Análise IEDI
Mensagens divergentes
A indústria brasileira, em outubro, flertou com a estabilidade, como vimos no início desta semana. Seu dinamismo foi capaz de gerar uma alta de apenas +0,2% na série com ajuste sazonal. Mas há duas outras mensagens subjacentes a este resultado, uma positiva e outra negativa, que merecem ser destacadas.
A mensagem positiva veio da disseminação setorial do crescimento. Dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE, 15 deles apresentaram aumento de produção na passagem de setembro para outubro, já descontados os efeitos sazonais. A mensagem negativa, por sua vez, diz respeito à distribuição regional desse dinamismo. Os dados divulgados hoje mostram que a minoria das localidades conseguiu evitar perdas em outubro: só 6 das 14 acompanhadas.
Entre aqueles com declínio de produção, encontram-se parques importantes para a indústria nacional, como São Paulo (-1,2%), Minas Gerais (-1,2%) e Rio Grande do Sul (-0,6%). A região Nordeste como um todo também ficou no vermelho (-0,6%), devido a recuos acentuados tanto na Bahia (-7,0%) como em Pernambuco (-2,1%).
Deste modo, o mês de outubro significou mais um capítulo de nossa frágil recuperação industrial. Vale enfatizar que, no segundo semestre de 2017, toda vez que o setor registrou uma variação positiva, ficou muito próximo de zero. Regionalmente, esse comportamento foi derivado ora de trajetórias oscilantes – como em São Paulo, Amazonas, Paraná, Pará e Espírito Santo – ora de deteriorações evidentes, vindas desde o início deste segundo semestre, como em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, ou mais recentemente, como no caso do Nordeste.
Um exercício que mostra o significado dessa segunda metade de 2017 é, a partir dos dados livres de sazonalidade, identificar qual foi o avanço do nível de produção em relação ao final do ano passado (dez/16) depois de iniciada reação industrial. Percebe-se que, para o total Brasil, a melhora ocorreu mesmo na primeira metade do ano: +1,4% na comparação jun17/dez16. O avanço adicional nos meses seguintes foi muito menor, fazendo com que o nível de produção em out/17 fosse 1,9% superior àquele de dez/16.
Um comportamento semelhante também se verificou em São Paulo, como pode ser visto abaixo. No caso da indústria paulista, contudo, a contribuição do segundo semestre, até outubro pelo menos, foi praticamente nula. Ou seja, o nível de produção em junho estava 6% acima daquele de dez/16, mas em outubro tornou-se apenas 6,1% superior à de dezembro.
• Brasil: +1,4% para jun17/dez16 e +1,9% para out17/dez16;
• São Paulo: +6,0% e +6,1%, respectivamente;
• Minas Gerais: +0,8% e -3,0%;
• Nordeste: -2,0% e -1,1%;
• Rio Grande do Sul: -2,5% e -6,7%
• Amazonas: +4,7% e +8,8%;
• Santa Catarina: +1,9% e +5,0%, respectivamente.
O panorama das demais localidades aponta para situações bastante contrastantes. Em alguns casos, a melhora do primeiro semestre foi perdida nos meses seguintes, como em Minas Gerais, em outros, como no Rio Grande do Sul, o que já não era bom ficou ainda pior na segunda metade do ano.
O Nordeste manteve-se em um nível de produção abaixo daquele de dez/16, mas ao menos a virada de semestre permitiu algum arrefecimento das perdas: a queda de 2,0% em jun17/dez16 refluiu para 1,1% em out17/dez16.
Nas demais localidades, porém, a segunda metade de 2017 até outubro deu um impulso adicional à recuperação de suas industrias, especialmente em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Goiás e Amazonas.
Na passagem de agosto para setembro, a partir de dados dessazonalizados, a produção industrial brasileira apresentou crescimento de 0,2%. Dentre os 14 locais pesquisados, seis registraram expansão, sendo a mais intensa no estado do Rio de Janeiro (8,7%), seguido pelos estados de Goiás (2,1%), Pará (2,0%), São Paulo (1,3%), Paraná (0,2%) e Santa Catarina (0,2%). Em sentido contrário, entre os locais que apresentaram variações negativas destacam-se: Espírito Santo (-3,0%), Pernambuco (-2,5%), Região Nordeste (-2,0%), Ceará (-1,1%), Amazonas (-1,1%), Bahia (-1,1%), Rio Grande do Sul (-1,0%) e Minas Gerais (-0,4%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior, houve elevação de 2,6% da indústria nacional, com 10 dos 15 locais pesquisados registrando oscilações no mesmo sentido. O principal aumento foi verificado no estado do Pará (13,2%), seguido pelos estados do Rio de Janeiro (11,3%), Paraná (8,9%), Goiás (7,3%), Amazonas (6,8%), São Paulo (5,0%), Bahia (4,7%), Mato Grosso (4,5%) e Ceará (3,3%). Dentre as regiões que apresentaram quedas, as mais relevantes foram as observadas nos estados do Espírito Santo (-2,7%), Região Nordeste (-1,3%) e Minas Gerais (-0,8%).
O período de janeiro a setembro de 2017, em comparação a igual período do ano anterior, apresentou crescimento de 1,6% em termos nacionais, com expansão na produção de 12 das 15 regiões pesquisadas. O principal avanço ocorreu no estado do Pará (9,8%), seguido pelos estados do Paraná (5,1%), Santa Catarina (3,6%), Espírito Santo (3,0%), Rio de Janeiro (2,8%), Amazonas (2,5%), Goiás (2,4%), Mato Grosso (2,1%), São Paulo (2,0%), Ceará (1,6%), Minas Gerais (1,6%) e Rio Grande do Sul (0,9%). Em sentido oposto, as regiões que tiveram retrações em igual base de comparação foram: Bahia (-2,9%), Pernambuco (-0,1) e a Região Nordeste (-0,9%).
No acumulado em 12 meses a indústria brasileira apresentou crescimento (0,4%), marcando o primeiro resultado positivo desde maio de 2014 (0,3%), com 10 das 15 regiões pesquisadas variando na mesma direção. Os resultados positivos de maior intensidade foram observados nas seguintes regiões: Pará (9,2%), Paraná (4,6%), Rio de Janeiro (2,9%), Santa Catarina (2,5%), Amazonas (1,6%), São Paulo (0,9%) e Ceará (0,5%). Em sentido oposto, os estados do Bahia (-4,1%), Região Nordeste (-1,1%), Goiás (-0,5%), Mato Grosso (-0,3%) e Pernambuco (-0,1%), apresentaram quedas.
São Paulo. Na comparação com o mês de agosto, a produção da indústria paulista apresentou expansão de 1,3%, a partir de dados dessazonalizados. Frente a setembro de 2016, houve aumento de 5,0%, quinta taxa positiva consecutiva para essa comparação e a mais intensa desde junho de 2013 (7,8%). O resultado se deveu ao incremento na produção de 11 das 18 atividades pesquisadas. O setor com resultado positivo mais expressivo foi o de produtos alimentícios (11,4%), puxado principalmente pela maior produção de açúcar cristal e VHP e sucos concentrados de laranja. Outras atividades com oscilações positivas importantes foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (15,5%), cujas principais influências couberam ao aumento na produção de automóveis e caminhão-trator para reboques e semirreboques; e máquinas e equipamentos (10,6%), devido ao aumento de pelo aumento na produção de rolamentos de esferas, agulhas, cilindros ou roletes, carregadoras-transportadoras, partes e peças para máquinas para colheita e motoniveladores. Por outro lado, os impactos negativos mais relevantes vieram dos produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-15,8%) pressionado, sobretudo, pela menor produção de medicamentos; e pela queda na produção de outros equipamentos de transportes (-21,3%), pressionado pela menor produção de aviões,
Rio Grande do Sul. Frente a agosto, a produção industrial gaúcha recuou 1,0%, para dados dessazonalizados, quarta taxa negativa consecutiva para essa comparação. Na comparação com setembro de 2016, houve queda de 5,0%, com nove das 14 atividades pesquisadas apresentando retração, sendo as principais: celulose, papel e produtos de papel (-47,2%), impulsionado pela queda da fabricação de pastas químicas de madeira (celulose); produtos alimentícios (-6,7%), por conta da menor produção de óleo de soja em bruto, tortas, bagaços, farelos e outros resíduos da extração do óleo de soja e queijos e de artefatos de couro; artigos para viagem e calçados (-8,4%), devido à redução da produção de calçados femininos de couro, tênis de material têxtil e couros e peles de bovinos e equídeos. Por outro lado, o setor com a maior variação positiva foi o setor de produtos de fumo (84,7%), impulsionado, em grande medida, pela maior fabricação de fumo processado industrialmente e cigarros.