Análise IEDI
À espera de uma reação mais consistente
Diferentemente do que ocorreu na indústria, dezembro passado não foi um bom mês para o comércio varejista, cujas vendas reais, já descontados os efeitos sazonais, declinaram 1,5% frente a novembro. Este, que foi o pior resultado de 2017 nesta comparação, decorreu ainda de quedas na maioria dos segmentos do setor (6 dos 8 acompanhados). Consideradas as vendas de automóveis e material de construção, o quadro não foi muito melhor: retração de 0,8%.
Visto pelo resultado mais de curto prazo, isto é, pelas variações com ajuste sazonal, o desempenho do varejo tem mostrado fraquezas desde meados de 2017, o que sugere que, a despeito da melhora do poder aquisitivo da população com a queda da inflação e do retorno do crédito a juros cadentes para as famílias, ainda falta mais consistência à reação do setor. Maior progresso na recuperação do emprego é um dos fatores positivos ainda ausentes.
São sinais de fraqueza a alternância de variações positivas e negativas, na série com ajuste sazonal, desde julho do ano passado no varejo restrito, período em que as quedas predominaram. O nível de vendas em dezembro era 1,3% menor do que o de junho. No caso do varejo ampliado, uma trajetória de 6 meses seguidos sem decréscimos (de abr/17 a set/17) deu lugar a uma acentuada oscilação no último trimestre do ano, cujo significado final foi de estabilidade.
De todo modo, a despeito dessas observações que sugerem cautela à evolução recente do comércio varejista, bases muito baixas de comparação garantiram que o setor concluísse 2017 com um retorno ao azul. No acumulado do ano a alta das vendas reais chegou a 2,0% no varejo restrito e a 4,0% no varejo ampliado. Além dos segmentos de automóveis e de material de construção, outros 5 dos 8 segmentos que compõem o varejo restrito conseguiram crescer no ano passado.
Entre as melhores performances no ano, encontram-se alguns dos segmentos que mais sofreram ao longo da crise por serem bens duráveis ou semi duráveis, cujo consumo funciona como válvula de ajuste em períodos de restrição do orçamento das famílias e de piora da confiança dos consumidores. Conseguiram reagir em 2017 as vendas de móveis e eletrodomésticos (+9,5%), devido a estes últimos (+10,2%), material de construção (+9,2%) e tecidos, vestuário e calçados (+7,6%). Veículos, motos e autopeças também cresceram, mas em ritmo mais modesto (+2,7%).
Na comparação interanual, o quarto trimestre de 2017 conseguiu ser melhor do que o desempenho agregado dos 12 meses do ano, em boa medida porque nos primeiros três meses do ano as vendas ainda declinavam. Vale observar, contudo, que o quarto trimestre também na comparação com o mesmo período do ano anterior foi acompanhado de certa desaceleração frente ao resultado do terceiro trimestre, ao menos nas vendas do varejo restrito (+4,3% contra +3,9%, respectivamente).
As variações interanuais abaixo mostram o comportamento para as vendas reais do varejo restrito e ampliado, bem como de alguns de seus segmentos para jan-dez/2017 e out-dez/2017.
• Varejo Restrito: +2,0% no acumulado de 2017 e +3,9% no 4º trim./2017;
• Supermercados, alimentos, bebida e fumo: +1,4% e +3,9%, respectivamente;
• Tecidos, vestuário e calçados: +7,6% e +7,0%;
• Móveis e Eletrodomésticos: +9,5% e +11,2%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: +2,1% e +3,0%
• Varejo Ampliado: +6,4% e +7,5%;
• Veículos, motos e autopeças: +2,7% e +9,5%;
• Material de construção: +9,2% e +14,0%, respectivamente.
Ao todo, 4 dos 8 segmentos do varejo restrito tiveram um final de 2017 crescendo mais do que no ano como um todo: hipermercados, alimentos, bebidas e fumo; móveis e eletrodomésticos; artigos farmacêuticos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos e outros artigos de uso pessoal. Este também foi o caso das vendas de automóveis e autopeças e material de construção.
Estre os segmentos que seguiram em direção oposta, dois sequer conseguiram evitar a região negativa em 2017, isto é, já não estavam bem e deram sinal de piorar na passagem do ano. São os casos de livros, jornais, revistas e papelaria (-4,2% e -5,6%) e de equipamentos e material de escritório, informática e comunicação (-3,2% e -8,4%). Tecidos, vestuário e calçados, por sua vez, também apresentaram perda de tração nos últimos meses, mas ainda avançam em ritmo razoável: +7,6% em 2017 e +7,0% no 4º trim./2017.
Por fim, as vendas reais de combustíveis e lubrificantes, que não evitaram mais um ano de declínio, ao menos terminaram 2017 sem um aprofundamento de sua crise. No acumulado de janeiro-dezembro o resultado foi de -3,3% e nos últimos três meses do ano, de -3,6%.
De acordo com dados de dezembro de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, apresentou retração de -1,5%. Na comparação com dezembro do ano passado e no acumulado do ano houve aumento de 3,0% e 2,0%, respectivamente.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou retração de -0,8% em relação a novembro, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com dezembro de 2016, houve elevação de 6,4%. No acumulado do ano a variação foi de 4,0%.
A partir de dados dessazonalizados, verificou-se resultados positivos em duas das oito atividades que compõem o varejo na comparação frente ao mês de novembro, as variações foram as seguintes: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,2%) e tecidos, vestiários e calçados (0,5%). Por outro lado, as variações negativas ficaram por conta de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-6,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-4,0%), Hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (-3,0%), móveis e eletrodomésticos (-2,7%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-1,9%) e combustíveis e lubrificantes (-1,0%). Em relação ao comércio varejista ampliado, houve retração de -0,8%, em função da queda de vendas para material de construção (-1,7%) e veículos, motos, partes e peças (-0,1%).
Em relação ao mês de dezembro de 2016, quatro das oito atividades obtiveram variações positivas nas vendas, as variações foram as seguintes: móveis e eletrodomésticos (8,2%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (7,1%), tecidos, vestuário e calçados (7,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,5%). Os setores que apresentaram retração foram: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-18,2%), livros, jornais, revistas e papelaria (-9,7%), combustíveis e lubrificantes (-7,2%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,6%). No comércio varejista ampliado, houve incrementos de 9,1% em material de construção e 6,4% em veículos, motos partes e peças.
No acumulado do ano e no acumulado de 12 meses, foram observadas variações positivas em móveis e eletrodomésticos (9,5%); tecidos, vestuário e calçados (7,6%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (2,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,1%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%). Os demais setores tiveram contrações, sendo as mais intensas em livros, jornais, revistas e papelaria (-4,2%), combustíveis e lubrificantes (-3,3%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-3,1%). No comércio varejista ampliado, materiais de construção apresentou a expansão de 9,2%, seguida por veículos, motos, partes e peças com crescimento de 2,7%.
Em relação a dezembro de 2016, 17 das 27 unidades federativas tiveram aumento do volume comércio, destacando-se Rio Grande do Sul (14,6%), Mato Grasso (13,4%) e Rondônia (12,2%). As unidades federativas que apresentaram recuo nas vendas foram: Roraima (-10,8), Amapá (-9,7%), Goiás (-8,0%) e Distrito Federal (-6,6%).