Análise IEDI
2017: Indústria em alta também nas exportações e importações
A Carta IEDI a ser divulgada amanhã analisa o comércio exterior brasileiro em 2017, cujo superávit atingiu patamares históricos, com ênfase no desempenho da indústria de transformação. Para isso, o IEDI recorreu à metodologia desenvolvida pela OCDE que classifica o setor em quatro faixas por intensidade tecnológica (alta, média-alta, média-baixa e baixa).
O saldo positivo de US$ 67,0 bilhões da balança comercial do país no ano passado foi o mais elevado desde 1989, devido a uma conjunção excepcional de fatores tais como a aceleração do comércio internacional, uma recomposição dos preços de commodities, a super safra agrícola, bem como a própria maturação da crise, que empurrou muitas empresas para o mercado exterior.
O avanço das exportações totais entre 2016 e 2017 foi substancial e à frente daquele das importações. As vendas externas do País aumentaram de US$ 185,2 bilhões para US$ 217,7 bilhões, uma forte recuperação frente à queda de 2016, mas ainda abaixo dos patamares de 2011-2014. As importações cresceram de US$ 137,5 bilhões para US$ 150,7 bilhões no mesmo período.
O saldo comercial da indústria de transformação, a seu turno, encerrou 2017 deficitário, porém em patamares muito baixos, ainda que o crescimento de suas importações, devido à reação da produção industrial, tenha implicado um saldo negativo um pouco mais elevado do que em 2016. Foram US$ 3,2 bilhões de déficit em 2017 contra US$ 2,4 bilhões no ano anterior.
Déficits muito pequenos na indústria tem sido um dos determinantes da melhora do comércio exterior brasileiro ao longo da crise recente, especialmente no último biênio. O retorno ao positivo das importações de manufaturados em 2017, depois de três anos em retração, sugere que em 2018 a engrenagem externa da indústria pode vir a girar no sentido oposto, levando a uma deterioração do superávit total. Este sinal é forçado por um ritmo de aumento das importações de manufaturados no último trimestre de 2017 muito a frente as exportações.
As compras externas de produtos manufaturados em 2017, que totalizaram US$ 136,2 bilhões, apesar de terem ficado abaixo daquelas do período 2010-2015, trouxeram um aumento de 9,7% frente a 2016. Mais do que isso, tampouco não deram sinal de perda de dinamismo no final do ano. Em cada um dos quatro trimestres de 2017, seu ritmo de expansão foi de +13,2%, +2,4%, +9,0% e +14,5%, na comparação interanual.
As exportações da indústria de transformações, por sua vez, atingiram US$ 133,0 bilhões no ano passado, isto é, 9,2% superior às de 2016. Ao longo de todo o ano seu ritmo de crescimento foi considerável, mas o último trimestre do ano veio sinalizando uma certa desaceleração. A alta das exportações de manufaturados nos quatro trimestres de 2017, frente ao mesmo período do ano passado, foi de: +12,4%, +9,0%, +9,4% e +6,6%.
Quando analisado em função da intensidade tecnológica, o comércio exterior da indústria de transformação em 2017 foi marcado, em linhas gerais, por alta das exportações em todas as faixas, implicando melhora no saldo em quase todos os casos, exceto para a indústria de média-baixa tecnologia, negativamente impactada pela ampliação do déficit em derivados de petróleo. As importações também cresceram de modo generalizado, sendo a única exceção a alta tecnologia cujas compras externas ficaram virtualmente estagnadas.
Abaixo, o quadro em cada faixa é apresentado com mais detalhes.
• A indústria de alta intensidade tecnológica experimentou o menor déficit (US$ 17,9 bilhões) anual desde 2007. Suas exportações cresceram 1,4%, completando três anos seguidos de alta. Houve aumento nas vendas externas de todos os seus setores, à exceção da indústria aeronáutica (-0,6%). As importações desta faixa fecharam 2017 no negativo (-0,3%), puxada por produtos do setor aeronáutico (-54,5%) e farmacêutico (-1,0%).
• A faixa de média-alta intensidade encerrou 2017 com déficit de US$ 26,3 bilhões, porém menor do que em 2016. Suas exportações cresceram 20,8%, com destaque positivo para os produtos do setor automotivo (+30,6%). O único ramo pertencente a esta faixa a ter queda nas exportações foi o de equipamentos para ferrovia e material de transporte. Quanto às importações, que aumentaram 6,2% frente a 2016, as maiores influências couberam a produtos químicos, exceto farmacêuticos (+11,7%) e veículos (+12,1%).
• Já a indústria de média-baixa intensidade tecnológica foi a única faixa a ter piora de saldo: de US$ 6,0 bilhões em 2016 para US$ 858 milhões em 2017. Concorreu para isso a ampliação do déficit de produtos derivados do petróleo refinado, álcool e outros combustíveis, sob forte influência da elevação de seus preços internacionais. As exportações dessa faixa aumentaram 4,0%, devido principalmente ao desempenho de produtos metálicos (+17,2%), e suas importações ficaram 28,4% maiores, puxadas por carvão e derivados de petróleo (+59,1%).
• Quanto à indústria de baixa intensidade tecnológica, seu superávit atingiu US$ 40,1 bilhões em 2017, puxado por uma elevação de 6,6% de suas exportações. Este desempenho de suas vendas externas decorreu do aumento de 12,4% dos produtos exportados por madeira, papel e celulose (+12,4%) e por alimentos, bebidas e tabaco (+6,1%). As importações da baixa tecnologia subiram bem mais intensamente que suas exportações: +15,9%, sob influência tanto do ramo alimentício (+15,4%) como de têxteis, couros e calçados (+19,8%).