Análise IEDI
Melhora desigual do crédito
Com o ano já em sua reta final, é possível afirmar que, se 2017 trouxe alguma melhora para o quadro do crédito, ela ficou praticamente restrita ao financiamento das famílias. As empresas continuaram enfrentando severas limitações na maior parte do ano.
Enquanto as concessões reais acumuladas de janeiro a outubro de 2017 já mostram sinal positivo no caso das operações com pessoas físicas (+8,9%), permanecem em retração no caso das empresas: -4,4% ante o mesmo período do ano anterior.
Mas a situação pode estar prestes a mudar. A partir do segundo semestre as concessões às empresas entraram em uma trajetória de alternância de resultados positivos e negativos. Agora em outubro, houve alta de 7,9% na comparação interanual, já descontada a inflação medida pelo IPCA. Assim, o trimestre móvel findo neste mês voltou ao terreno positivo (+2,8%) pela primeira vez desde o começo de 2014.
No caso dos novos créditos às famílias, o resultado foi de +14,3% frente a outubro de 2016, de modo a fazer com que as concessões totais chegassem a crescer 11,5%, seu melhor resultado em 2017 na comparação interanual.
Como só muito recentemente o fluxo de crédito corporativo dá sinais positivos, o estoque dessas operações continua em declínio não muito distinto daquele visto no ano passado. A queda real em 2017 até o mês de outubro ficou em 7,9%, enquanto a de 2016 como um todo havia atingido 8,9%.
Dentre as diferentes atividades econômicas, há quem tenha visto o crédito disponível encolher menos do que em 2016, mas em alguns casos 2017 não trouxe alívio nenhum. A seguir, as variações interanuais, já descontada a inflação, ilustram a disparidade da evolução dos estoques de crédito para diferentes setores.
• Total às empresas: -8,9% em 2016 e -7,9% em jan-out/2017;
• Agropecuária: -3,5% e -5,7%, respectivamente;
• Indústria total: -9,6% e -8,8%;
• Indústria de transformação: -12,4% e -10,7%;
• Indústria extrativista: -30,3% e -10,9%
• Indústria de construção: -9,7% e -14,7%
• Serviços totais: -7,7% e -6,9%;
• Transportes: -16,3% e -5,8%;
• Comércio: -9,9% e -13,7%, respectivamente.
Para a indústria e os serviços, os estoques de crédito caíram menos no presente ano, ainda que não seja pouca coisa aquilo que vem caindo. Em contraste, a agropecuária, que não tem sofrido uma crise creditícia tão intensa quanto os demais setores, passa por uma deterioração adicional em 2017.
Entretanto, nem todas as atividades industriais seguiram um caminho de moderação. Enquanto o crédito à indústria de transformação e ao setor extrativista registraram recuos menos intensos, o financiamento da construção teve uma piora substancial em janeiro-outubro de 2017 (-14,7% contra -9,7% em 2016).
No caso dos serviços, é especialmente o crédito ao comércio que foge à regra. O patamar de queda dos estoques de crédito ao comércio passou de 9,9% em 2016 para 13,7% no acumulado até outubro de 2017. Foram os transportes e os outros serviços que deixaram de estar sujeitos a restrições de financiamento tão agudas.
Cabe enfatizar, contudo, que a despeito da moderação da crise do crédito em alguns setores, as intensidades de contração ainda são expressivas, especialmente por estarem relacionadas a medidas de estoques, que tendem a ser mais estáveis do que os fluxos de novos créditos.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central, indicam que o saldo das operações alcançou R$3.052 bilhões em outubro, com uma participação de 46,9% sobre o PIB (declínio de 3,0 p.p. frente a outubro do ano anterior).
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$1.537 bilhões. Assim, houve queda de -0,4% frente ao mesmo mês do ano anterior, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$837 bilhões registrando, na mesma base de comparação, incremento nominal de 4,3%. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas apresentou queda de 5,5%, também na comparação com o mesmo período de 2016, ficando em R$700 bilhões.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$1.515 bilhões em outubro, o que representa, em termos nominais, retração de 2,3% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$790 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, elevação de 7,2%, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$726 bilhões, recuo de 10,9%.
Em outubro, foram concedidos R$286,5 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 11,7% frente ao montante de R$256,5 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$259,2 bilhões foram originados de recursos livres e R$27,2 bilhões de recursos direcionados, implicando, na mesma base de comparação, em um aumento de 12,0% para recursos livres e queda de 8,8% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$114,8 bilhões), cartão de crédito (R$86,6 bilhões), crédito não rotativo (R$34,8 bilhões) e cheque especial (R$31,6 bilhões). Já junto às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$22,6 bilhões), cheque especial (R$16,8 bilhões), conta garantida (R$16,1 bilhões) e capital de giro (R$12,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$7,3 bilhões), financiamento imobiliário (R$6,2 bilhões), BNDES (R$1,1 bilhão) e microcrédito (R$796 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$5,8 bilhões) e BNDES (R$3,9 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para a indústria alcançou R$683,2 bilhões, o que representa uma retração nominal de 10,2% frente a outubro de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 12,7% na mesma comparação, atingindo o valor de R$367,3 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$689,3 bilhões, queda nominal de 6,5% em relação ao ano anterior, sendo que comércio e transportes tiveram as variações mais intensas de -11,9% e -11,4%, respectivamente. Por fim, o setor agropecuário respondeu por R$22,8 bilhões, valor 3,3% menor, em termos nominais, do que o registrado em outubro de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 27,4% a.a. em outubro, 6,0 p.p. inferior do que a registrada em igual mês do ano anterior. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 43,6% a.a. (recuo de 19,6 p.p. em relação ao mesmo mês de 2016), sendo de 59,5% para pessoas físicas e de 23,3% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,8% a.a. (diminuição de 1,1 p.p. na mesma base de comparação), sendo 8,5% para pessoas físicas e 11,7% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de outubro permaneceu estável frente ao mesmo mês do ano anterior, ficando em 3,6%. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência registrada foi de 5,4% e nas operações direcionadas manteve-se de 1,8%. A inadimplência de pessoas físicas em setembro foi de 3,9% e a de pessoas jurídicas de 3,4%.