Análise IEDI
Panorama da economia global, segundo FMI e Banco Mundial
A Carta IEDI a ser divulgada hoje sintetiza o cenário da economia global para 2017 e 2018 realizado pelo FMI em seu Panorama da Economia Mundial (World Economic Outlook - WEO) de outubro último. O Fundo prevê um crescimento de 3,6% da economia mundial em 2017 frente ao percentual de 3,2% em 2016. Esta projeção é mais otimista que aquela apresentada nas edições anteriores do WEO (abril e julho do ano corrente) e aponta para a maior aceleração da atividade econômica desde a retomada após a crise financeira sistêmica e a grande recessão (2008-09).
Se concretizado, este será o melhor desempenho desde 2012 (+3,5%) e, segundo o FMI, a trajetória ascendente deve persistir em 2018, quando o crescimento previsto é de 3,7% (o mais elevado desde 2011). O quadro desenhado pelo Fundo, ao se confirmar, favorecerá as exportações líquidas da economia brasileira, que têm se mostrado uma das alavancas da recuperação em curso, mas ainda incipiente.
A título de comparação, no relatório do Banco Mundial, Perspectivas para a economia global (Global Economic Prospects), divulgado em junho, a projeção era de um crescimento mundial de 2,7%, ou seja, uma desaceleração de 0,5 p.p. frente ao ano anterior. Essas perspectivas divergentes das do FMI decorrem não somente das diferentes hipóteses e modelos utilizados pelas duas instituições multilaterais, mas também (e principalmente) da incorporação nas projeções do Fundo de novas informações sobre a atividade econômica global divulgadas após o fechamento do cenário do Banco Mundial.
Como detalhado em nossa Carta, a partir do segundo trimestre de 2017 tornaram-se disponíveis vários indicadores coincidentes e antecedentes sugerindo uma intensificação, na primeira metade de 2017, da recuperação cíclica da economia global, que se iniciou no segundo semestre de 2016.
A melhora do cenário econômico para 2017 decorreu do aumento da projeção de crescimento tanto para as economias avançadas como para as emergentes e em desenvolvimento. No primeiro caso, o percentual passou de 2,0% em abril e julho para 2,2% em outubro. Este ritmo, todavia, recuará para 2,0% em 2018.
No caso das economias emergentes e em desenvolvimento, o FMI também revisou para cima sua projeção para 2017, mas na passagem de abril para julho, de 4,5% para 4,6%, percentual que foi mantido no cenário de outubro. Para 2018, em contrapartida, a projeção aumentou 0,1 p.p, para 4,9% nesta última atualização do cenário.
Interessante notar que enquanto a saída da grande recessão, denominada de “recuperação em velocidade dupla” (double-speed recovery), foi liderada pelas economias emergentes e em desenvolvimento, a retomada em curso está sendo puxada pelas suas congêneres avançadas (+0,5 p.p em 2017 frente a 2016 contra +0,3 p.p. no outro grupo). Em 2018, contudo, as emergentes e em desenvolvimento assumem novamente a liderança nesse quesito.
No âmbito dos países avançados, os destaques são a aceleração do crescimento entre 2016 e 2017 nos Estados Unidos (de 1,5% para 2,2%), no Japão (de 1% para 1,5%) e na área do euro (de 1,8% para 2,1%). Neste último caso, o desempenho será superado somente pelo registrado nos Estados Unidos, ao contrário do padrão dos anos anteriores, quando o Reino Unido ou o Japão se alternaram na segunda posição.
Essa menor assimetria dentre as economias avançadas está associada, sobretudo, ao maior dinamismo da atividade econômica na região do euro, puxado pelo aumento das exportações num contexto de aceleração do comércio global e pela expansão mais robusta da demanda doméstica, favorecida pelas condições financeiras acomodatícias e pela redução dos riscos políticos.
Apesar da maior aceleração das economias avançadas, os países emergentes e em desenvolvimento continuarão sendo os principais responsáveis pelo crescimento global. Dentre elas, as regiões líderes em termos de ritmo de expansão continuarão sendo Ásia e Europa, com percentuais de, respectivamente, 6,5% e 4,5% em 2017.
Mesmo assim, a assimetria de desempenho entre as principais regiões do grupo de países emergentes e em desenvolvimento também será menor em 2017, devido à recuperação das duas regiões mais afetadas pela deflação dos preços das commodities no triênio anterior, quais sejam: a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e a América Latina e Caribe.
Para a Comunidade dos Estados Independentes, o ritmo estimado de expansão é de 2,1% tanto em 2017 como em 2018 contra 0,4% em 2016. Este desempenho será impulsionado pela economia russa. Para a América Latina e Caribe, por sua vez, após a recessão no biênio 2015-2016, espera-se um crescimento de 1,2% em 2017 e de 1,9% em 2018, também favorecido pela recuperação dos preços das commodities.
Contudo, no caso da América Latina e Caribe, essas taxas estimadas de crescimento continuam bem inferiores àquelas registradas entre 2010 e 2013 e são insuficientes para tirar a região da posição de “lanterninha” no grupo dos países emergentes e em desenvolvimento. Um dos principais responsáveis por isso é o desempenho da economia brasileira, cuja recessão em 2015-2016 deu lugar a um quadro de baixo crescimento em 2017, previsto em 0,7% pelo FMI.