Análise IEDI
A espera da reação do crédito corporativo
No processo que levou ao crescimento do PIB brasileiro após três anos de recessão, o setor externo ajudou muito, inclusive a indústria, na esteira do aumento das exportações do ramo automobilístico. Nosso mercado interno, contudo, não ficou parado, por mais que tenha muito a avançar.
O crédito desempenhou um papel importante para essa fase em que se aglutinam sinais de reação do mercado doméstico. Isso porque é próprio do crédito potencializar os movimentos favoráveis à recuperação. Em 2017, as concessões acumuladas no ano aumentaram 4,0%, já descontada a inflação medida pelo IPCA, compensando só parcialmente o forte declínio de 12% no ano anterior.
Mas o avanço dos empréstimos não foi generalizado. Ficou praticamente restrito às operações concedidas às famílias, que expandiram 8,6%. Já para as empresas, a situação continuou complicada em 2017: -1,5%, em termos reais. Neste último caso, resultados positivos só se sustentaram na comparação interanual no último trimestre do ano passado e agora em janeiro de 2018.
A evolução do financiamento das famílias, juntamente com o recuo da inflação, reforçou o poder de compra da população e impulsionou o consumo. É importante que se diga, contudo, que esse efeito foi em boa medida alavancado por fatores exógenos à dinâmica do mercado de crédito e das relações bancos / empresas ou famílias, como a liberação dos recursos do FGTS e do PIS-Pasep, que ajudou as famílias a continuar liquidando dívidas antigas mais caras ou em atraso.
Outro fator de grande relevância foi a decisão do Banco Central em reduzir os juros básicos (Selic) atrás da inflação cadente condicionada pela supersafra agrícola. Como já observamos em outras Análises, os juros dos empréstimos acompanharam moderadamente essa tendência de baixa dos juros básicos. De todo modo, o comprometimento da renda das famílias com serviço de suas dívidas (juros e amortizações), exceto financiamento habitacional, arrefeceu de 19,1% para 17,4% entre dez/16 e dez/17.
Se os credores tivessem acompanhado mais de perto o corte da taxa Selic, não só as condições de financiamento das famílias teriam melhorado ainda mais, como a restrição de crédito pela qual as empresas passam já poderia ter se revertido há algum tempo. Com isso, o mercado de crédito caminharia melhor com suas próprias pernas, dando ensejo a movimentos endógenos positivos. É isso que se espera de 2018, além de que as empresas tenham seu acesso a financiamentos normalizado.
Neste sentido, o que estariam indicando os resultados do primeiro mês do ano? Infelizmente a resposta a essa questão não é das melhores, ao menos para as informações de mais curto prazo. As concessões totais cresceram em termos reais 1,5% em jan/18 frente a dez/17, segundo os dados dessazonalizados pelo BC, mas aquelas contratadas pelas empresas voltaram ao negativo (-2,3%) depois de três meses seguidos de expansão, como mostram os dados abaixo.
• Concessões reais total: +1,2% em out/17; +2,7% em nov/17; +0,4% em dez/17 e +1,5% em jan/18;
• Concessões reais às empresas: +1,5%; +1,8%; +3,9% e -2,3%;
• Concessões reais às famílias: +1,7%; +2,7%; -1,5% e +3,7%, respectivamente.
Considerados os empréstimos livremente pactuados entre tomadores e credores, o desempenho do crédito corporativo em janeiro deste ano frente a dezembro do ano passado foi ainda mais negativo: -4,1%, já descontados os efeitos sazonais. Além disso, juros médios e spreads cobrados das empresas, que haviam declinado mais acentuadamente em dezembro último, voltaram a subir. Em termos nominais os juros médios foram de 21,6% a.a. para 22,3% a.a. e os spreads de 13,7% para 14,7% neste período.
Para as famílias, ainda que as concessões tenham mais do que compensado a queda de dezembro (inclusive no crédito livre), também houve indicativos de curto prazo na direção de maiores juros (de 55,1% a.a. para 55,8% a.a.) e spreads (de 46,2% para 47,2%) na passagem de dezembro de 2017 para janeiro de 2018.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central mostram que o saldo das operações alcançou R$ 3.066 bilhões em janeiro, o que representa participação de 46,6% sobre o PIB, comparativamente a 48,8% em janeiro de 2017.
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.568 bilhões, queda de -1,0% em relação ao mês anterior e aumento de 2,3% em doze meses, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 857,7 bilhões, variação positiva de 5,9% na mesma comparação com o mês de janeiro de 2017. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas apresentou queda de -1,9%, também na comparação com o mesmo período de 2017, ficando em R$ 710,4 bilhões.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$ 1.498 bilhões em janeiro, em termos nominais, retração de -2,8% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 800 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, aumento de 5,7% enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 698 bilhões, redução de -11,1%.
Em janeiro, foram concedidos R$ 276,3 bilhões em novas operações de crédito, variação positiva de 10,4% frente ao montante de R$ 250,2 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$ 258,3 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 18,1 bilhões de recursos direcionados, sugerindo, na mesma base de comparação, aumento de 12,0% para recursos livres e redução de -8,1% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 118,1 bilhões), cartão de crédito (R$ 90,3 bilhões), crédito não rotativo (R$ 36,1 bilhões) e cheque especial (R$ 30,9 bilhões). No que se refere às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$ 19,8 bilhões), capital de giro (R$ 11,1 bilhões), cheque especial (R$ 17,8 bilhões) e conta garantida (R$ 17,3 bilhões)
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 6,0 bilhões), crédito rural (R$ 4,0 Bilhões), BNDES (R$ 608 milhões) e microcrédito (R$ 824 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$2,7 bilhões) e Crédito Rural (R$ 2,5 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para a indústria atingiu R$ 660,8 bilhões, o que significa uma queda nominal de -9,8% frente a janeiro de 2017. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de -10,5% na mesma comparação, atingindo o valor de R$ 356,8 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 698,2 bilhões, redução nominal de -3,3% em relação ao ano anterior, com destaque para as variações de comércio (-9,8%) e transporte (-4,6%). Por fim, o setor agropecuário apresentou crédito de R$ 21,9 bilhões, valor 6,6% menor, em termos nominais, do que o registrado em janeiro do ano passado.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 26,3% a.a. em janeiro, -0,7 p.p. no mês e -6,6 p.p. em doze meses. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 41,1% a.a. (-11,7 p.p. em relação ao mesmo mês do ano anterior), sendo de 32,3% para pessoas físicas e de 17,6% para pessoas jurídicas no total de concessão de crédito. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,5% a.a. (diminuição de 0,4 p.p. em relação ao mês anterior), ficando para 8,2% pessoas físicas e 11,7% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de janeiro foi de 3,4%, variação de -8,1% quando comparada ao mês de janeiro de 2017. A inadimplência de pessoas físicas em janeiro foi de 3,7% e a de pessoas jurídicas de 3,0%.