as atividades de administração, saúde e educação pública (-0,3%) e de intermediação financeira e seguros (-0,2%).
Frente ao mesmo trimestre de 2016, o resultado de +0,3% foi condicionado pelo resultado da Agropecuária, que cresceu 14,9%, enquanto a Indústria recuou 2,1% e Serviços variou -0,3%.
A queda de 2,1% da Indústria deveu-se ao recuo da indústria de transformação (-1,0%), construção (-7,0%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-0,5%). Já a extrativa mineral se expandiu em 5,9%.
O setor de Serviços teve variação negativa de 0,3%, com destaque para a queda de 2,5% dos serviços de informação, e de 2,1% de intermediação financeira e seguros, assim como as quedas das atividades de administração, saúde e educação pública (-1,3%) e transporte, armazenagem e correio (-0,5%).
No acumulado do primeiro semestre de 2017, o PIB apresentou estabilidade em relação a igual período de 2016. Nesta base de comparação, destaque para o desempenho positivo da Agropecuária (15,0%). Já a Indústria e os Serviços caíram, respectivamente, 1,6% e 1,0%.
Ótica da Demanda. O desempenho do segundo trimestre do PIB em 2017 em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado do Consumo das Famílias que apresentou expansão de 1,4%. Já o Consumo do Governo (-0,9%) e a Formação Bruta de Capital Fixo (-0,7%) registraram queda. No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços registraram variação positiva de 0,5%, enquanto que as Importações de Bens e Serviços caíram 3,5% em relação ao primeiro trimestre de 2017.
Na comparação com mesmo trimestre de 2016, a Despesa de Consumo das Famílias voltou a apresentar resultado positivo (+0,7%). A Formação Bruta de Capital Fixo sofreu contração de 6,5%, a 13ª consecutiva. A Despesa de Consumo do Governo, por sua vez, teve contração de 2,4%. No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços apresentaram crescimento de 2,5%, enquanto as Importações de Bens e Serviços sofreram contração de 3,3% no segundo trimestre de 2017.
Na análise da demanda interna do acumulado do primeiro semestre do ano, destaca-se a queda de 5,1% da Formação Bruta de Capital Fixo. A Despesa de Consumo das Famílias caiu 0,6%, enquanto a Despesa de Consumo do Governo recuou em 1,9%. No que se refere ao setor externo, as Importações de Bens e Serviços apresentaram uma expansão de 2,9%, enquanto as Exportações de Bens e Serviços cresceram 2,2%.