Análise IEDI
Um trimestre melhor no crédito às empresas
O quadro do crédito, ainda que com certa lentidão, vem deixando de jogar contra a recuperação da economia. Os dados divulgados hoje pelo Banco Central trouxeram mais um capítulo dessa história. O total das concessões, que caíam em um ritmo de dois dígitos ao longo de 2016, completaram em setembro de 2017 o segundo trimestre seguido de alta: +4,5% frente a igual trimestre do ano anterior, já descontada a inflação medida pelo IPCA.
O fato mais importante, porém, é que as concessões às empresas não estão mais em franca rota descendente. As quedas mensais sucessivas deram lugar a alternância de resultados positivos e negativos na comparação interanual, de modo a amenizar a intensidade da crise neste segmento do crédito. Não é a melhor trajetória, mas já é algum avanço.
As variações interanuais abaixo ilustram essa evolução recente e, mais do que isso, mostram que a situação estaria melhor não fosse a drástica redução do crédito direcionado que permanece sendo um golpe duro para as empresas.
• Concessões totais: -0,5% no 1º trim/17; +1,6% no 2º trim/17 e +4,5% no 3º trim/17;
• Concessões totais às famílias: +7,0%; +8,4% e +9,5%, respectivamente;
• Concessões totais às empresas: -9,3%; -6,1% e -1,7%
• Concessões livres às empresas: -8,0%; -5,1% e +1,4%;
• Concessões direcionadas às empresas: -21,1%; -13,8% e -22,8%, respectivamente.
Enquanto as concessões do crédito direcionado às pessoas jurídicas caíram 22,8% no terceiro trimestre, em muito condicionadas pelo processo de desconstrução do BNDES, cujos financiamentos recuaram nada menos do que 32,0% em igual período, o crédito livre deu seu primeiro sinal positivo depois de muito tempo.
Em termos reais, as concessões livres às empresas voltaram a registrar variação positiva no terceiro trimestre de 2017, algo que não ocorria desde o primeiro trimestre de 2014. A alta foi de 1,4%, ante o mesmo período do ano passado, em nítido contraste com um patamar de queda que chegou a 14,0% no último trimestre de 2016.
Se no segmento corporativo só agora se ensaia uma recuperação, no segmento do crédito às famílias este processo mostra maior consistência. Nos dois últimos trimestres as concessões apresentam variações positivas, com direito a aceleração: +8,4% e +9,5%, ante igual período do ano anterior e já descontada a inflação.
Este é um desempenho resultante tanto daquelas operações cujas condições são livremente pactuadas entre as partes como daquelas com recursos direcionados. No terceiro trimestre de 2017, ambas atingiram um patamar considerável de crescimento: +9,3% e +11,7%, respectivamente.
A redução dos juros tem favorecido esse retorno do crédito às famílias, muito embora seus níveis continuem proibitivos. As taxas médias que vigoram no segmento do crédito livre, que melhor refletem as condições do mercado, recuaram 12 pontos percentuais entre o último trimestre de 2016 e o terceiro trimestre de 2017 em termos nominais, mas ainda assim encontravam-se no patamar de expressivos 62% ao ano.
Algo semelhante, mas em menor magnitude, vem marcando o trajeto dos juros dos empréstimos às empresas, que saíram de 29,4% ao ano no último trimestre de 2014 para 24,3% ao ano no terceiro trimestre de 2017.
Há uma possibilidade dessas reduções se acentuarem nos próximos meses, dado que a inadimplência média tem declinado em ritmo relativamente acelerado a partir de maio desde ano, especialmente no caso das empresas: de 4,1% para 3,3% em setembro de 2017. Para o crédito às famílias, o recuo foi de 4,1% para 3,9% no mesmo período.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central, indicam que o saldo das operações alcançou R$3.048 bilhões em setembro, com uma participação de 47,0% sobre o PIB (declínio de 3,2 p.p. frente a setembro do ano anterior).
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$1.530 bilhões, queda de -1,1% frente ao mesmo mês do ano anterior, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$828 bilhões, registrando, na mesma base de comparação, incremento nominal de 3,3%. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas permaneceu em R$702 bilhões, variação negativa de -5,9% também na comparação frente a agosto de 2016.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$1.518 bilhões em setembro, o que representa, em termos nominais, retração de 2,9% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$788 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, elevação de 6,3%, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$730 bilhões, recuo de 11,2%.
Em setembro, foram concedidos R$270,1 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 3,4% frente ao montante de R$261,1 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$243,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$26,6 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em um aumento de 4,6% para recursos livres e queda de 5,3% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$105,7 bilhões), cartão de crédito (R$79,9 bilhões), crédito não rotativo (R$31,8 bilhões) e cheque especial (R$23,1 bilhões). Já junto às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$23,1 bilhões), cheque especial (15,7 bilhões), conta garantida (R$15,7 bilhões) e capital de giro (R$12,0 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$7,3 bilhões), financiamento imobiliário (R$6,1 bilhões), BNDES (R$731 milhões) e microcrédito (R$729 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$6,3 bilhões) e BNDES (R$3,9 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$689,9 bilhões, o que representa uma retração nominal de 10,1% frente a setembro de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 12,3% na mesma comparação, com valor de R$371,5 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$689,6 bilhões, queda nominal de 7,3% em relação ao ano anterior, sendo que transportes e comércio tiveram as variações mais intensas, ambas de -11,3%. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$23,1 bilhões, valor 2,8% menor, em termos nominais, do que o registrado em setembro de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 27,0% a.a. em setembro, 6,1 p.p. inferior do que a registrada em igual mês do ano anterior. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 43,3% a.a. (recuo de 10,3 p.p. em relação ao mesmo mês de 2016), sendo de 59,2% para pessoas físicas e de 23,2% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,3% a.a. (diminuição de 1,7 p.p. na mesma base de comparação), sendo 9,3% para pessoas físicas e 10,7% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de setembro permaneceu estável frente ao mesmo mês do ano anterior, ficando em 3,6%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,4% e nas operações direcionadas manteve-se de 1,8%. A inadimplência de pessoas físicas em setembro foi de 3,9% e a de pessoas jurídicas de 3,3%.